Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) manifestou a maioria de votos a favor de uma medida importante para assegurar a proteção das vítimas de violência doméstica. A decisão em foco requer que o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) conceda um benefício temporário, similar ao auxílio-doença, a mulheres que necessitem interromper suas atividades profissionais em função da violência sofrida.
Este julgamento é resultado de um recurso que o INSS interpôs, visando reverter um direito concedido a uma trabalhadora no Paraná, onde a Justiça Federal determinou o pagamento de um benefício previdenciário devido ao afastamento permitido pela Lei Maria da Penha.
A Lei Maria da Penha garante o direito de afastamento do trabalho, sem perda salarial, por um período de até seis meses para vítimas de violência doméstica. No entanto, o INSS alegava a falta de previsão legal para obrigá-lo a realizar esses pagamentos.
O impacto da decisão do STF sobre o INSS

O impacto desta decisão é significativo, já que fortalece a interpretação do sistema normativo brasileiro para garantir que mulheres vítimas de violência doméstica não sejam penalizadas financeiramente em razão do afastamento do trabalho. A partir do entendimento do STF, cabe ao INSS realizar os pagamentos do benefício, e posteriormente buscar ressarcimento junto aos agressores, se cabível, por meio de ações regressivas na Justiça Federal. Isso reforça a mensagem de que o Estado deve ser proativo na proteção das mulheres.
Outro ponto relevante é como a decisão cria um precedente jurídico, orientando tribunais inferiores e o próprio INSS sobre a aplicação da Lei Maria da Penha em situações similares. Em nível prático, o reconhecimento da obrigação previdenciária tende a motivar mudanças administrativas para responder mais rapidamente às necessidades das vítimas. A atuação mais ágil e eficiente do INSS será fundamental para que o direito ao afastamento seja, de fato, efetivo.
Tal decisão ainda pode influenciar futuras discussões legislativas e políticas públicas, levando o Congresso e o Executivo a aprimorarem a legislação relacionada à violência de gênero e proteção social. Estes avanços visam criar uma rede de amparo mais robusta para as mulheres que enfrentam a complexa realidade da violência doméstica no país.
Como será assegurado o direito ao afastamento?
A efetivação do direito ao afastamento se dará tanto para trabalhadoras com vínculo formal, que poderão receber o benefício previdenciário, quanto para aquelas em situação de informalidade, que poderão acessar medidas assistenciais mediante comprovação da incapacidade para o trabalho. Isto possibilita uma proteção mais ampla, contemplando diversas realidades laborais enfrentadas pelas mulheres brasileiras.
Além da remuneração assegurada durante o afastamento, outros benefícios trabalhistas, como a manutenção do recolhimento ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), ao INSS e a contagem do tempo de serviço, serão preservados. Essa abordagem evita a dupla penalização das vítimas, que já sofrem com as consequências da violência.
Instituições públicas e privadas deverão adotar medidas de orientação, esclarecimento e acompanhamento para garantir que as informações cheguem a todas as potenciais beneficiárias. O acompanhamento psicossocial, aliado à facilitação do acesso aos benefícios, se torna vital na reintegração dessas mulheres ao mercado de trabalho e à retomada de suas vidas em segurança.
Desafios e estratégias para a implementação da decisão
A implantação da decisão exigirá ajustes operacionais significativos por parte do INSS e dos órgãos de assistência social, principalmente no que diz respeito à definição de fluxos ágeis para a concessão dos benefícios. A capacidade de identificar rapidamente as trabalhadoras elegíveis será crucial para o cumprimento efetivo da medida judicial. Capacitar servidores e melhorar o diálogo entre o Judiciário e o INSS são tarefas prioritárias.
Outro desafio está relacionado à arrecadação dos recursos para manter o sistema sustentável, considerando o potencial aumento na demanda por benefícios temporários em função da nova orientação judicial. Uma estratégia sugerida é o foco em campanhas de divulgação, para que vítimas saibam de seus direitos e possam buscar apoio institucional sem medo de represálias ou de ausência de amparo financeiro.
Cabe ainda ao Legislativo e ao Executivo criar mecanismos de fiscalização do cumprimento dessas medidas, promovendo o acompanhamento sistemático dos casos e estabelecendo punições para eventuais descumprimentos. O monitoramento constante fará com que o sistema seja aprimorado, trazendo mais segurança para as mulheres que dele necessitam.
O papel do judiciário e a proteção integral das vítimas
O STF destacou a importância do Judiciário não apenas como árbitro de conflitos, mas como ente garantidor de direitos em situações emergenciais e de vulnerabilidade. A decisão amplia a compreensão de medidas protetivas, vinculando o direito à segurança financeira ao direito à integridade física e psicológica das mulheres. Assim, o Judiciário reafirma seu papel na promoção da justiça social.
A flexibilidade interpretativa do sistema jurídico foi fundamental para assegurar a proteção mesmo diante de omissões ou ambiguidades na legislação vigente. O ativismo judicial, nesse contexto, cumpre a função de acelerar respostas a demandas da sociedade e fortalecer políticas públicas focalizadas na erradicação da violência de gênero.
Para além do aspecto individual, a decisão do STF tem alcance coletivo, pois serve como paradigma para outros casos análogos, reforçando a confiança de mulheres brasileiras de que encontrarão respaldo no Judiciário quando vítimas de violência doméstica.
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Consequências sociais e econômicas da medida
Socialmente, a ampliação dos direitos de proteção estimula mais vítimas a denunciarem situações de violência, sabendo que não ficarão desamparadas caso precisem se afastar de seus trabalhos. Essa segurança pode ser fundamental para romper o ciclo de violência, apoiando a reconstrução da autonomia das mulheres.
No âmbito econômico, preserva-se o vínculo empregatício e a estabilidade financeira, evitando que mulheres caiam na informalidade ou no desemprego forçado devido ao afastamento obrigatório. A ação do INSS garante a circulação de recursos e o cumprimento das obrigações legais, mantendo o equilíbrio do sistema previdenciário.