A tokenização de duplicatas é um dos temas mais relevantes para o futuro do crédito no Brasil, segundo Joyce Saika, vice-presidente de Finanças, Relações Institucionais e Jurídico da Núclea. Em entrevista ao Canal Valores, Joyce explicou como essa inovação tem potencial para destravar até R$ 10 trilhões em crédito para o mercado, beneficiando diretamente empresas e investidores.
A Núclea, antiga Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), passou por um marco importante em 2022 ao se tornar uma empresa S.A. de capital fechado. Desde então, tem atuado como infraestrutura essencial para o mercado financeiro, processando TEDs, boletos, cartões e portabilidade de crédito com altos níveis de segurança e eficiência. Em 2024, a empresa superou os R$ 19 trilhões em transações e segue investindo em tecnologia, blockchain, open finance e IA.
Confira:
O que muda com a duplicata escritural obrigatória a partir de 2026?
A principal mudança está na obrigatoriedade do registro de duplicatas em formato escritural, prevista para o início de 2026. Segundo Joyce Saika, isso representa um divisor de águas no mercado de crédito. Hoje, boa parte das duplicatas mercantis é utilizada por grandes bancos e fundos com estrutura de análise robusta, mas fica inacessível a pequenos financiadores.
Com o novo modelo, todas as duplicatas precisarão estar registradas, o que garante a unicidade e transparência do ativo. Isso facilita a concessão de crédito e permite que FIDCs e investidores tenham acesso a informações seguras para avaliar riscos. O impacto estimado é a liberação de até R$ 10 trilhões em novas oportunidades de crédito para empresas brasileiras.
Como funciona a tokenização de duplicatas hoje?
Mesmo antes da obrigatoriedade regulatória, a Núclea já atua com a tokenização de duplicatas. O processo consiste em transformar uma duplicata em um token digital, com dados e condições programadas em blockchain. Isso permite rastreabilidade, unicidade e integração com outros sistemas de análise de risco e concessão de crédito.
Segundo Joyce Saika, mais de R$ 500 milhões em duplicatas já foram tokenizados por meio da plataforma Núclea Chain, alcançando cerca de 50 mil contratos. A distribuição é feita por parceiros como a ANFI, o que facilita o acesso de financiadores menores e amplia a liquidez desses títulos.
Quais os impactos da tokenização para empresas e investidores?
Para as empresas, a tokenização abre mais uma via de crédito, especialmente para aquelas que já operam com vendas a prazo. Com mais financiadores visualizando suas duplicatas, elas ganham poder de negociação e acesso a taxas mais competitivas, aumentando a capacidade de expansão dos seus negócios.
Para os investidores, principalmente FIDCs, a tokenização permite acesso a um volume maior de ativos, com dados estruturados e segurança regulatória. Isso favorece a diversificação de carteira e melhora a análise de risco, criando um ciclo virtuoso de oferta de crédito mais justo e eficiente.
O que é a Núclea e por que sua estrutura é considerada crítica para o mercado?
A Núclea nasceu como CIP, responsável por conectar bancos e instituições financeiras na era da TED e do SPB. Em 2022, tornou-se uma S.A. e passou a atuar com foco em resultados, parceria com startups e novos segmentos como seguros e mercado imobiliário.
Atualmente, a Núclea processa 100% dos boletos e mais de 70% das transações com cartões de crédito e débito no Brasil. Além disso, lida com consignado, portabilidade de salário e pagamentos B2B, sendo reconhecida pelo Banco Central como uma infraestrutura crítica do sistema financeiro.
Como a tokenização contribui para a eficiência do mercado?
A tokenização digitaliza ativos, melhora integração de sistemas e reduz custos operacionais. Isso é possível graças à rastreabilidade, à imutabilidade dos registros em blockchain e à segurança que essa tecnologia oferece.
Na prática, isso significa que operações que antes dependiam de múltiplas validações manuais podem ser executadas de forma automatizada, com maior confiabilidade. A promessa da tecnologia é tornar o crédito mais barato, seguro e acessível.
Quais outros setores podem ser beneficiados pela tokenização?
Além das duplicatas, a tokenização pode ser aplicada a recebíveis de cartão, ativos imobiliários, apólices de seguros e até ativos ambientais. Segundo Joyce Saika, qualquer ativo que possa servir como garantia pode ser convertido em token.
A Núclea está investindo em startups como a Liquid e a Parfim, com foco em inteligência de dados, blockchain e concessão de crédito para incorporadoras. Esses ecossistemas permitirão ampliar o uso de tecnologias descentralizadas em diversos setores da economia.
O que esperar do futuro da Núclea e da tokenização no Brasil?
A expectativa é que a Núclea continue sua expansão para novos mercados, enquanto fortalece o uso de blockchain e IA para automatizar processos como o Pix automático e integrações via Open Finance. O foco é gerar mais eficiência e inteligência de dados para seus clientes.
Segundo Joyce Saika, em um futuro próximo, a tokenização promete se consolidar como um novo padrão de operação financeira. A previsão é que esse mercado global alcance US$ 16 trilhões até 2030, segundo o Boston Consulting Group, o que reforça a importância do Brasil manter-se na vanguarda dessa evolução.