A prévia do Produto Interno Bruto (PIB) medida pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) voltou a crescer em agosto, registrando alta de 0,4% em relação a julho (na série com ajuste sazonal) segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta quinta-feira (16).
O resultado veio abaixo da expectativa de mercado, porém interrompe uma sequência de retração observada nos três meses anteriores. Em julho, o índice recuou 0,52%, conforme dado revisado.
No trimestre encerrado em agosto, o indicador registrou uma retração de 1% em comparação aos três meses anteriores, refletindo uma perda de fôlego da economia no curto prazo. Já na comparação com agosto de 2024, o IBC-Br teve uma leve expansão de 0,1%.
Em 12 meses, o índice acumula alta de 3,2%, enquanto o resultado do ano até agosto mostra crescimento de 2,6%. Esses números indicam que, apesar das oscilações mensais, o ritmo de atividade mantém trajetória positiva em relação a 2024.
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Prévia do PIB em agosto não compensa retração anterior
António Ricciardi, economista do Banco Daycoval, analisa que o crescimento de 0,4% do índice em agosto não compensa a queda de 0,5% observada no mês anterior, mas contribui para o crescimento negativo do IBC-BR.
Esse comportamento, segundo o economista, não é restrito ao índice geral, uma vez que tanto a indústria quanto o setor de serviços tiveram desempenho positivo, mas não superaram as quedas observadas anteriormente.
Somando esses dados, o desempenho do setor da atividade econômica no terceiro trimestre revela uma fraqueza maior que a projetada antes dos resultados.
Para o economista Maykon Douglas, o resultado do IBC-Br de agosto reforça o quadro de arrefecimento gradual da atividade doméstica, mas com certa heterogeneidade, visto que os setores mais sensíveis ao crédito têm sofrido mais.
O especialista cita como exemplo o desempenho da indústria, que apesar da alta em agosto, somava quedas consecutivas, com um mau desempenho da indústria de transformação. A base de cálculo menor, segundo ele, explica grande parte desse resultado.
Setores econômicos destoam em agosto
A abertura setorial do IBC-Br evidenciou movimentos distintos entre os segmentos da economia. A agropecuária recuou 1,9% no mês, influenciada principalmente pela redução da produção agrícola.
Em contrapartida, a indústria avançou 0,8%, impulsionando o resultado agregado. O setor de serviços cresceu 0,2%, e o componente de impostos teve elevação de 0,7%.
O indicador que exclui o desempenho do campo, o IBC-Br Ex-Agropecuária, também apresentou alta de 0,4%, sinalizando que o crescimento veio principalmente de atividades urbanas.
Dados setoriais podem divergir em relação às fontes
Segundo o Banco Central, diferenças metodológicas entre o IBC-Br e o Produto Interno Bruto (PIB), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), podem resultar em divergências, especialmente nas análises por setor.
O IBC-Br é divulgado mensalmente e busca oferecer uma leitura rápida do nível de atividade, enquanto o PIB, trimestral, apresenta uma visão mais abrangente da economia.
A média móvel trimestral do índice, que ajuda a identificar tendências ao suavizar as variações mensais, mostrou leve queda de 0,11% em relação ao trimestre encerrado em julho, sugerindo desaceleração gradual do ritmo econômico.
Corroborando esse cenário, Ricciardi analisa que a taxa de crescimento do IBC-Br na comparação anual recuou de 3,6% em maio para 0,1% em agosto, mostrando uma desaceleração acentuada, movimento este que foi disseminado entre todos os setores que compõem o índice — a indústria passou de alta de 3,6% para queda de 0,8%, enquanto os serviços reduziram o crescimento de 3,2% para 0,6% no mesmo período.
Nessa análise, o resultado mais fraco reforça a percepção de que o desempenho da atividade econômica no terceiro trimestre deve ficar abaixo do esperado, tanto pelas projeções de mercado quanto pelas próprias estimativas do Banco Central.
Efeitos pontuais e estimativas para o PIB
Ricciardi enfatiza que eram esperados os efeitos dos precatórios pagos em julho sobre a atividade econômica e principalmente no PIB de serviços pela ótica de oferta, o que não aconteceu.
Segundo o especialista, isso deve acarretar um viés de baixa tanto no terceiro trimestre quanto para o PIB deste ano, sobretudo se em setembro o IBC-Br registrar estabilidade: “Nós temos atualmente uma estabilidade (+0,1%) para o PIB no terceiro trimestre, mas o viés é de baixa, a depender dos dados, para um resultado no terreno negativo”, completa.
O economista estima um crescimento em torno de 0,3% em agosto, o que revelaria uma queda de 0,7% para o terceiro trimestre no IBC-Br.
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Já Maykon Douglas estima um crescimento de 0,3% para o PIB no terceiro trimestre ante o segundo e prevê um crescimento de 2,2% em 2025.
Para Douglas, a economia deve sentir mais os efeitos dos juros elevados nos próximos meses, ainda que as medidas econômicas do governo federal e a resiliência do mercado de trabalho evitem uma desaceleração maior do consumo sensível à renda.









