Mesmo na era dos crimes digitais, um dos golpes mais antigos e teatrais do Brasil, o golpe do bilhete premiado, continua a fazer vítimas, especialmente entre a população idosa. Seu sucesso não depende de tecnologia, mas de uma sofisticada performance de engenharia social que explora as emoções mais básicas do ser humano.
Este guia definitivo explica não apenas como o golpe funciona, mas principalmente por que ele ainda é tão eficaz. Entender a psicologia por trás da fraude é a melhor ferramenta para se proteger e alertar as pessoas que você ama.
Como funciona o golpe: um teatro de rua

O golpe do bilhete premiado é uma encenação presencial que quase sempre envolve uma dupla de criminosos. O primeiro golpista, fingindo ser uma pessoa humilde e analfabeta, aborda a vítima na rua, dizendo ter um bilhete de loteria premiado, mas que não sabe como sacar o prêmio.
Enquanto a conversa se desenrola, um segundo golpista, bem-vestido e parecendo ser uma pessoa de confiança, se aproxima “por acaso”. Ele se oferece para “ajudar”, finge ligar para a lotérica para confirmar o prêmio e valida a história, propondo que a vítima ajude o “sortudo” em troca de uma generosa recompensa, mas com uma condição: ela precisa fornecer uma “garantia” em dinheiro para provar sua honestidade.
A vítima, convencida pela encenação, saca um valor alto no banco e o entrega aos golpistas. Em troca, ela recebe o bilhete de loteria falso como “garantia” do acordo. A dupla então inventa uma desculpa, se afasta e desaparece, deixando a vítima com o prejuízo.
Por que o golpe ainda funciona: a psicologia da fraude
A longevidade do golpe se deve à sua capacidade de explorar emoções poderosas que anulam o raciocínio lógico. A encenação é cuidadosamente planejada para manipular a vítima em múltiplos níveis.
Os principais gatilhos psicológicos que os golpistas exploram são:
- Pena e empatia: o golpista “humilde” desperta na vítima um forte desejo de ajudar uma pessoa que parece ingênua e desamparada.
- Ganância: a promessa de ganhar uma grande quantia de dinheiro de forma fácil e rápida em troca de uma simples “ajuda” é extremamente tentadora.
- Prova social falsa: o segundo golpista, o “cidadão de bem”, serve como uma falsa validação. Sua presença e confirmação da história fazem a vítima acreditar que a situação é segura e legítima.
- Urgência e isolamento: a dupla age com pressa e cria um senso de urgência, impedindo que a vítima tenha tempo para pensar com calma ou para ligar e pedir a opinião de um familiar.
Os criminosos são especialistas em ler e selecionar suas vítimas, escolhendo pessoas que demonstram ser mais confiantes e acessíveis, muitas vezes idosos, para aplicar o golpe.
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Como identificar e se proteger da armadilha
A melhor defesa é reconhecer a história assim que ela começa. A premissa de que alguém dividiria um prêmio milionário com um completo estranho na rua é, por si só, o maior sinal de alerta.
- Reconheça a história: se um estranho te abordar na rua com qualquer história sobre prêmios ou dinheiro fácil que precise de sua “ajuda”, identifique-a imediatamente como um possível golpe.
- Recuse a conversa: não se envolva na encenação. Apenas diga “não, obrigado(a)” de forma firme e se afaste do local.
- Nunca entregue dinheiro: jamais saque ou entregue qualquer valor ou bem como “garantia” para um desconhecido, sob nenhuma circunstância.
- Desconfie de “ajudantes”: se uma segunda pessoa surge “do nada” e confirma a história do primeiro estranho, a chance de ser um golpe coordenado é de 100%.
A regra de ouro é: não existe dinheiro fácil com estranhos na rua. Lembre-se que prêmios de loteria são pagos pela Caixa Econômica Federal, e o ganhador nunca precisaria da ajuda de um desconhecido, muito menos pediria dinheiro para isso.
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Fui vítima, o que fazer?
Se você caiu no golpe, sua segurança vem em primeiro lugar. Afaste-se do local, vá para um lugar público e movimentado e, se se sentir ameaçado, peça ajuda ou ligue para a Polícia Militar (190).
Assim que estiver em segurança, registre um Boletim de Ocorrência (B.O.) na Polícia Civil. Forneça o máximo de detalhes que conseguir sobre a aparência e o método dos golpistas.
Converse com seus familiares e amigos. Ser vítima de um golpe é uma experiência traumática, e o apoio de pessoas de confiança é fundamental para lidar com o prejuízo financeiro e emocional.
Este guia serve como um alerta educacional. A longevidade do golpe do bilhete premiado mostra o poder da engenharia social. Compartilhar essa informação é a melhor forma de proteger as pessoas que amamos. Em caso de dúvidas sobre seus direitos, consulte também o Procon.