Segundo estimativas do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e fontes do governo, os embargos associados à gripe aviária devem gerar um impacto nas exportações entre US$ 100 milhões e US$ 300 milhões por mês, com perda de até 150 mil toneladas de carne de frango mensais.
Já o BTG Pactual enfatiza que o impacto mensal possa atingir US$ 300 milhões se os bloqueios forem mantidos, considerando que os países que impuseram restrições representam cerca de 42% do valor exportado em 2024, equivalente a US$ 3,9 bilhões.
Segundo o Mapa, os focos foram detectados em aves de uma granja de postura comercial (produção de ovos) e não envolvem aves destinadas ao abate.
Apesar disso, as consequências já se manifestam: países como Japão, África do Sul e Coreia do Sul suspenderam temporariamente as importações de produtos de frango oriundos dos estados afetados.
Impacto da gripe aviária no mercado
As ações de alguns frigoríficos brasileiros operam em forte queda nesta segunda-feira (19) após a confirmação de casos de gripe aviária em uma granja comercial no Espírito Santo e outra no estado do Mato Grosso do Sul.
Entre as empresas afetadas, constam 12 plantas da Seara, três da JBS Aves, e 10 unidades industriais da BRF, que deve ser a mais vulnerável, por sua grande exposição à produção de frango no Brasil.
Por volta das 15h20 desta segunda-feira (19), os papéis das principais companhias do setor operavam em forte queda:
- BRF (BRFS3): a queda chegou a 6,26% pela manhã e agora cai 2,5%, a R$ 20,26
- Marfrig (MRFG3): recua 5,46%, a R$ 23,70
- Minerva (BEEF3): chegou a perder 3,91%, e agora sobe 0,77%, a R$ 5,23
- JBS (JBSS3): sobem 3,57%, a R$ 40,29, refletindo a recomendação de compra do J.P. Morgan e preço-alvo a R$ 52.
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Mercado deve sentir maior impacto no curto prazo
O economista Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, avalia que é preciso cautela antes de tirar conclusões precipitadas sobre os impactos no mercado. “Notícias como essa geralmente causam medo e chamam bastante atenção, mas é importante parar e analisar com um pouco mais de calma”, alerta.
Segundo o especialista, pode haver um impacto de curto prazo em empresas do setor, como a BRF, mas também existe uma grande chance de uma sobre-reação do mercado a um evento que ainda está sendo controlado.
Já o BTG Pactual avalia a notícia como negativa para o setor e que deve gerar uma correção nas expectativas de exportações de carne de frango, principalmente por conta da suspensão de compras por parte de parceiros comerciais estratégicos.
Ministério da Agricultura avalia riscos da gripe aviária
O Ministério da Agricultura reforçou que o Brasil ainda mantém o status de país livre de gripe aviária na Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), uma vez que os casos ocorreram de forma isolada e a maioria em aves silvestres.
A pasta ressaltou ainda que o protocolo sanitário prevê a suspensão regionalizada das exportações, o que evita penalizações nacionais mais amplas.
“A detecção em granjas comerciais foi rápida, e todas as medidas de contenção foram aplicadas imediatamente”, afirmou o ministro Carlos Fávaro em nota oficial.
Restrições internacionais
Desde a confirmação dos primeiros casos da doença em aves silvestres, o Brasil vem enfrentando restrições comerciais por parte de alguns países. A China suspendeu a habilitação de 51 refrigeradores de produtos avícolas do Brasil desde sábado (17).
No mesmo dia, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o embargo de 60 dias às exportações de aves para alguns países pode ser reduzido a partir de “conversas diplomáticas e comerciais”.
Até o momento, Chile, Argentina, Uruguai, México e Coreia do Sul comunicaram a suspensão das importações de frango do Brasil. Entre as restrições regionalizadas, se destacam o Japão, os Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Filipinas.
De acordo com o Mapa, o impacto sobre o volume total exportado ainda é incerto, mas as medidas de contenção devem mitigar efeitos mais severos.
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Mitigação dos casos e ação da ABPA
Empresas do setor estão em contato com o governo para reforçar medidas de biossegurança e orientar produtores. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) também trabalha em conjunto com o Mapa para garantir que as exportações continuem fluindo dentro dos limites regionais.
Para Ricardo Santin, presidente da ABPA, “É essencial que o consumidor entenda que não há risco ao consumo, e que o sistema brasileiro de defesa sanitária é um dos mais avançados do mundo”.
Segundo Vasconcellos, existem países que podem impor embargos temporários, mas se o foco for contido e o Brasil mantiver transparência com os parceiros internacionais, a tendência é que os efeitos sejam limitados.
“Em casos como esse, já vimos no passado que a sobreoferta de frango no mercado interno pode levar a uma redução pontual de preços, mas ainda é cedo para qualquer projeção concreta”, avalia.