O consultor financeiro Gustavo Cerbasi aparece como uma voz crítica sobre o cenário econômico brasileiro, ao apontar como a taxa básica de juros (Selic) alta pode tornar a renda fixa atraente no curto prazo, mas compromete o crescimento econômico e a criação de empregos.
Em seu vídeo intitulado “O investidor não gosta da taxa SELIC em patamares altos”, ele ressalta que investidores em ações tendem a olhar para a valorização estrutural das empresas, e que o ambiente de juros elevados pode desencorajar esses investimentos.
Cerbasi aborda o problema do endividamento dos brasileiros, atribuindo parte dele a decisões exageradas ou à falta de planejamento para custos sazonais ou não mensais. Para enfrentar isso, ele sugere uma abordagem tripla: reduzir gastos com um estilo mais minimalista, aumentar a renda e negociar ativamente dívidas, idealmente aproveitando oportunidades como os feirões “limpa nome”.
O autor conclui lamentando que o alto endividamento associado à Selic elevada torna difícil enxergar sinais de recuperação na economia brasileira a curto prazo.
Confira:
O que é a taxa Selic e por que ela influencia tanto a economia?
A taxa Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, e serve como referência para empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras.
Quando a Selic sobe, o custo do crédito também aumenta para empresas e consumidores, sendo que essa elevação tende a frear o consumo, ampliar juros bancários e desestimular crédito. Ao mesmo tempo, investimentos em renda fixa ficam mais atraentes, porque eles oferecem retornos seguros atrelados ao juro básico.
Por outro lado, para conter a inflação, o BC pode usar a Selic como instrumento monetário contracionista. O dilema é que juros mais altos também reduzem o ritmo de atividade econômica, comprometem investimento produtivo e podem atrapalhar a geração de empregos.
Por que Gustavo Cerbasi afirma que renda fixa e juros elevados travam o crescimento?
Gustavo Cerbasi sustenta que a renda fixa, quando favorecida pela Selic alta, acaba atraindo muitos investidores que priorizam segurança imediata e rendimento anual. Isso reduz o apetite por investimentos em ações ou ativos de risco, que operam com foco no valor de longo prazo. Essa migração pode prejudicar empresas que dependem de capital para expandir, inovar ou contratar.
Um argumento complementar, presente em colunas econômicas, é que uma Selic acima de 14% ao ano gera reflexos nocivos no mercado real, tornando difícil para empresas levantarem recursos via emissão de ações ou debêntures, diminui o apetite por crédito produtivo e reduz a liquidez nos ativos de risco.
Além disso, o setor de construção civil já sofre: com juros altos, famílias adiam reformas ou novas obras, e o financiamento de materiais ou empreendimentos fica mais caro, reduzindo a demanda e pressionando a atividade econômica.
Como o alto endividamento das famílias se conecta com esse cenário de juros elevados?
Cerbasi atribui parte do endividamento às “escolhas exageradas” (compras não planejadas) ou à incapacidade de orçar custos não mensais (como impostos, manutenções), o que ele considera um erro de planejamento financeiro. De fato, em ambientes de juros altos, o crédito rotativo, cheque especial e parcelamentos com taxas elevadas tornam-se ainda mais custosos para quem já está no limite. O custo de carregar dívidas aumenta rapidamente.
Quando muitos recursos são direcionados a pagar juros, sobra menos para consumo ou investimento pessoal, o que afeta o desempenho econômico agregado. Para Cerbasi, o caminho para o equilíbrio financeiro passa também por educação financeira acessível, que faz o cidadão a tomar decisões mais conscientes sobre consumo e crédito.
Quais estratégias são propostas para sair dessa armadilha do endividamento?
Existe três frentes para combater o endividamento, com enfoque prático:
- Reduzir gastos: adotar um estilo mais minimalista, repensando despesas supérfluas e ajustando prioridades;
- Aumentar a renda: buscar fontes extras de rendimento, seja por freelancing, trabalho autônomo ou empreendedorismo;
- Negociar dívidas: entrar em contato com credores, renegociar juros, aproveitar feirões “limpa nome” e alternativas de refinanciamento.
Essas ações são coerentes com orientações de educação financeira encontradas em órgãos e especialistas: controlar despesas, priorizar dívidas de maior custo e buscar renegociação quando possível. Em ambientes de juros elevados, agir preventivamente nessas três frentes pode evitar que as dívidas se tornem impagáveis.









