O dólar fechou esta quarta-feira (26) em alta de 0,66% frente ao real, a R$ 5,55 — maior valor de fechamento desde 10 de junho. A alta foi refletiu o aumento da percepção de risco fiscal no Brasil diante dos atritos entre o governo Lula e o Congresso Nacional.
Além disso, o movimento de saída de recursos, comum no encerramento de semestre, contribuiu para a pressão sobre o real.
Com esse avanço, as perdas acumuladas em junho, que já superaram 3,5%, foram reduzidas para 2,87%. No ano, o dólar ainda acumula queda de 10,11% frente ao real.
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Congresso ameaça pacote fiscal do governo
O fator principal de instabilidade no mercado cambial foi a escalada das tensões políticas. De forma inesperada, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou que pautaria ainda hoje a votação de um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que revoga o decreto do governo que elevou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), afirmou que o Senado analisará o texto caso seja aprovado na Câmara. Internamente, o governo avalia que há risco de derrota na tentativa de manter a medida.
Em entrevista à TV Record na noite anterior, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu o pacote fiscal, composto por decreto e Medida Provisória, que altera as regras do IOF. Haddad disse que a medida afetaria apenas os “moradores da cobertura”, expressão que teria causado insatisfação no Congresso.
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Segundo analistas, o embate pode comprometer o esforço fiscal do governo e afetar a confiança de investidores. “O real se valorizou bastante recentemente por causa da taxa Selic alta, que atrai capital estrangeiro. Agora devolve parte dos ganhos com a piora do cenário fiscal”, explicou Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, em entrevista ao Estadão Broadcast.
Perspectiva estável para o Brasil
À tarde, a agência Fitch Ratings reiterou a nota de crédito do Brasil em ‘BB’, com perspectiva estável. A agência apontou a ausência de consolidação fiscal como um obstáculo para um possível upgrade do rating.
Outras duas agências, S&P Global Ratings e Moody’s, também mantiveram recentemente as notas brasileiras, ambas com perspectivas estáveis. No caso da Moody’s, a perspectiva chegou a ser reduzida de positiva para estável, afastando o Brasil do chamado grau de investimento.
Pressão técnica no câmbio
Além do risco político, o real enfrentou fatores técnicos que colaboraram para a sua desvalorização. No período de 16 a 20 de junho, o fluxo cambial foi negativo em US$ 1,787 bilhão, segundo o Banco Central. O destaque foi a saída líquida de US$ 2,623 bilhões pelo canal financeiro, que inclui investimentos em ações e títulos.
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Pela manhã, o BC realizou leilões de venda de dólar no mercado à vista e também de swaps cambiais reversos, instrumento que equivale à compra de dólares no mercado futuro. O objetivo foi reduzir a pressão sobre o cupom cambial, que reflete os juros em dólar no Brasil.
Apesar do movimento de valorização do dólar no mercado doméstico, no exterior a moeda americana perdeu força. O euro, por exemplo, atingiu o maior nível desde outubro de 2021, refletindo a perspectiva de desaceleração da economia dos Estados Unidos.