A obtenção de uma carteira de habilitação no Brasil representa não apenas um rito de passagem para muitos, mas também uma necessidade para a mobilidade e o acesso a oportunidades profissionais. Contudo, o custo elevado para adquiri-la tem gerado obstáculos consideráveis para uma significativa parcela da população. Isso se torna evidente ao analisar os valores exigidos em diferentes estados do país, destacando, por exemplo, o Rio Grande do Sul, onde a média para obter a CNH na categoria AB chega a R$ 4.951,35, tornando-o o estado com a habilitação mais cara.
Outros estados também enfrentam realidades semelhantes, como Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, onde os custos são de R$ 4.477,95 e R$ 3.906,90, respectivamente. Mesmo em estados onde esse valor é considerado mais acessível, como na Paraíba, onde pode ser obtida por R$ 1.950,40, o impacto financeiro ainda representa uma barreira significativa para muitos futuros condutores.
Esse panorama evidencia não apenas diferenças regionais, mas também reforça a urgência de discutir e propor medidas que possam tornar o acesso à CNH mais democrático e equitativo, beneficiando a mobilidade urbana e a inclusão social em todo o país.
Por que tantos brasileiros dirigem sem habilitação?

De acordo com pesquisa do Instituto Nexus, cerca de 20 milhões de brasileiros dirigem sem possuir CNH, número expressivo relacionado ao alto custo de obtenção. O valor exorbitante faz com que quase metade dos entrevistados (49%) justifique a ausência da habilitação principalmente por motivos financeiros. Além disso, a burocracia e o tempo envolvido também surgem como barreiras que desestimulam a regularização.
A falta de acesso à CNH tem impacto direto na legalidade e na segurança do trânsito, já que muitos optam por conduzir veículos de maneira irregular. Dados indicam que a pressão econômica é ainda mais sentida nas periferias e regiões menos desenvolvidas. Com isso, a busca por alternativas, como habilitações populares e programas sociais, torna-se cada vez mais recorrente.
Esse cenário evidencia a necessidade de políticas públicas voltadas tanto para a redução do custo quanto para a simplificação do processo, de forma a incentivar mais brasileiros a buscarem a regularização e, consequentemente, contribuir para um trânsito mais seguro.
Como o custo da CNH afeta diferentes regiões brasileiras?
O valor da CNH varia bastante entre as regiões do Brasil, e estados das regiões Norte e Nordeste enfrentam dificuldades ainda maiores pela combinação de custos elevados e baixa renda local. Bahia e Acre, por exemplo, apresentam valores próximos a R$ 4 mil, enquanto o acesso já é historicamente restrito nessas áreas.
Em estados do Nordeste, 71% da população segue sem carteira de motorista; no Norte, são 64%. Além da questão financeira, fatores como infraestrutura deficiente, distância de centros urbanos e menor oferta de autoescolas também contribuem para o quadro.
Assim, as disparidades na obtenção da CNH reforçam os desafios regionais brasileiros, exigindo soluções específicas para cada realidade, como programa de isenção de taxas e parcerias públicas para ampliar o acesso à formação de condutores.
Dificuldades enfrentadas por famílias de baixa renda
A aquisição da CNH é ainda mais restritiva para brasileiros com renda familiar de até um salário mínimo, entre os quais 81% não têm habilitação. Essa situação aprofunda as desigualdades, dificultando o acesso a empregos que exigem o documento e limitando a mobilidade urbana dessas pessoas.
Para essas famílias, o alto custo vai além do valor pago à autoescola, envolvendo despesas com documentos, exames médicos e deslocamentos, o que compromete boa parte da renda mensal. Essa realidade impacta especialmente jovens e trabalhadores informais, que veem no carro ou moto uma fonte de renda.
Políticas de subsídio ou benefícios para famílias em situação de vulnerabilidade podem ser alternativas eficazes para democratizar o acesso à CNH, promover inclusão social e estimular o desenvolvimento econômico local.
Implicações do alto custo para a segurança viária
A condução sem habilitação, motivada pelo custo proibitivo da regularização, aumenta os riscos no trânsito brasileiro. Motoristas não preparados ou sem formação adequada contribuem para o aumento de acidentes e mortalidade nas estradas e cidades.
Além disso, a fiscalização torna-se mais difícil, pois há um grande contingente de condutores irregulares circulando diariamente. Essa situação ainda sobrecarrega os sistemas de saúde e segurança pública, gerando custos indiretos para toda a sociedade.
Investir na formação adequada de condutores, aliado a custos mais acessíveis, pode resultar em estradas mais seguras e menores índices de infrações, beneficiando toda a população.
Alternativas e propostas para baratear a CNH
Alguns estados brasileiros já discutem e testam programas de CNH Social, que oferecem carteiras gratuitas ou com desconto para pessoas em situação de vulnerabilidade social. Essas iniciativas são apontadas como medidas eficazes para ampliar o acesso à habilitação.
Além disso, desburocratizar etapas do processo e revisar as exigências podem ajudar a reduzir custos administrativos. Parcerias público-privadas também podem ser viabilizadas para aprimorar a formação sem transferir todo o custo ao cidadão.
Essas soluções, quando implementadas em larga escala e adaptadas a realidades regionais, têm potencial de transformar positivamente o cenário da habilitação no Brasil.
Impacto na mobilidade urbana e empregabilidade
Ter a CNH amplia significativamente as oportunidades profissionais, principalmente em setores de transporte, logística e serviços. O alto custo acaba privando muitos brasileiros dessas vagas, agravando o desemprego e a informalidade.
A mobilidade urbana também é afetada, pois a falta de habilitação dificulta o acesso a regiões mais afastadas, ampliando a exclusão social e as desigualdades regionais. Nas grandes cidades, o documento é requisito básico para motoristas de aplicativos, motoboys e outros profissionais autônomos.
Ampliar o acesso à CNH, portanto, é fundamental para fortalecer a inclusão produtiva e melhorar a mobilidade social, criando novas oportunidades de renda e deslocamento para a população.
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Desafios para o futuro e soluções possíveis
Garantir um acesso mais amplo à CNH implica repensar políticas públicas e propor inovações que atendam às realidades brasileiras. Investir em educação no trânsito, programas de subsídio e estímulo à regularização são passos fundamentais.
É importante também considerar soluções tecnológicas, como aulas online e digitalização de processos, para tornar o sistema mais eficiente e menos custoso. Além disso, o diálogo entre governo, autoescolas e sociedade é essencial para alinhar expectativas e demandas.
Superar essas barreiras é um desafio coletivo, mas traz benefícios diretos para a inclusão social, segurança viária e desenvolvimento econômico no Brasil.