Com o aumento das apostas nos cortes de juros dos Estados Unidos, é natural que a busca por investimentos mais arriscados também aumente e, entre eles, as small caps voltam ao radar dos investidores e chamam atenção de brasileiros que desejam diversificar a carteira com ativos americanos.
Essas ações de empresas de menor capitalização de mercado, que variam entre US$ 250 milhões e US$ 2 bilhões, oferecem alto potencial de valorização, mas também maior volatilidade.
Em entrevista ao Monitor do Mercado, Christian Fay, gestor sênior de portfólio do BNP Paribas Asset Management, fala sobre a alocação das small caps de forma estratégica: “Nos EUA, elas não representam um volume tão grande como no Brasil, mas contemplam diversos setores que estão disponíveis apenas fora do Brasil”.
Fay alerta que as small caps americanas não substituem outras ações de maior peso na carteira: E cita como exemplo a Nvidia, que atualmente tem US$ 4 trilhões em valor de mercado, mais do que a totalidade do índice Russell 2000.
“Se você é um gestor de fundo grande, não consegue simplesmente comprar várias small caps para compensar a falta de uma Nvidia na sua carteira”, explica.
A declaração ocorreu durante o Avenue Connection 2025, realizado pela Avenue, em São Paulo, entre os dias 16 e 18 de julho.
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Small caps têm risco proporcional ao alto potencial
As small caps costumam atuar em nichos de mercado e podem se tornar alvos de aquisição por concorrentes maiores. Por estarem em fases iniciais de desenvolvimento, podem registrar crescimento acelerado e ganhos expressivos, especialmente quando conquistam mercado, lançam produtos ou obtêm patentes.
Por outro lado, são ativos mais voláteis, têm menos liquidez e são menos acompanhadas por analistas, exigindo mais pesquisa por parte do investidor.
Efeito Trump associado ao risco das tarifas
Christian Fay fala ainda sobre o impacto das declarações e ações do presidente norte-americano Donald Trump sobre as small caps — “O barulho constante de Donald Trump ameaçando tarifas por todo o mundo, para o Brasil, para o Canadá, para o México, gerou uma grande incerteza no mercado, provocando ruídos, e isso compromete o desempenho das small caps.”
Segundo ele, no início do ano, o desempenho dessas empresas foi fortemente afetado pelas incertezas políticas e sanções econômicas, mas, com o tempo, o mercado passou a interpretar que as ameaças de Trump muitas vezes não se concretizavam.
“Ainda é um risco, mas agora as pessoas conseguem dizer: ‘Bom, não acreditamos necessariamente que todas as promessas dele vão se concretizar a longo prazo’. Desde então, as ações de small caps se recuperaram e voltaram para território positivo.”, diz.
Apesar da recuperação, Fay alerta que novos episódios ainda podem impactar o segmento: “Tarifas mais altas, juros que não caem ou se Trump demitir o presidente do Fed — algo que ele já disse que não vai fazer, mas se fizesse, isso seria bem negativo para as small caps.”
No entanto, diz que, uma vez que você ignora esse ruídos do mercado e observa o que realmente acontece, há elementos mais positivos para as small caps. “Tudo deve se acalmar até o ano que vem”, completa.
ETFs de small caps dispararam em 2024
De acordo com a casa de análises Morningstar, os ETFs de small caps atraíram US$ 25,1 bilhões líquidos até 30 de agosto de 2024, quase o triplo dos US$ 9,4 bilhões registrados no mesmo período do ano anterior.
O dado mostra o aumento do apetite por risco globalmente, diante da expectativa de juros mais baixos nos Estados Unidos. Esses são os principais ETFs escolhidos por investidores:
- Nos EUA: IWM (iShares Russell 2000 ETF) – acompanha o índice Russell 2000, com 2 mil empresas pequenas dos EUA.
- Na B3: BIWM39 – ETF que replica o IWM, em reais e SMAL11 – fundo que segue o índice SMLL, de small caps brasileiras.
Bruno Yamashita, Analista de Alocação e Inteligência da Avenue, alerta que pelo fato de as small caps estarem mais suscetíveis a riscos e à volatilidade do mercado, são ativos menos recomendados para investidores conservadores.
Mas no caso de investidores que desejam começar a diversificar em small caps, ainda que tenham um perfil mais contido, Yamashita recomenda começar pelos fundos ou ETFs.
“É uma ótima maneira de o investidor conseguir diversificar o risco entre várias empresas. Mesmo dentro do mundo de small caps, há diversas empresas ligadas a setores não cíclicos, ou seja, setores menos impactados pelo ambiente econômico e isso acaba trazendo um pouco mais de proteção para a carteira”, esclarece.
Por que diversificar fora do Brasil?
Investir internacionalmente ajuda a proteger o patrimônio da inflação e do câmbio. Como o Brasil tem forte dependência de produtos importados (com impacto indireto no consumo), a diversificação geográfica reduz riscos ligados à economia local.
Além disso, o investidor pode acessar setores ausentes na B3, como: inteligência artificial, computação quântica, biotecnologia e as big techs, como Apple, Google e Nvidia.
Segundo levantamento da Anbima, os investidores brasileiros ainda têm baixa exposição ao exterior:
- Renda fixa no exterior: 1,11%
- Fundos de ações com ativos internacionais: 1,97%
- Multimercados com ativos internacionais: 7,71%
- Média ponderada geral: 1,56%
O FMI (Fundo Monetário Internacional) também aponta o Brasil como um dos países com menor diversificação internacional entre as grandes economias.
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Small caps como termômetro do mercado
O desempenho das small caps costuma refletir o apetite por risco dos investidores. Em momentos de otimismo, esses ativos se valorizam mais rapidamente. Já em tempos de incerteza, o movimento tende a ser o oposto, com migração para ativos mais conservadores.
No mercado dos EUA, o índice Russell 2000, criado pela FTSE Russell, serve como indicador-chave para monitorar esse segmento. Seu desempenho pode sinalizar para onde o mercado está se movendo em termos de risco e crescimento.