A COP 30, que será realizada em Belém (PA) em novembro, colocará o Brasil no centro das discussões globais sobre soluções baseadas na natureza e bioeconomia, e segundo estudo da ICC Brasil (Câmara de Comércio Internacional no Brasil), o país tem potencial para gerar até US$ 140 bilhões por ano com a chamada “bioeconomia do conhecimento”.
O conceito combina recursos da biodiversidade com ciência, tecnologia e inovação, e de acordo com a organização, para que o valor seja alcançado será necessário superar gargalos tecnológicos e regulatórios como:
- Baixo mapeamento genético
- Alta de infraestrutura para escalar inovações
- Complexidade do Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético (SisGen)
- Ausência de padrões técnicos
A estimativa é que sejam necessários pelo menos US$ 15 bilhões em investimentos para destravar esse mercado.
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COP 30 acontecerá durante transição em negociações
A ICC Brasil avalia que a COP 30 ocorrerá em um momento de transição nas negociações climáticas — da formulação de acordos para a implementação prática de políticas.
O estudo também aponta que o avanço da bioeconomia exige ações coordenadas entre governo, empresas, investidores e sociedade civil. Entre as recomendações estão fortalecer a base científica, criar infraestrutura para biotecnologias, aprimorar marcos regulatórios e desenvolver instrumentos financeiros combinados, como blended finance e fundos de capital de risco especializados.
Na sequência, Danielle Berini, coordenadora de Policy da ICC Brasil, detalha em entrevista ao Monitor do Mercado como essas propostas podem ser colocadas em prática e quais instrumentos financeiros podem atrair mais capital privado e internacional para negócios baseados na biodiversidade.
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Leia a entrevista na íntegra:
Monitor do Mercado: Qual o papel da COP 30 para atrair capital e acelerar a implementação de políticas e projetos capazes de transformar o potencial teórico em resultados econômicos e ambientais concretos?
Danielle Berini: A COP 30 acontecerá em um momento bastante único: uma transição de negociações de acordos para implementação de fato. Além disso, nos últimos anos, as COPs se concentraram muito em discussões sobre transição energética, porque este era — e ainda é — o desafio dos países anfitriões. Sendo a Conferência no Brasil e em uma cidade amazônica, ela será uma oportunidade estratégica para o país destacar as soluções baseadas na natureza, abrindo espaço para a bioeconomia ser um pilar importante da transformação ecológica. É quase que esperado por parte da comunidade internacional que as agendas de clima e natureza sejam tratadas de forma integrada em novembro.
A COP 30 também será uma grande oportunidade para o setor privado brasileiro demonstrar seu compromisso com a agenda e as soluções que já são implementadas, com casos concretos e resultados palpáveis, que podem ser aplicadas em outras localidades, por exemplo. Dar voz a essas histórias, promovendo trocas entre diferentes players, convergindo para as agendas econômica e climática está no DNA da ICC e é parte integral de nossa jornada rumo à Belém.
MM: Quais ações imediatas deveriam ser prioridades para que governo, empresas e investidores possam superar gargalos e destravem capital para a bioeconomia do conhecimento no Brasil?
DB: Ao longo do desenvolvimento do estudo, mapeamos vantagens comparativas do Brasil e desafios que precisam ser superados para destravar todo o potencial da bioeconomia do conhecimento no país. Nesse sentido, identificamos cinco eixos de ação prioritários que funcionariam como alavancas para superar esses desafios: i) fortalecer a base científica; ii) consolidar o ecossistema de inovação do país; iii) criar condições de mercado favoráveis; iv) aprimorar a regulação e v) criar arquitetura financeira integrada.
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Dentro desses eixos, destacaríamos a necessidade de uma estratégia de bioprospecção aplicada, a criação da infraestrutura necessária para escalonamento de biotecnologias, a atração de capital estrangeiro e a cooperação internacional.
É essencial também que haja uma aplicação padronizada da Lei da Biodiversidade, garantindo segurança jurídica ao investidor e efetivando o compartilhamento de benefícios, bem como a definição de uma taxonomia específica para a bioeconomia – que traria clareza ao que significa um produto ou processo associado à biodiversidade. Isso facilita o monitoramento de investimentos, a formulação de políticas públicas e o direcionamento de financiamentos.
MM: Quais mecanismos concretos que o Brasil deveria priorizar para garantir fluxo contínuo de capital e escala industrial para essas soluções?
DB: O estudo completo, que será disponibilizado nas próximas semanas, trará um maior detalhamento sobre propostas de ação concretas para garantir o fluxo contínuo de capital e escala industrial, mas já destacaria a necessidade de criar uma rede nacional de plantas de scale-up e validação tecnológica para aumentar o acesso a serviços especializados e reduzir riscos técnicos e financeiros. Uma outra proposta seria a criação de fundos de capital de risco especializados para bioeconomia, a partir de chamadas públicas como capital âncora. Essas duas medidas, com base nos resultados do estudo, seriam chave para transição do laboratório para o mercado.
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MM: Como ampliar a união de bionovação e inclusão social para outros setores como, por exemplo, bioinsumos agrícolas ou materiais sustentáveis, garantindo repartição justa de benefícios e competitividade global?
DB: Uma das principais conclusões do estudo é que, para escalar soluções da bioeconomia do conhecimento, é necessário atuar em ecossistema – e aliar bioinovação com inclusão social está no centro disso. A combinação de avanços tecnológicos e científicos com saberes tradicionais pode ser um importante vetor de modelos de negócios mais resilientes, circulares e regenerativos, gerando desenvolvimento de novas cadeias produtivas ou agregando valor a já existentes. O estudo, no entanto, lembra que essa atuação em ecossistema depende de parcerias e atuação ética dos diversos atores.
MM: Com base nas experiências atuais, como se dá a construção prática dessa governança integrada para coordenar políticas, investimentos e regulação a nível nacional?
DB: O estudo não traz necessariamente uma proposta de governança para integrar os diferentes atores, mas sim uma atuação em ecossistema. O estímulo à bioeconomia é hoje parte de diversos planos e políticas em desenvolvimento do Governo Federal, como o Plano de Transformação Ecológica, o Plano Clima e o Plano Nacional de Bioeconomia.
Estados como o Pará também definiram a bioeconomia como uma agenda estratégica de desenvolvimento local. É importante que haja um alinhamento entre essas diversas esferas e que sejam construídas plataformas de diálogos que contemplem visões dos diferentes atores — como a Comissão Nacional de Bioeconomia, por exemplo — e mecanismos de acompanhamento da efetividade das políticas aplicadas, para garantir que o efeito positivo esteja de fato chegando à ponta.
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MM: Quais instrumentos financeiros e estruturas de governança vocês acreditam que poderiam ser implementados no Brasil já no curto prazo para atrair capital privado e internacional para negócios baseados na biodiversidade?
DB: Há a necessidade de se criar uma combinação articulada de instrumentos financeiros para desenvolver soluções da bioeconomia, porque nenhum instrumento, isoladamente, seria capaz de suprir todas as demandas de uma cadeia que vai da pesquisa ao mercado global.
Por exemplo, crédito direcionado seria necessário para implantação de biofoundries e plantas-piloto, apoiando a infraestrutura para pesquisa e desenvolvimento em escala. Equity teria um papel importantíssimo para escalar startups e empresas emergentes. Valorizar produtos da bioeconomia em compras públicas, por exemplo, seria também uma forma de criar demanda estruturada e, por fim, incentivos fiscais incentivariam maior competitividade de bioprodutos.