A tragédia ocorrida no litoral norte de São Paulo há cerca de um mês, com um acumulado de 686 milímetros de chuva (a maior quantidade já registrada na história do País) e mais de 60 mortes registradas, a grande maioria no município de São Sebastião, provocou uma enorme movimentação de governo, sociedade civil e setor privado. E uma discussão sobre o papel de entidades e empresas no apoio às vítimas desse tipo de situação crítica.
Não há números exatos sobre o total de entidades e empresas que se envolveram com ações de doações ou envio de equipes de apoio aos locais mais atingidos. Mas grupos como JBS, Mercado Pago, CCR, iFood e EMS se envolveram no processo. Em meio a marcas associadas a setores como varejo, infraestrutura e setor farmacêutico, entidades já conhecidas por sua atividade em situações de crise como essa e cuja atuação vem se adaptando aos novos tempos. É o caso do Rotary Club, entidade surgida nos Estados Unidos e que, em exatos 100 anos de Brasil completados em 2023, acompanhou as mudanças na abordagem de questões sociais e ambientais, inclusive aquelas relativas aos deságios associados às mudanças climáticas.
No caso do litoral paulista, a capilaridade da instituição, assim como a diversidade de profissionais associados acabou sendo o diferencial nas atividades de apoio. “Temos clubes espalhados por todo o País e, na região de São Sebastião, distritos aos quais são filiados profissionais como médicos, engenheiros e líderes de diversos segmentos que, nas situações mais críticas como essa, ajudaram com trabalho físico, ‘pé no barro’, mesmo, ou apoiando no direcionamento dos recursos”, explica Henrique Vasconcelos, diretor do Rotary Internacional.
Exemplos dessa mobilização d são a parceria entre o Rotary de Castilho-Beira Rio com a mídia local, Polícia Militar, Defesa Civil, entre outros órgãos para arrecadar donativos, bem como as doações efetivadas pelo Rotary Club de Ilhabela, que chegaram diretamente a 10 famílias. Além disso, a projeção é de que a ação atenda mais cerca de 60 famílias, mediante a entrega de doações através do Fundo Social do município.
Os voluntários da instituição realizaram visitas de casa em casa para mapear as urgências reais das vítimas, garantindo a otimização dos recursos doados e, assim, continuar atendendo mais pessoas. A entidade entregou colchões, materiais de limpeza, kits de higiene pessoal, roupas masculinas, femininas e infantil, roupas íntimas, roupa de cama, água, frutas, marmitas e cestas básicas, entre outros.
Vasconcelos explica os desafios de entender as mudanças da sociedade e acompanha-las. “Começamos em 1910, com a construção de um banheiro público em Chicago. E é evidente que os desafios, nesses anos, só aumentaram, assim como a necessidade de nos organizarmos, entendendo as demandas de cada situação específica de cada um dos 200 países em que atuamos, assim como uma diversidade de religiões, opiniões, línguas e formas de pensar. Durante a pandemia, por exemplo, tivemos de migrar uma infraestrutura fortemente identificada com espaços físicos para um ambiente virtual, mantendo o trabalho social em funcionamento.
O funding da instituição, explica ele, vem de doações locais (“ticket” de US$ 3 mil), subsídios globais (US$ 30 mil) e transferências específicas para os casos de tragédias como as do litoral paulista, situação em que a doação é de US$ 25 mil e chega em até 24 horas. Há, ainda, doações mais vultuosas, como a da fundação Bill e Melinda Gates, maior doadora do Rotary, tendo contribuído com US$ 1,5 bilhões para a entidade.
Tragédias como a ocorrida em São Sebastião e na Serra Fluminense em 2012 tendem, infelizmente, a se repetir com cada vez maior frequência em consequência das mudanças climáticas. E a exigir, de entidades como Rotary e outras, uma capacidade de ação e de mobilização bem maior que aquela necessária para construir um banheiro em Chicago há 100 anos. “Mas estamos preparados”, garante Henrique.