Por Juan Schiavo*
Por que setembro pode marcar um ponto de inflexão para os mercados globais? Os dados econômicos mais recentes estão pavimentando o caminho para o início dos ciclos de corte de juros nos EUA e no Brasil.
Nos Estados Unidos, o movimento pode começar já em setembro. No Brasil, embora o mercado precifique o início somente em 2026, sinais crescentes indicam a possibilidade de antecipação para dezembro de 2025.
Ainda não se projeta uma Selic de um dígito no curto prazo, mas a redução gradual do nível extremamente restritivo atual, com juros nominais de 15% e reais acima de 8%, já representa um passo importante para aliviar as condições financeiras da economia.
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Agosto reforçou, portanto, a importância de monitorar atentamente a evolução da atividade, da inflação e das políticas monetárias globais. O pano de fundo para os mercados de risco permanece favorável, embora permeado por incertezas geopolíticas, comerciais e fiscais. Um mês de ganhos expressivos no mercado doméstico, liderados pela bolsa, que avançou 6,28% e encerrou o período acima dos 141 mil pontos.
O real encerrou com forte valorização frente ao dólar, superior a 3%, recuperando parte da rentabilidade após julho, quando a moeda americana e o DXY se fortaleceram globalmente.
No ambiente internacional, o mês também foi positivo. O S&P 500 avançou 1,58% e o Nasdaq subiu 1,91%, renovando máximas históricas e confirmando o forte apetite por ativos de tecnologia.
A divulgação de um Payroll abaixo das expectativas e a leitura de inflação em linha reforçaram a percepção de que o Federal Reserve pode iniciar cortes de juros já em setembro. A reação imediata veio no mercado de Treasuries, com queda significativa dos yields, alimentando a expectativa de flexibilização monetária nos EUA.
Esse movimento deu suporte ao apetite global por risco, beneficiando moedas emergentes e ativos internacionais de crédito. A performance da renda fixa internacional se manteve consistente, e o ouro continuou sendo buscado como ativo de diversificação frente às incertezas geopolíticas.
Atividade econômica e inflação
Do lado da atividade econômica, os indicadores de curto prazo confirmaram um processo de desaceleração mais acentuada. O PIB do segundo trimestre foi revisto para baixo, enquanto o varejo, a indústria e os serviços mostraram perda de dinamismo. Além disso, a renda das famílias segue fortemente comprometida pelo alto nível de endividamento, limitando o espaço para expansão do consumo.
A combinação de atividade mais fraca e inflação em trajetória de desaceleração tem aberto espaço para que o Banco Central passe a discutir o início do ciclo de corte de juros. As pressões inflacionárias, que eram significativas no início do ano, agora se mostram menos intensas e com tendência de acomodação, sobretudo nos serviços.
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O IPCA de julho subiu 0,26% m/m (5,23% a/a), resultado abaixo das expectativas. O núcleo de serviços segue mostrando arrefecimento, confirmando a tendência de moderação. Nos bens industriais, a dinâmica também permanece favorável, com preços em queda e sem pressões relevantes de custos.
Ao longo dos últimos meses temos observado relevante queda nas projeções de inflação para 2025, que no início do ano se aproximavam de 6% a.a. e no Boletim Focus mais recente tem convergido para baixo dos 5% ao ano. Essa dinâmica inflacionária coloca menor pressão sob o Banco Central e permite perceber o impacto dos juros mais elevados sobre os indicadores diversos de inflação.
*Juan Schiavo é Portfolio Manager no Cimo Family Office — consultoria em investimentos, especializada em famillies offices.