O ano de 2022 deverá registrar um recorde em termos de número de fusões e aquisições. A avaliação é do sócio-fundador da Fortezza Partners, Denis Morante. Ele avalia o atual cenário de juros altos não afeta essas operações. “O Brasil já conviveu com a Selic em níveis muito mais elevados e o mercado seguiu”, afirma.
Confira esta entrevista ao Monitor do Mercado:
Monitor do Mercado (MM) – As fusões e aquisições bateram recorde no primeiro semestre. Foram 1.014 operações ante 804 no mesmo período de 2021, quando o total, no ano, foi de 1.963 registros, segundo a KPMG, sendo que os dados de outra consultoria, a PwC, vão na mesma linha, 807 transações contra 706. Qual o número total que vocês esperam para o ano?
Denis Morante (DM) – O que é importante, aqui, é a tendência, independentemente de qual a base de referência. E ela é claramente positiva, com uma leve aceleração em 2022, antes um crescimento bastante expressivo em 2021,na comparação com 2020. Trabalhamos com a base da KPMG e a previsão para o ano é de um avanço de 24% em relação a 2021, totalizando pouco mais de 2 mil fusões e aquisições. No ano passado, tomando-se como base também os números da KPMG, o aumento foi de 80%.
MM – O cenário de juros altos tanto interna quanto externamente tende a atrapalhar esse movimento?
DM – Não ajuda, mas, no caso do Brasil, não atrapalha significativamente. Nosso País já teve taxas muito mais elevadas que os atuais 13,75% ao ano e esse mercado sempre existiu. É evidente que, quando os juros caem, mais dinheiro acaba migrando para equity em busca de retorno, como ocorreu nos últimos anos. Mas esse é um cenário que afeta com mais força as aberturas de capital (IPOs). Basta lembrar que em 2022 não tivemos sequer uma operação até agora. As operações de M&A são de longo prazo. Uma empresa que se planeja para crescer e, para isso, tem uma fusão ou aquisição no radar, fará isso, seja via IPO ou private equity. Em algum lugar, irá encontrar recursos.
MM – Quais os setores que deverão ser os mais impactados em termos de número de operações neste segundo semestre?
DM – Estamos olhando para os mesmos setores que a maioria do mercado: empresas de tecnologia, saúde, varejo/consumo e agronegócio. A saúde é, definitivamente, um dos destaques, um setor muito aquecido. O País ainda tem muito espaço para se consolidar nesse segmento. Já o varejo é mais afetado pelos juros e pela inflação, que vem registrando sucessivas quedas, o que, por sua vez, deverá, em algum momento, levar a uma queda da Selic, estimulando o consumo. No agro, entendo que, mesmo o real se apreciando ante o dólar, temos uma perspectiva de uma safra excelente de grãos, o que compensa as eventuais perdas no câmbio. Por fim, o segmento de tecnologia vem em um movimento que não deve cessar tão cedo. Hoje em dia, a tecnologia está em tudo. E grandes players, como TOTVS, Stefanini e Sinqia (ex-Sênior Solution) sempre mostraram apetite por operações de M&A.
MM – Qual o impacto que a transição governamental pode ter nesse processo? Os investidores estão esperando o desenrolar da eleição para ter mais clareza? Isso estaria represando eventuais negócios?
DM – Como já mencionei, as operações de M&A são, por definição, de longo prazo. O mercado não espera, continua avançando. Entendo que o maior fator de risco para 2022 é o desenrolar da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Imagem: Marcello Casal Jr / Agência Brasil