O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) reativou recentemente o direito à aposentadoria por incapacidade para pessoas vivendo com HIV ou aids, após uma mobilização significativa da sociedade civil e intervenções judiciais. Essa medida vem como um alívio para muitas pessoas que dependem desse benefício para sua subsistência. A decisão foi desencadeada por uma sentença judicial favorável e tem sido amplamente divulgada pelo Ministério da Saúde com o objetivo de garantir que todos os direitos relacionados sejam restituídos.
O apoio do Ministério da Saúde, através do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi), foi crucial para essa conquista. O departamento colaborou diretamente com organizações da sociedade civil, facilitando reuniões e audiências necessárias para essa ação de advocacia. A circulação de informações através de ofícios às Coordenações dos Programas Estaduais e Municipais de HIV e Aids ressalta a importância de garantir que as pessoas voltem a receber seus benefícios.
Por que essa reativação é importante para as PVHA?

Para muitas pessoas vivendo com HIV ou aids, a aposentadoria por incapacidade é mais que um mero benefício econômico; ela é fundamental para assegurar direitos básicos e qualidade de vida. Além disso, esses recursos ajudam a garantir o tratamento contínuo e a adesão ao acompanhamento médico, já que parte significativa dessas pessoas encontra barreiras para permanecer no mercado formal de trabalho.
De acordo com Artur Kalichman, coordenador-geral de Vigilância de HIV e Aids, aproximadamente 30% das pessoas diagnosticadas enfrentam dano imunológico grave. Esses danos, muitas vezes, vêm acompanhados de doenças oportunistas que tornam inviável a permanência no mercado de trabalho. O acesso ao benefício representa dignidade, inclusão social e o reconhecimento legal das demandas específicas deste grupo.
Quais foram os desafios enfrentados antes da reativação do benefício?
A reativação do benefício não foi isenta de desafios. Em 2016, a Portaria Interministerial MDSA/MF/MP Nº 127 introduziu a necessidade de perícia médica para aqueles que estavam aposentados há mais de dois anos, mas que ainda não haviam completado 60 anos de idade. Muitos, incapazes de comprovar tal necessidade em exames, tiveram suas aposentadorias cessadas em troca de uma mensalidade de recuperação, criando um vácuo econômico significativo para essas pessoas.
Essas mudanças foram prejudiciais porque desconsideraram as particularidades clínicas e sociais das pessoas vivendo com HIV/aids, que muitas vezes têm limitações não evidenciadas em exames clínicos padrão. A falta de orientação adequada e agilidade nos processos agravou ainda mais a vulnerabilidade desse público, evidenciando a importância da luta para garantir o acesso efetivo a direitos já conquistados.
Como essas mudanças impactam a vida das pessoas beneficiadas?
Esse restabelecimento promove um impacto positivo direto na qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV ou aids. Os benefícios recebidos ajudam a garantir segurança alimentar e cobertura de outras necessidades básicas. De acordo com Draurio Barreira, diretor do Dathi, fortalecer o acesso à renda é essencial não apenas para promover a qualidade de vida, mas também para a eliminação da aids como um problema de saúde pública, atacando os determinantes sociais da doença.
Além disso, receber novamente o benefício representa não só alívio financeiro, mas também uma significativa melhoria emocional. Pesquisas e relatos de ONGs demonstram que a estabilidade financeira contribui para melhores índices de adesão ao tratamento, possibilitando uma vida mais saudável e ativa, com maior participação social.
O papel das organizações da sociedade civil na conquista
As organizações da sociedade civil desempenharam um papel fundamental neste processo, articulando demandas e atuando na defesa dos direitos das pessoas vivendo com HIV ou aids. Por meio de campanhas, audiências públicas e encontros com gestores, essas entidades mantiveram o tema em pauta e pressionaram autoridades a oferecer respostas concretas.
Esse trabalho colaborativo facilitou a escuta ativa de experiências e reuniu informações essenciais para fundamentar as ações judiciais e administrativas. Assim, a força da coletividade e do diálogo entre diferentes setores tornou possível a reversão de uma política que comprometia a vida de milhares de brasileiros.
O próximo passo: informação e acesso
Embora o benefício tenha sido restituído, garantir que a informação chegue a todas as pessoas que realmente precisam é um novo desafio. O Ministério da Saúde e entidades locais intensificaram a divulgação sobre o direito à aposentadoria por incapacidade, promovendo campanhas educativas e orientações jurídicas.
Além disso, é fundamental aprimorar o acompanhamento técnico nas agências do INSS e fortalecer o suporte psicossocial, para que nenhum beneficiário seja prejudicado por falta de orientações corretas ou barreiras burocráticas. Transparência, acolhimento e articulação com os serviços de saúde são pontos essenciais para que essa conquista se traduza em benefícios concretos.
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Perspectivas e desafios futuros
A reativação do benefício é uma vitória, mas também aponta para a necessidade de constante vigilância sobre as políticas públicas voltadas às pessoas vivendo com HIV ou aids. O acompanhamento das mudanças na legislação e o engajamento de todos os atores — governo, sociedade civil, especialistas e pessoas afetadas — são fundamentais para manter os direitos sociais protegidos.
Por fim, a luta não termina com a restituição do benefício. É imprescindível avançar em outras políticas de inclusão, combate ao estigma e ampliação de programas de proteção social, garantindo que o Brasil siga como referência no cuidado e na prevenção do HIV/aids, promovendo cidadania e bem-estar para todos.