Dar o primeiro passo no mundo dos investimentos é, efetivamente, a parte mais difícil. O que torna esse primeiro momento mais complicado é a ideia de que para investir é preciso dar uma tacada certeira e resolver toda a sua vida financeira escolhendo o ativo que vai se valorizar nos próximos dias ou meses.
É um engano até natural em um mercado jovem como o brasileiro, que há cinco anos tinha cerca de apenas 600 mil pessoas investindo na Bolsa de valores.
Com pouca informação sobre o assunto, as conversas sobre o tema acabam se concentrando em uma pessoa que lucrou milhões porque comprou uma ação (ou criptomoeda) até então desconhecida ou em outra que perdeu tudo com uma aposta errada.
A partir dessas conversas e exemplos, o investidor acaba formando a sua meta de investimento: prever os próximos movimentos do mercado. E é aí que está o maior erro dos investidores, na visão do gestor da Titan Capital, Thiago Raymon.
O objetivo que se deve ter na hora de montar sua carteira de investimentos não pode ser prever o mercado. “Eu preciso preparar um portfólio que, caso uma determinada informação mudar o preço de alguns dos meus ativos, eu também surfe com isso”, disse Raymon, nesta quinta-feira (27), ao falar no Café do Mercado.
Em outras palavras, para montar uma carteira de investimentos, é preciso investir de forma diversificada e plural, para que seus investimentos possam se complementar e nos momentos em que eles estiverem em baixa, um possa compensar o outro.
Assim, é essencial olhar o mapa inteiro para, quando os papéis de um setor estiverem em baixa, outros ativos se beneficiem da queda. Da mesma forma, em época de estabilidade, é preciso que cresçam juntos.
Outro aspecto que se deve ter em mente quando se forma uma carteira é que ela precisa suportar a volatilidade (o sobe e desce) do mercado. “A gente vai construindo uma carteira para que ela possa mitigar o nosso risco, que é dar o mesmo retorno esperado para os investidores, mas correndo menos riscos”, disse Raymon.
O segredo para evitar isso não está em buscar os que mais se valorizaram ou os que mais caíram nos últimos anos, mas investir de olho na correlação.
“A correlação entre esses ativos é o que faz a gente buscar o melhor portfólio, a melhor combinação, dado o retorno que buscamos”, explica o especialista.
A ideia é corroborada por um estudo feito pela gestora Pandhora, que montou carteiras com fundos de investimento, levando em conta apenas a descorrelação entre eles.
Ao fim do experimento, notaram que essas carteiras tiveram desempenho melhor do que outras formadas pelos ativos com histórico de melhores desempenhos ou melhores sharpes (indicador que mostra a relação risco x retorno). Leia mais sobre o estudo aqui.
Otimismo limitado
Também é preciso entender que faz parte de investir ter resultados negativos. E na formulação de um portfólio efetivamente diversificado, é até esperado que alguns ativos estejam em queda, mas que a carteira, como um todo, reaja bem.
“Nunca vamos colocar na carteira ativos que só sobem, porque, em determinado momento, quando o jogo mudar, tudo cai junto”, disse Thiago Raymon.
Ao fim, a diversificação vai além de ter várias ações de setores diferentes, pois o mercado de ações às vezes cai junto. Assim, ativos como fundos imobiliários, ouro e dólar, entre outros, devem ser sempre considerados na hora de definir os caminhos do investimento.
O estrategista Eduardo Marzbanian (CNPI-P), especialista em analisar gráficos de ações e outros ativos, aponta que quem quer seguir o caminho da diversificação precisa “primeiro, dividir, não concentrar carteira, depois, dividir em coisas com retornos diferentes, mesmo que seja uma correlação negativa nos papéis, para diminuir o risco e a volatilidade na carteira”.
Veja o Café do Mercado, com Eduardo Marzbanian e Thiago Raymon: