A atividade econômica dos EUA registrou pouca mudança nas últimas semanas, segundo o Livro Bege, do Federal Reserve (Fed), que reúne informações dos 12 distritos regionais. O relatório mostrou que a maioria das regiões relatou estabilidade, enquanto duas apontaram queda modesta e uma indicou leve crescimento.
Apesar de não mostrar mudanças relevantes, alguns contatos empresariais — feitos pelo Fed — passaram a ver risco maior de desaceleração nos próximos meses. Entre fabricantes, porém, houve relatos de algum otimismo.
A inflação avançou de forma moderada no período analisado. Indústrias e varejistas registraram aumento de custos por causa de tarifas, além de despesas mais altas em seguros, tecnologia, energia e serviços de saúde.
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A capacidade das empresas de repassar custos ao consumidor variou, dependendo da demanda e da sensibilidade dos compradores. Em alguns setores, margens ficaram pressionadas.
Alguns insumos registraram queda de preços, reflexo de menor demanda ou redução de tarifas. As empresas esperam que a pressão de custos continue, mas não há consenso sobre novos reajustes no curto prazo.
Já o emprego recuou ligeiramente, com metade dos distritos relatando enfraquecimento na demanda por trabalhadores. Apesar do aumento nas demissões anunciadas, empresas preferiram congelar contratações ou repor apenas parte das vagas abertas.
Alguns empregadores ajustaram apenas a carga horária, e não os quadros, para lidar com oscilações de demanda. Houve relatos de substituição de funções iniciais por ferramentas de inteligência artificial.
A oferta de trabalhadores melhorou, mas ainda há dificuldade para vagas que exigem alta qualificação. Os salários continuaram avançando em ritmo modesto, com maior pressão em setores como manufatura, construção e saúde.
Além disso, o consumo recuou novamente, especialmente no varejo tradicional, embora o segmento de maior renda tenha mostrado resiliência.
Livro Bege destaca impacto do shutdown
Varejistas relataram que a paralisação parcial do governo (shutdown) afetou compras de consumidores. Concessionárias observaram queda nas vendas de veículos elétricos após o fim do crédito tributário federal que beneficiava esses modelos.
As atividades de turismo ficaram praticamente estáveis, com consumidores demonstrando cautela em gastos discricionários — compras que não são essenciais.
Organizações comunitárias registraram aumento na demanda por ajuda alimentar, em parte devido a interrupções no programa SNAP durante o shutdown.
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Desempenho em outros setores
O Livro Bege também mostrou variações em outros setores. A manufatura registrou leve expansão na maior parte dos distritos. Porém, tarifas e incertezas relacionadas às políticas comerciais continuam pesando sobre os produtores.
Nos serviços não financeiros, as receitas ficaram estáveis ou em queda. A demanda por crédito apresentou comportamento misto, sem uma tendência uniforme entre os distritos.
A construção residencial diminuiu em algumas regiões e ficou estável em outras. As vendas de imóveis variaram conforme o distrito. Algumas regiões observaram sinais de recuperação no mercado de escritórios, segmento pressionado desde a pandemia.
No setor agrícola e energético, as condições foram estáveis, mas produtores relataram desafios associados aos preços mais baixos do petróleo e de algumas commodities.
Análise: “consumo fraco reforça incertezas para o Fed”
Segundo Bruno Yamashita, analista de alocação e inteligência da Avenue, os dados do Livro Bege se alinham ao enfraquecimento já observado em indicadores recentes. “Não houve tanta mudança em relação ao mês anterior, mas dá para contrastar com a piora na confiança do consumidor e as vendas no varejo mais fracas”, afirma.
Para Yamashita, o relatório sugere uma bifurcação no comportamento do consumo. Ele explica que famílias de renda mais alta seguem gastando com itens não essenciais, enquanto os consumidores de renda média e baixa começam a sentir mais as incertezas econômicas.
