A criação de uma rota para transporte de cargas na direção do Oceano Pacífico está animando Wesley Batista, um dos proprietários da JBS, que atualmente é o maior fornecedor global de proteína. Segundo o empresário, a chamada Rota do Pacífico permitirá ao Brasil aumentar sua produção tanto no setor agrícola, como em outros segmentos.
Em entrevista ao site Consultor Jurídico, o empresário, que é acionista controlador — junto com seu irmão, Joesley — do Grupo J&F, diz que “o Brasil tem vocação produtiva. Então, esse é um desafio e uma oportunidade. O Brasil está fazendo o certo ao olhar para essa opção de sair para o Pacífico. Isso significa economia em termos de custo do país e de tempo, que é dinheiro”.
Referente à produção de carne bovina, Wesley Batista contabiliza que “o Brasil tem mais de 200 milhões de cabeças (de gado), mas produz menos toneladas de carne do que os Estados Unidos, que têm menos de cem milhões de cabeças”. “O Brasil vai produzir mais com as áreas que tem. Não precisa derrubar um palmo (a mais) de terra”, completa.
A empresa apresentou lucro líquido de R$ 1,715 bilhão no segundo trimestre de 2024, levando as ações a uma alta de 6,99% no dia seguinte à divulgação dos resultados (13 de agosto). Além da rota do Pacífico, as perspectivas são positivas com o ciclo do frango, o bom momento das fusões e aquisições da empresa, e a possibilidade da listagem da JBS nos EUA.
Mercado de proteínas nos Estados Unidos
Em terras norte-americanas, a JBS voa em céu de brigadeiro, diante do aumento significativo da demanda por carne de frango, devido ao ciclo da carne bovina estacionado nos menores patamares históricos, sem perspectiva de melhora até o segundo semestre do próximo ano. Segundo analistas do BTG, é pouco provável que esse cenário mude até o início de 2027.
A US Pork, por exemplo, que também se beneficiou das altas dos preços da carne bovina nos Estados Unidos nesse movimento de trade down, reportou rentabilidade 10% acima dos resultados registrados na última década.
A Seara e a Pilgrim’s Pride, da JBS, também se beneficiaram do forte mercado de consumo e alcançaram grande visibilidade no mercado americano e arrecadaram R$ 6 bilhões, dos R$ 9,9 bilhões de Ebitda da empresa. A Seara, no ganho de rentabilidade – a margem chegou a 17,4%, a maior registrada desde 2015.
Estimativas do mercado
A empresa apresentou um crescimento de 90% em 12 meses e o mercado ainda vê espaço para as ações da empresa subirem ainda mais, além de estudar novos alvos para aquisição das ações, ainda que o fôlego não seja o mesmo de antes.
Esse crescimento exponencial na comparação anual foi influenciado, principalmente, pelo ciclo favorável para a carne de frango, além de uma boa dinâmica de preços baixos para os grãos e volumes de venda que vieram acima das expectativas dos bancos de investimento, conduzindo as ações a uma série de revisões de preços-alvo e, consequentemente, aos maiores patamares históricos da gigante dos frigoríficos.
Recomendação para ações da JBS
O BTG Pactual reiterou a recomendação de compra e subiu o preço-alvo de R$ 35 para R$ 47; o Bank of America (BofA) aumentou as previsões de R$ 40 para R$ 45 para os próximos 12 meses; o Citi aumentou de R$ 36 para R$ 46; o Itaú, pouco menos otimista, recomendou com preço-alvo de R$ 39 e o Goldman elevou o preço de R$ 38,7 para R$ 39,9. Atualmente as ações da JBS (JBSS3) estão em R$ 35,02, com potencial de 36,78 %.
No entanto, já existe uma projeção dos analistas para uma correção a partir do primeiro trimestre de 2025, com maior oferta de pintos de corte e com aumento dos preços dos grãos, além de uma reversão, que pode levar a um Ebitda menor.
Para o BTG, em 2024 o Ebitda da empresa deve chegar a R$ 32,4 bilhões, que é 23% acima do estimado; porém, abaixo dos R$ 35 bilhões, considerados um “valor justo”, considerando as médias dos últimos dez anos e o efeito negativo da US Beef. O banco mantém estimativas para um Ebitda de R$ 29,55 bilhões para 2025, ainda em um apertado para a rentabilidade da carne bovina.
Cenário pós Jackson Hole
Após Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), sinalizar corte dos juros dos Estados Unidos em seu discurso no simpósio anual de Jackson Hole nesta sexta-feira (23), as ações da JBS apareceram entre as baixas da B3, com uma queda de 3,84%, ao lado da BRF, que caiu 2,96% e Marfrig, que teve queda de 3%, num cenário de desvalorização do dólar ante o real.
Os EUA são o maior mercado da JBS e foco de sua estratégia de crescimento global, – tanto que a empresa investiu na realização de IPO, que vem sofrendo ressalvas na Justiça norte-americana, sob acusação de atuação controversa às práticas ESG no caso do financiamento de grandes fundos internacionais pelas empresas BlackRock e Vanguard. A empresa ainda aguarda a decisão legal para ingressar no mercado norte-americano.
Imagem: Bitenka