Depois de cinco manutenções consecutivas, o Federal Reserve (Fed) decidiu cortar, em 0,25 ponto percentual (p.p.), a taxa básica de juros dos EUA para o intervalo de 4% a 4,25% ao ano. A decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) foi divulgada na tarde desta “super quarta” (17).
O corte marca o início do ciclo de afrouxamento monetário na maior economia do mundo, que vinha sendo fortemente solicitado por Donald Trump, presidente dos EUA. Curiosamente, esta é a primeira queda nos juros durante seu segundo mandato — feita somente na sexta reunião desde tomou voltou a Casa Branca.
Onze dos doze membros votaram por uma queda de 0,25 p.p. Somente Stephen Miran votou contra, optando por um corte maior, de 0,5 p.p.
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Segundo o comunicado, indicadores recentes indicam um crescimento moderado da economia no primeiro semestre do ano. O ritmo de criação de empregos apresentou desaceleração, e a taxa de desemprego registrou uma leve elevação, embora ainda permaneça em patamares baixos. A inflação registrou alta e continua elevada.
O Comitê destacou que as incertezas sobre as perspectivas econômicas — incluindo mercado de trabalho, pressões inflacionárias e cenário internacional — continuam altas e ainda preocupam.
Além disso, o Fed seguirá diminuindo suas participações em títulos do Tesouro, dívidas de agências e títulos lastreados em hipotecas de agências (MBS).
Reação dos mercados
Após a divulgação, às 15h15 (horário de Brasília), as bolsas em Nova York continuaram operando mistas à espera da entrevista coletiva de Jerome Powell, presidente do Fed: Dow Jones +0,70%; S&P500 -0,13%; Nasdaq -0,56%.
No Brasil, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, continua operando na máxima histórica, com alta de 1,43%, aos 146.117 pontos, enquanto o dólar virou e passou a cair 0,18% (R$ 5,29).
Trump x Powell
A tomada de decisão sobre os juros é o principal motivo da briga entre o presidente do banco central americano e o presidente do país. Trump vem há tempos criticando o mandato de Powell, dizendo abertamente que ele está “demorando muito” para cortar a taxa de juros. O conflito, inclusive, fez Trump apelidar Powell de: Jerome “Too Late” Powell (atrasado, em inglês).
Durante o Simpósio de Jackson Hole, Powell mencionou as políticas de Trump (como a taxação de produtos estrangeiros) como prejudiciais à inflação, comentando que há uma grande incerteza sobre quando todas essas políticas se acalmarão e quais serão seus efeitos duradouros na economia.
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“Os efeitos das tarifas nos preços aos consumidores estão claramente visíveis. Nós esperamos que esses efeitos se acumulem nos próximos meses, com o aumento das incertezas”, afirmou.
Questionado pela imprensa sobre uma possível demissão de Powell, o presidente dos EUA recuou, mas manteve as críticas à atual política monetária.
Trump, no entanto, delegou a Scott Bessent, secretário do Tesouro americano, que entrevistasse uma série de candidatos ao cargo, praticamente descartando uma renovação do mandato do atual presidente, que deixa o posto somente em 2026.
Manutenção dos juros nos EUA era esperada
Pouco após a abertura do mercado, às 11h30 (horário de brasília), 100% dos analistas cravavam um corte na taxa de juros dos EUA, segundo o monitoramento do CME Group (veja na imagem abaixo).

A diferença é que 93,8% acreditam em um corte de 0,25 p.p., enquanto apenas 6,2% viam a possibilidade de um corte mais agressivo, de 0,5 p.p.
Para a próxima reunião, que acontecerá em 29 de outubro, a maioria das apostas indica outro corte na taxa (76,4%). Destes, 71,8% espera mais uma redução de 0,25 ponto percentual (p.p.).
O gráfico de pontos, divulgado junto com a decisão, mostrou que nove dirigentes veem os juros entre 3,50% e 3,75% no fim de 2025 — projetando mais dois cortes.
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Por que os juros dos EUA subiram tanto nos últimos anos?
Com a pandemia da Covid-19 e a guerra entre Ucrânia e Rússia, a inflação dos Estados Unidos subiu exponencialmente, chegando a atingir a maior inflação em 40 anos em 2022 (9,1%).
A taxa básica de juros serve para desacelerar a economia, assim controlando a inflação. Ou seja, conforme a inflação subiu, os juros nos EUA subiam.
Em maio de 2023, depois de 10 altas consecutivas, o Fed parece ter encontrado um intervalo estável para controlar a inflação (entre 5,25% e 5,5% ao ano). Os juros só começaram a cair em setembro de 2024, quando tivemos o primeiro corte desde 2020.