As despesas do governo Lula, incluindo gastos da União, estados e municípios, ultrapassou o montante de R$ 4,1 trilhões em 2025, de acordo com o painel Gasto Brasil, da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) e Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
O valor foi atingido três meses antes do fim do ano, revelando uma aceleração inédita nos gastos públicos e grande disparidade frente à arrecadação.
Apesar de arrecadar mais em 2025, o país gastou cerca de R$ 1 trilhão a mais do que arrecadou. Para especialistas, o ritmo das despesas pressiona o equilíbrio fiscal e amplia os desafios para o governo cumprir as metas de resultado primário e de dívida pública.
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Despesas do governo Lula devem acelerar ainda mais em 2026
Os dados do painel também mostram que o país tem ampliado seus gastos a um ritmo de R$ 100 bilhões por mês, enquanto a arrecadação cresce mais lentamente.
Segundo o consultor da CACB e idealizador do projeto, Cláudio Queiroz, o aumento das despesas ocorre de forma cada vez mais antecipada. Em 2018, o país levou 104 dias para chegar à marca de R$ 1 trilhão em despesas, enquanto em 2025 essa marca foi atingida em apenas 77 dias.
Queiroz complementa com mais comparações: “Em 2018, o gasto de R$ 1,5 trilhão levou 155 dias para ser alcançado. Agora, em 2025, atingimos esse patamar em 116 dias. Ou seja, estamos antecipando o gasto em quase 40 dias”, detalha.
A previsão da CACB é que em 2026 o gasto de R$ 4 trilhões seja alcançado em cerca de 268 dias, ainda mais cedo do que neste ano.
“O governo precisa agir com cuidado, evitar medidas populistas e adotar uma administração eficiente para garantir o controle fiscal”, alerta Queiroz.
Composição do gasto federal
De acordo com o Tesouro Nacional, as despesas do Governo Central (que englobam Tesouro, Previdência e Banco Central) somam R$ 1,754 trilhão até o momento.
Esses gastos se distribuem em mais de 60 itens agrupados em 28 categorias, sendo que 11 delas respondem por 96% do total. As duas maiores são Previdência e Despesas com Pessoal e Encargos Sociais, que juntas equivalem à cerca de 60% das despesas federais.
Quando somadas aos investimentos e às inversões financeiras, essas quatro categorias concentram aproximadamente 65% do total de gastos da União.
Os dados apurados pela Gasto Brasil indicam ainda que:
- Previdência representa entre 40% e 43% do total das despesas do Governo Central
- Pessoal e encargos sociais correspondem a 17%
- Investimentos e inversões financeiras permanecem em patamares baixos, com menos de 5% do total
- As “Outras Despesas Correntes”, que incluem benefícios, manutenção da máquina pública e restos a pagar, cresceram acima da média e superam R$ 300 bilhões no acumulado bimestral
“Quase 88% do orçamento está concentrado em previdência, despesas de pessoal e programas sociais. O governo precisa olhar com atenção para esse tipo de despesa para equilibrar as contas”, afirma Queiroz.
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Diferença entre gasto e arrecadação no governo Lula chega a R$ 1 trilhão
Queiroz destaca que a previsão de arrecadação para o governo em 2025 é de R$ 3,081 trilhões, enquanto as despesas totais devem alcançar R$ 4,97 trilhões, uma diferença de quase R$ 1 trilhão.
O especialista observa que, sem reformas estruturais, o crescimento das despesas tende a se manter.
“Se o governo não fizer uma reforma administrativa e previdenciária, não vai conseguir segurar os gastos. É necessário garantir que os recursos sejam bem aplicados e evitar distorções”, avalia.
Arrecadação avança, mas desequilíbrio permanece
Segundo o Impostômetro, os brasileiros já pagaram mais de R$ 3 trilhões em impostos até 7 de outubro de 2025. A marca foi atingida 25 dias antes do que no ano passado, quando o mesmo patamar só foi alcançado em novembro.
O economista do Instituto Gastão Vidigal da ACSP, Ulisses Ruiz de Gamboa, explica que esse avanço é reflexo do consumo aquecido e da inflação: “O sistema tributário brasileiro é fortemente baseado em tributos sobre o consumo, que incidem diretamente sobre os preços de bens e serviços”, afirma.
Mesmo assim, Gamboa alerta que o desequilíbrio entre arrecadação e despesas primárias mostra que o país está operando no vermelho mesmo antes de pagar os juros da dívida.
“Isso compromete a sustentabilidade fiscal e pressiona ainda mais a necessidade de ajustes estruturais nas contas públicas”, diz.
O economista lembra que o Brasil tem uma carga tributária próxima de 40% do PIB, semelhante à do Reino Unido, mas com renda per capita muito menor.
“Temos um Estado excessivamente grande, que consome quase metade do PIB. Isso reduz o crescimento econômico, afeta a produtividade e o poder de compra da população”, avalia Gamboa.
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Pressão fiscal e medidas populistas do governo Lula
Mesmo com o cenário de restrição fiscal, o governo Lula anunciou novos programas com subsídios, como o programa de moradias populares, que utilizará recursos do Fundo Social do Pré-Sal.
O custo estimado é de R$ 7 bilhões, com meta de financiar R$ 30 bilhões em crédito habitacional. Esse fundo, criado em 2010 para financiar educação, saúde e meio ambiente, passou a ter uso ampliado por lei em 2024.
Além disso, o governo busca acordo no Senado para aprovar o projeto que retira os gastos com o tarifaço das metas fiscais de 2025 e 2026, medida que, segundo a equipe econômica, evitaria um impacto adicional de R$ 9,5 bilhões nas metas fiscais.
“O governo que assumir em 2027, seja ele qual for, vai precisar agir rápido. Será preciso cortar gastos e melhorar a gestão pública. A conta já chegou”, resume Cláudio Queiroz.