O setor de varejo encerrou 2024 com desempenho abaixo do esperado; no entanto, fortalecido pelo crescimento significativo da receita obtida durante o ano, impulsionado em maior parte pelo aumento da inflação.
Enquanto as projeções para o varejo no ano passado eram positivas, em 2025, os varejistas encontram um cenário ainda incerto, com desafios para a alocação de capital e para o crescimento de empresas nos próximos trimestres.
Segundo André Sacconato, PhD em economia e assessor da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), é esperado um “gap” (intervalo entre a previsão e dados reais) no crescimento do mercado em 2025, considerando que o governo adote uma política fiscal mais cautelosa.
2025 deve ser desafiador para o varejo
Sacconato esclarece que 2025 será um ano desafiador para o varejo, por ser um ano de transição, cujos efeitos devem respingar em todos os setores da economia. O “gap” estará associado a diversos fatores da macroeconomia, tais como o controle dos gastos do governo, reajustes da inflação e à economia aquecida.
Considerando que leva tempo até que os dados se concretizem, é esperada uma virada nos resultados do varejo apenas no segundo semestre. O economista aconselha que os empresários sejam mais conservadores nos primeiros meses do ano e que não projetem decisões com base no passado.
Projeções de faturamento para o varejo em 2025
Segundo relatório divulgado pelo BTG Pactual, o faturamento do setor de varejo (receita líquida) deve crescer em 10% ao ano, com o EBITDA aumentando 18%, novamente sustentado pelo aumento dos custos e alavancagem operacional.
A perspectiva para o lucro é de crescimento de 20% ao ano, apesar do aumento dos tributos para algumas empresas impactadas pela MP nº 1.185 (crédito fiscal decorrente de subvenção para a implantação ou a expansão de empreendimento econômico).
Já a FecomercioSP prevê um cenário com início de ano bom para o varejo, com números positivos, porém mais contidos, esperando um segundo semestre com mais desafios.
Destaques no setor de e-commerce
Em dezembro de 2024, as vendas no varejo cresceram 3,4% no pagamento via e-commerce, e no acumulado do ano aumento foi de 7,7%, enquanto as venda em lojas físicas tiveram queda de 2,1%, segundo dados do Índice do Varejo Stone (IVS), divulgado pelo Valor Econômico.
Para o varejo online, o cenário em 2025 permanece desafiador, com as empresas enfrentando um dilema entre crescimento e lucratividade. No entanto, o BTG destaca três principais tendências para o setor:
- Crescimento fraco do GMV (volume bruto de mercadorias)
- Foco em lucratividade: menos investimentos em categorias não lucrativas e aumento nas taxas de serviço
- Preservação de caixa: consolidação do mercado, com favorecimento de grandes players.
Oportunidades para a indústria
Segundo André Sacconato, em 2025 haverá diversas oportunidades de crescimento para as indústrias que estiverem dispostas a renovar o estoque de capital e investir em inovação tecnológica, olhando não somente para o cenário nacional, mas também para mercados externos, como a China.
No contexto macroeconômico, ao mesmo tempo em que as possíveis sanções tarifárias dos Estados Unidos podem pressionar o setor varejista, este pode ser um terreno fértil para a indústria explorar outros mercados e investir em bens de capital.
Sobretudo, Sacconato aconselha que os empresários façam um bom planejamento, considerando um mercado adverso, com o câmbio desvalorizado e um cenário incerto atrelado ao contexto fiscal.
“O segredo está na logística e no planejamento financeiro. As pequenas e médias empresas devem planejar possíveis cenários de sobrevivência e não agir por impulso; assim como as grandes empresas precisam manter uma alta qualidade da mão de obra e aproveitar o apoio de instituições para crescer com segurança. Não vai sobreviver quem não tiver planejamento”, enfatiza.
Mudanças no padrão de consumo
Sacconato finaliza alertando para uma mudança no comportamento do consumidor, que está cada vez mais sensível a preços, devido às facilidades do comércio em meio digital, o que deve gerar uma contração no setor.
Uma vez que o consumidor esteja cada vez mais exigente em relação ao custo-benefício, o comércio tende a ter suas margens reduzidas, devendo ganhar mais em vendas de grandes quantidades do que em tickets maiores. No entanto, deverá chegar ao limite de sua eficiência, o que pode expor pequenos varejistas a riscos.
Em relação ao consumidor, pode haver mais alterações no modo de consumo associadas à inflação. Clientes com menor poder aquisitivo devem optar por itens de menor qualidade para garantir itens de consumo essenciais ou, até mesmo, deixar de comprar determinados produtos.