Ao criticar a Vale, em entrevista para a RedeTV!, na última terça-feira (27), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu ir (muito) além de ataques ao comando da empresa e de suas atitudes em relação aos desastres de Brumadinho e Mariana. Saiu-se com a seguinte pérola: “Empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro”.
Responsabilizar a Vale por seus erros, acusá-la de usar seu marketing para fazer “greenwashing” (criar uma falsa imagem ligada à sustentabilidade) e exigir postura de sua diretoria é algo que pode ser feito, sim, pelo governo. A Previ, fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil, afinal, tem quase 9% das ações da empresa.
Agora, ordenar que empresas estejam “de acordo com o pensamento do governo” é outra coisa. É escancarar a porta da política econômica do favoritismo e do apadrinhamento do capital. E afastar grandes investidores.
Grandes investidores que, aliás, venderam às pressas ações da Petrobras nesta semana, após declarações do presidente da companhia, Jean Paul Prates. Em entrevista à Bloomberg, ele jogou água no chope de quem comprou os papéis em busca dos gordos dividendos pagos nos últimos anos. O papel despencou.
Nessas horas, dizer que foi mal interpretado não cabe a políticos com tantos anos de experiência.
Brigar com o mercado financeiro é uma luta quixotesca, que dificilmente vai melhorar a vida dos brasileiros. O mercado e a economia real correm em raias diferentes.
Mirar seus canhões para os gigantes nacionais gera ruídos e lucro para alguns especuladores, com a movimentação abrupta das ações, mas tira a atenção do que realmente importa.
Esse é um trecho da coluna que escrevo semanalmente para a Folha de S.Paulo. Clique aqui para ler a íntegra.