No segundo trimestre de 2024, observou-se um crescimento significativo nos pedidos de recuperação judicial realizados por produtores rurais no Brasil. De acordo com dados divulgados pela Serasa Experian, os produtores que operam como pessoa física apresentaram 214 pedidos, mais que o dobro em comparação com o primeiro trimestre do mesmo ano e cerca de seis vezes superior ao mesmo período de 2023.
Este movimento, apesar de representar uma pequena fração do total de produtores no país, destaca uma tendência crescente, impulsionada por diversos fatores externos desafiadores. Dentre eles, estão os eventos climáticos extremos, as altas taxas de juros, a queda no preço das commodities e o aumento dos custos de produção, conforme apontou Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa Experian.
Quais fatores estão influenciando o aumento dos pedidos de recuperação judicial?
Os produtores rurais enfrentam uma série de desafios econômicos que têm pressionado sua estabilidade financeira. As condições climáticas adversas têm impactado significativamente a produtividade agrícola, enquanto o cenário econômico global trouxe consigo a elevação das taxas de juros, tornando o crédito mais caro. Outro fator crucial é a oscilação nos preços das commodities, que reduz a margem de lucro dos produtores.
- Alavancagem Financeira: Muitos produtores já estavam altamente alavancados e, com o aumento dos custos, a capacidade de honrar dívidas foi debilitada.
- Condições Climáticas: Eventos climáticos inesperados podem resultar em quebras de safra, comprometendo a produção e a receita.
- Mercado de Commodities: Flutuações nos preços das commodities agrícolas impactam diretamente a rentabilidade dos produtores.
Concentração geográfica dos pedidos de recuperação judicial
Os dados revelam uma concentração significativa de solicitações de recuperação judicial nos estados de Mato Grosso e Goiás, grandes centros de produção agropecuária do Brasil. Em conjunto, esses estados registraram mais de 110 pedidos, contribuindo para um aumento no pessimismo dos credores que operam nessas regiões.
Analistas identificaram que os locatários de terras, grupos econômicos e familiares estão entre os principais solicitantes de recuperação judicial. Esses participantes do setor enfrentam desafios adicionais devido ao custo extra associado ao arrendamento de terras, o que complica ainda mais a gestão financeira.

Como os pequeninos produtores estão lidando com a situação?
Os pequenos proprietários rurais solicitaram 44 pedidos de recuperação judicial, sendo os mais impactados comparativamente aos grandes e médios produtores. Essa situação reflete a pressão que os pequenos produtores enfrentam frente ao aumento dos custos e a redução dos preços de venda, mesmo que eles tenham, muitas vezes, menos dívidas em relação aos grandes produtores.
Os dados também mostram que, além dos produtores pessoa física, houve um aumento nos pedidos por parte daqueles que operam com perfil jurídico. Essa categoria registrou 121 solicitações no segundo trimestre, marcando um crescimento de 40,6% comparado ao trimestre anterior.
O que esperar do futuro?
O cenário atual serve como um alerta para a necessidade de políticas que suportem o setor agropecuário em tempos de adversidade econômica e climática. Buscar soluções financeiras, como a renegociação de dívidas e a implementação de medidas de mitigação do risco climático, pode ser essencial para manter a viabilidade econômica dos produtores rurais no Brasil.
Os desdobramentos desse aumento nos pedidos de recuperação judicial deverão ser monitorados de perto, não apenas pelos produtores, mas também por todos os envolvidos na cadeia produtiva do agronegócio, incluindo governos, instituições financeiras e consumidores.