Nos últimos anos, a busca por incentivos fiscais para veículos que utilizam fontes de energia mais limpas e sustentáveis tem se intensificado em diversos estados brasileiros. Em Minas Gerais, uma nova legislação está em tramitação e pretende conceder isenção total do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) para veículos elétricos, híbridos e movidos a etanol. Contudo, essa medida possui alguns critérios que acabam limitando o acesso ao benefício.
Essa iniciativa segue uma tendência já observada em outros estados, como São Paulo, que oferece vantagens fiscais para impulsionar a aquisição de veículos mais sustentáveis, ao mesmo tempo que busca fortalecer a indústria automotiva local. Contudo, em Minas Gerais, a proposta privilegia indiretamente um número restrito de fabricantes, algo que pode ser percebido no caso peculiar de produtos da Fiat, montadora com presença marcante na região.
Como funciona a nova isenção de IPVA para carros sustentáveis?

A nova legislação, parte do Projeto de Lei 999/2015, busca favorecer a mobilidade sustentável ao conceder isenção total de IPVA para veículos novos elétricos, híbridos, movidos a gás natural ou etanol. Entretanto, o benefício é restrito aos automóveis fabricados em Minas Gerais e que possuam valor final abaixo de R$ 199 mil, o que limita significativamente o número de consumidores e de modelos contemplados pela legislação.
Atualmente, apenas dois modelos cumprem os requisitos: o Fiat Pulse Audace Hybrid e o Fiat Fastback Audace Hybrid, ambos fabricados em Betim. Essa limitação faz com que apenas uma fatia muito específica do mercado possa usufruir do benefício, tornando a medida mais um incentivo à indústria automotiva estadual do que a uma adoção massiva de tecnologias limpas.
Impactos econômicos e ambientais da medida
Os impactos econômicos da isenção são duplos: de um lado, pretende estimular o desenvolvimento da indústria automotiva local e a geração de empregos; por outro, apresenta efeito restrito quanto à popularização de veículos “verdes”, devido ao baixo número de modelos inclusos e ao valor de corte relativamente elevado. Para os fabricantes, como a Fiat, essa iniciativa se traduz em vantagem competitiva local, consolidando ainda mais sua posição no mercado mineiro.
Ambientalmente, a medida pode ser considerada simbólica em seu estágio inicial, já que o acesso é restrito e o potencial de aumento da frota limpa é modesto. No entanto, à medida que mais empresas invistam em fábricas no estado e diversifiquem suas linhas de veículos, o alcance desses benefícios poderá ser ampliado, trazendo ganhos ambientais mais visíveis no longo prazo.
Desafios enfrentados para ampliação da política de incentivos
O principal desafio é a ampliação do número de veículos elegíveis ao benefício. Para isso, seria necessária a flexibilização das exigências quanto ao local de fabricação e ao preço máximo dos automóveis. Além disso, especialistas criticam que a inclusão de sistemas híbridos leves — que, na prática, não permitem rodar exclusivamente no modo elétrico — diminui o impacto positivo esperado em termos de sustentabilidade.
Outra questão relevante envolve o equilíbrio fiscal do estado. Isentar um segmento de veículos do IPVA pode representar redução de arrecadação, exigindo contrapartidas econômicas ou ajustes orçamentários. Por isso, é essencial avaliar cuidadosamente o alcance da medida e seu verdadeiro potencial para transformar a mobilidade sustentável em Minas Gerais.
Potencial para expansão e exemplos internacionais
Apesar das limitações, a iniciativa em Minas Gerais pode servir de exemplo para outras regiões do país, inspirando legislações mais abrangentes e conectadas à realidade do mercado automotivo nacional. Países europeus e asiáticos já aplicam incentivos mais estendidos, promovendo desde a isenção de impostos até facilidades em estacionamentos e pedágios para carros “verdes”.
No Brasil, o crescimento desse tipo de política pode fomentar uma maior presença de fabricantes internacionais interessados em investir em linhas de montagem locais, especialmente se os critérios forem ajustados com o tempo. Dessa forma, a estratégia mineira pode se tornar um laboratório para o avanço da eficiência energética e da indústria automotiva sustentável brasileira.
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Perspectivas futuras da mobilidade sustentável no estado
Mesmo antes de sua sanção, a nova legislação já promove debates sobre o futuro da mobilidade sustentável em Minas Gerais. Se for aprovada, a medida poderá impulsionar investimentos em tecnologia automotiva limpa, abrir espaço para novos fabricantes e, eventualmente, forçar revisões periódicas nos critérios para inclusão de modelos beneficiários.
No médio e longo prazo, a expectativa é de que políticas mais robustas e inclusivas permitam a popularização dos veículos elétricos e híbridos não só no estado, mas em todo o território nacional. O exemplo mineiro, mesmo restrito inicialmente, pode tornar-se um precedente decisivo na construção de um cenário automotivo mais sustentável e dinamizado no Brasil.