O Grupo Montesanto Tavares, um dos maiores exportadores de café arábica do Brasil, entrou com pedido de recuperação judicial na última terça-feira (25), após tentativas frustradas de renegociação de uma dívida de R$ 2,13 bilhões com credores, conforme nota oficial publicada no site das companhias.
Segundo o Grupo, a crise financeira se agravou com a volatilidade no mercado, motivada por fatores como perdas de safra, oscilação nos preços internacionais do café, que acumula valorização superior a 120% nos últimos 12 meses, e a desvalorização do real frente ao dólar.
Constam no processo de recuperação judicial protocolado na 2ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte as empresas brasileiras exportadoras do grupo: Cafebras Comércio de Cafés do Brasil, Atlântica Exportação e Importação e suas controladoras (Companhia Mineira de Investimentos em Cafés e Montesanto Tavares Group Participações).
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Crise no Grupo Montesanto Tavares
O Grupo Montesanto Tavares possui forte atuação no setor cafeeiro, com produção, beneficiamento e trading (negociação), além de possuir unidades em diversas cidades de Minas Gerais, incluindo Varginha, Manhuaçu e Belo Horizonte.
A empresa alega que sua crise financeira teve início na safra 2021/22, quando condições climáticas adversas comprometeram a produção no sul de Minas Gerais. A dívida também decorre de diversas prorrogações do prazo de entrega de café e inadimplências de produtores.
Fatores agravantes da dívida
Para cumprir contratos de exportação, a empresa precisou comprar café no mercado a preços mais altos, gerando endividamento. Parte dessa dívida foi adquirida por meio de Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACC), um tipo de financiamento concedido por bancos para exportadoras.
Outro fator que agravou a situação foi a alta dos preços do café arábica e a volatilidade do dólar, levando a “chamadas de margem” por parte de bancos e corretoras. Essas chamadas são exigências de aporte financeiro adicional para cobrir perdas em operações de derivativos.
Em novembro de 2024, o volume de compromissos com derivativos chegou a 158% do saldo de recebíveis do grupo e o valor dessas operações saltou de R$ 50 milhões para R$ 470 milhões.
Tentativas de renegociação
No final do ano passado, o grupo obteve um prazo de 60 dias para renegociar suas dívidas extrajudicialmente, prorrogado por mais 30 dias. No entanto, não houve acordo com os credores.
Além disso, a proteção temporária contra execuções judiciais não se estendia às dívidas relacionadas a contratos de adiamento de câmbio, garantias sobre estoques e instrumentos financeiros de proteção contra oscilações de preços.
Do montante devido, R$ 1,4 bilhão está vinculado a dívidas com bancos e corretoras. Entre os principais credores estão Cargill, Banco do Brasil, Santander, Safra, Bradesco, BTG Pactual e Itaú Unibanco.
No ano passado, a Cargill se posicionou contra os pedidos anteriores na Justiça, alegando que o grupo visava blindagem patrimonial ao tentar impedir as execuções de dívidas ligadas a contratos financeiros.
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Análise do pedido de recuperação judicial
No pedido de recuperação judicial, o grupo solicitou a suspensão das cobranças e a proteção de seus bens por 60 dias, além da inclusão das ACCs nas dívidas protegidas pela recuperação judicial.
O juiz Murilo Silvio de Abreu autorizou a inclusão dos ACCs no processo e suspendeu a entrega de ativos do grupo em garantia para credores, incluindo sacas de café que ainda estão sob posse da empresa.
O juiz também determinou uma constatação prévia antes de decidir sobre o pedido de recuperação judicial. Esse procedimento consiste na análise das condições financeiras da empresa por um perito indicado pelo tribunal, Wagner Miranda Rocha, da WMR Peritos Associados, que deverá apresentar um laudo em cinco dias.