A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou a importância do colegiado de acompanhar os cenários econômicos com cautela. O documento não trouxe sinais claros sobre os próximos passos do Banco Central, mas reafirmou o compromisso de convergir a inflação para a meta.
A ata da reunião realizada em 17 e 18 de setembro também mostrou que o cenário de inflação tornou-se mais desafiador, com a elevação das projeções de inflação de médio prazo, conforme vem sendo divulgado no Boletim Focus. As estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2024 estão subindo há 10 semanas.
Ata do Copom veio coerente com comunicado
Para analistas, a ata foi considerada dura, reafirmando o comunicado da semana passada, e aponta para uma comunicação bem alinhada. “Um ponto positivo da ata hoje foi que ela reafirmou o comunicado. Em outros momentos, parecia uma comunicação desalinhada. Enquanto o comunicado do Copom dizia algo, a ata dizia outra coisa”, avalia o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
Por outro lado, o economista-chefe da EQI Asset, Stephan Kautz, acredita que falta mais clareza para determinar o ritmo de alta que o BC adotará. “O Comitê optou por uma alta de 0,25% e não de 0,5% porque o cenário continua muito incerto (…) Eles [colegiado] optaram por deixar em aberto e dependente dos próximos dados”, detalha.
Pressões no mercado de trabalho
O Copom enfatizou a resiliência da atividade econômica, as pressões no mercado de trabalho e o hiato do produto positivo como fatores que exigem uma política monetária mais contracionista. “O cenário demanda uma política monetária mais apertada para garantir que a inflação seja trazida para a meta”, diz o documento.
Apesar do ambiente de incerteza, o Comitê optou por um ciclo de aperto gradual, permitindo a avaliação contínua dos dados econômicos. “O Comitê concordou que iniciar gradualmente possibilita acompanhar os cenários com diligência, ao mesmo tempo, em que os mecanismos de transmissão da política monetária começam a atuar”, informou o Copom.
Impactos do cenário externo e fiscal
No cenário internacional, o Comitê observou que a economia global segue desafiadora, mas um pouco mais benigna em comparação à última reunião. Já o câmbio apresentou volatilidade, refletindo tanto no cenário doméstico quanto no externo. No entanto, o Copom deixou claro que não há uma relação direta entre as decisões do Federal Reserve, nos Estados Unidos, e as definições da Selic.
O Comitê também apontou que a política fiscal tem um impacto relevante sobre a política monetária e os ativos financeiros. “O aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública podem elevar a taxa de juros neutra, afetando o custo da desinflação”, afirmou o documento.