O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta manhã que o processo inflacionário do país está convergindo dentro do esperado, mesmo que as expectativas preocupem os membros da instituição. As declarações foram dadas durante evento em São Paulo nesta manhã (7).
O executivo afirmou que os dados do principal indicador da inflação brasileira, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), terem vindo melhores do que o esperado, tanto em quantidade quanto em qualidade, foi importante neste momento.
“O fato é que não temos visto ainda essa correlação [qualidade e quantidade] aparecer nos números de inflação, e o último número veio até melhor nesse sentido. Estamos olhando a inflação presente, vindo em linha com a convergência esperada”, disse.
Campos Neto cita impactos do RS na economia
De acordo com Campos Neto, o BC segue de olho nos possíveis impactos das enchentes no Rio Grande do Sul (RS) na economia brasileira no segundo semestre. O dirigente reforçou a necessidade de uma análise mais cautelosa, mas disse acreditar que a inflação pode ser impactada pelos acontecimentos.
Um dos principais setores que tendem a serem afetados nos próximos meses é o de Alimentos. As enchentes no RS são capazes de pressionar os preços dos alimentos, principalmente de cereais e grãos.
O impacto da tragédia na atividade econômica vem gerando preocupações sobre os números do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos trimestres.
Na visão de Campos Neto, a maior incerteza rondam os dados do segundo trimestre. “Temos visto oscilação grande em termos de expectativa, não só no custo de reconstrução, mas também no impacto de crescimento, então estamos nos aprofundando um pouco nisso”, afirmou.
Autonomia do BC voltou a ser tema
Durante o painel, Campos Neto voltou a falar sobre a autonomia de autoridades monetárias como o Banco Central. Segundo ele, uma instituição como o BC pode ter autonomia operacional, ao mesmo tempo, em que sofre pela falta de autonomia administrativa e financeira.
Na última quarta-feira (5) foi entregue uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado que discute a autonomia operacional do Banco Central. A PEC faria com que o BC se transformasse de uma autarquia federal vinculada, para uma empresa pública.
O texto será votado na CCJ antes de tramitar no Senado e na Câmara nos próximos meses. O relator da proposta, senador Plínio Valério, defende a discussão sob as justificativas de trazer um alívio para as contas da União, assim como ampliar o desenvolvimento do BC.
Investimentos externos no Brasil
Com relação a investimentos externos, o presidente do BC afirmou que o Brasil segue como um “excelente candidato”. Entre as áreas de destaque para receber recursos está a de energia sustentável, no entanto, o ritmo continua desacelerado, segundo ele.
“Quando a gente fala com as empresas, essa parte de realocação, near shoring e friend shoring [países próximos ou da mesma ideologia], não está se desenvolvendo no ritmo em que a gente esperava”, explicou Campos Neto.