São Paulo, 13 de março de 2023 – Em análise sobre os números do mercado de crédito em
fevereiro, o BTG Pactual avalia que a atual turbulência do setor cria oportunidades, em relatório
divulgado nesta segunda-feira. Os analistas citam por exemplo, que os spreads de crédito no mercado
local dispararam nos últimos dois meses após o anúncio da recuperação judicial da Americanas e
queda das debêntures da Light, citando oportunidades para capturar altos prêmios em títulos de
crédito de alta qualidade.A pressão por liquidez também está impulsionando o mercado
secundário.
A análise observa que o mercado primário de crédito esfriou após ano recorde em 2022,
refletindo condições mais apertadas para emissão de dívida, com R$ 23 bilhões em janeiro e R$
11 bilhões em fevereiro, ante R$ 34 bilhões no ano e R$ 53 bilhões no acumulado de fev/22). A
maioria das emissões foi abocanhada por instituições financeiras participantes das ofertas. Em
2022, as operações de crédito distribuídas ao mercado de capitais local totalizaram R$ 196
bilhões via 493 transações, ante R$ 179 bilhões em 2021 e R$ 147 bilhões em 2019.
Na visão dos analistas do BTG, os spreads mais amplos refletem a pressão vendedora dos agentes
de mercado, principalmente fundos de crédito, e a maior preocupação com os fundamentos das
empresas em um cenário de oferta de crédito mais apertado e altas taxas de juros. No entanto, eles
observam que o alargamento generalizado dos spreads cria oportunidades para capturar altos prêmios
em títulos de crédito de alta qualidade.
Os analistas do BTG citam que os índices de crédito apontam para pico no primeiro dia de
março, citando que o prêmio do índice IDA-DI (Debêntures Anbima) subiu para CDI+2,51% no final
de fevereiro contra CDI+1,72% no final de 2022, um aumento de 79bps, enquanto o prêmio do índice
de infraestrutura IDA-IPCA (títulos isentos de impostos) foi IPCA+8,13% no final de fevereiro,
186bps acima do benchmark NTN-B (alta de 95bps versus dezembro de 2022; 162bps vs. dez/21).
Sem Light e Americanas, os spreads ainda aumentaram um pouco no início de março, após
estabilizar brevemente na segunda quinzena de fevereiro, em DI+2,29% (+65bps vs. 11) e 158bps na
NTN-B (+54bps vs. jan. 11), com base em dados até 8 de março.
No caso dos chamados bonds de incentivo, os spreads de crédito estão próximos dos níveis
vistos no auge da pandemia (173bps sobre NTN-B em março de 2020), aponta o BTG.
Os níveis de captação ainda refletem volatilidade do mercado, diz o relatório, que cita que
os fundos de renda fixa foram os únicos líquidos positivos (em termos de captação) no final de
fevereiro, com R$ 4 bilhões captados até agora neste ano, após resgates de R$ 49 bilhões no ano
passado.
"Uma amostra de 100 fundos de crédito privado que monitoramos, com VPL de R$ 670 bilhões, caiu
novamente pelo segundo mês consecutivo e agora acumula queda de 5% no ano após 24 ganhos mensais
consecutivos. Entre o final de dezembro de 2022 e 11 de janeiro de 2023, na véspera da revelação
do rombo contábil da Americanas, esta mesma amostra de fundos apresentou forte crescimento do NAV
de R$ 10 bilhões (+1,5%), mostrando forte apetite no início do ano", comentaram os analistas.
A pressão por liquidez também está impulsionando o mercado secundário. O BTG aponta que, em
reflexoda forte volatilidade, a negociação de debêntures secundárias aumentou em fevereiro (R$
30 bilhões em 78 mil negócios, 7% e 25% acima das respectivas médias mensais dos últimos doze
meses). "Ajustado para menos dias úteis, vemos médias diárias de R$ 1,66 bilhão e 4,3 mil
negócios versus R$ 1,3 bilhão via 3 mil negócios diários em 2020, alta de 25% e 46%,
respectivamente."
Já a alocação de crédito corporativo caiu ligeiramente de níveis recordes. Desde 2016, a
dívida corporativa aumentou sua participação nas carteiras de renda fixa. A exposição dos
fundos de renda a títulos de dívida corporativa atingiu um recorde de 8,1% em dezembro passado,
após 22 ganhos mensais. Em janeiro, houve uma leve queda de 0,1% para 8% do NAV. Em paralelo, a
alocação dos fundos de renda fixa em títulos bancários aumentou para 9,5% do seu VPL.
Por fim, a análise do banco de investimentos comenta que as Letras Financeiras (LFs)
registraram um marco, pois seu saldo em fevereiro terminou a R$ 570 bilhões (+1% vs. dez/22; +32%
vs. dez/21). Os certificados de depósito bancários (CDBs) em circulação caíram um pouco, para
R$ 1,894 trilhão (-1% na comparação com janeiro/2023), a primeira queda em um ano. Já a
poupança caiu, pelo segundo mês, para R$ 969 bilhões no mês passado, ante R$999 bilhões em
dezembro de 2022.
Cynara Escobar / Agência CMA
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