Você já ouviu falar em um search fund? O modelo – que, em tradução livre, quer dizer “fundo de busca” – surgiu nos Estados Unidos na década de 1980 e baseia-se na figura de um “searcher” (“buscador”) que, tendo recebido uma carta-branca dos investidores, procura negócios promissores em estágio inicial para receber aportes e que, depois de maturado, será objeto de um “deal”, realizando, dessa forma, o valor investido.
Esse searcher possui, em geral, um perfil empreendedor, mas aliado a um currículo consistente (muitas vezes com MBA no Exterior) e um histórico de sucesso no mundo dos negócios.
MBA no Exterior
O período para a saída do investimento, como é de se imaginar, é longo, ficando em entre seis e dez anos, com retornos (também como é de se imaginar) elevados. Um levantamento da Universidade de Stanford, nos EUA, mostra que a média é de 8,4 vezes o capital investido.
Cabe, aqui, um esclarecimento: embora sejam conceitualmente parecidos com o modelo de venture capital, diferentemente desses, os search funds adquirem 100% do negócio – sendo que há a semelhança de que o investidor entra diretamente na gestão. As empresas “target” apresentam faturamento na faixa de R$ 80 milhões a R$ 150 milhões por ano, típica faixa das empresas médias, sempre com boa gestão de fluxo de caixa e margem EBITDA (Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) positiva.
Mercado Brasileiro
No fim de setembro aconteceu a mais recente operação desse tipo no Brasil, com a compra da empresa Quick Soft pelo search fund da Tractus Capital. O fundo adquiriu o controle da companhia, mas manteve o fundador Ênio Lindner como acionista minoritário e conselheiro. A transação foi assessorada pelo advogado Guilherme Bruschini, sócio-fundador da SFCB Advogados – banca líder em assessoria para investidores nesse tipo de negócio.
Ele avalia que o mercado brasileiro é bastante promissor quando o assunto são os search funds. Isso por características como o fato de o País ser deficitário do ponto de vista de alguns setores que são pouco representados em Bolsa, por exemplo. Além disso, há uma questão da pulverização do risco nesse modelo de investimento.
Nos últimos sete anos, foram estruturados 12 fundos com esse perfil, sendo cinco deles nos últimos dois anos. “Os fundos de buscas devem continuar crescendo nos próximos anos no País. O Brasil possui uma vasta carteira de empresas de médio porte, com as características recomendadas pelos cursos de pós-graduação para searchers, além de setores da economia que ainda se revelam bastantes deficitários, apresentando ótimas oportunidades de aquisição e crescimento.”
Ele lembra ainda que, por outro lado, é preciso entender como os novos cenários econômico-político do Brasil e do mundo irão afetar as escolhas dos investidores estrangeiros para fazer apostas em países como o Brasil. “Além disso, o histórico destas operações pelo mundo nos mostra que, com o tempo e as aquisições acontecendo, as oportunidades de aquisição tendem a migrar das grandes metrópoles e centros econômicos, para regiões mais afastadas e menos atrativas para se viver, o que se apresenta como um novo desafio para a recente safra de searchers no País”.
Imagem: Piqsels