O dólar à vista encerrou o pregão desta segunda-feira (2) com alta de 1,11%, cotado a R$ 6,07. Essa foi a quinta sessão consecutiva de valorização da moeda americana, que acumula alta de 4,52% no período. Desde o início do ano, o dólar já subiu 25,03% em relação ao real, refletindo tanto fatores internos quanto externos.
Cenário fiscal segue no radar
A decepção com o pacote de corte de gastos anunciado pelo governo federal na última semana segue pressionando o mercado. O plano prevê uma economia de R$ 40 bilhões a R$ 45 bilhões, bem abaixo dos R$ 71,9 bilhões projetados inicialmente. Além disso, o anúncio conjunto de uma possível isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil mensais, previsto para 2025, gerou incerteza adicional.
Em entrevista ao Estadão Broadcast, o economista-chefe da corretora Monte Bravo, Luciano Costa, disse que os investidores estão céticos quanto à capacidade do governo de atingir suas metas fiscais, o que aumenta os prêmios de risco nos ativos locais e impacta o câmbio.
Pressão externa e declarações de Trump
No cenário internacional, a moeda americana foi fortalecida por declarações do presidente eleito dos EUA, Donald Trump. Ele ameaçou impor tarifas de até 100% sobre países do BRICS caso o bloco intensifique esforços para substituir o dólar como referência em negociações internacionais.
Essa sinalização pressionou moedas emergentes e de países exportadores de commodities, como o real. O euro também recuou, impactado pelo impasse no orçamento da França e pela instabilidade política envolvendo o primeiro-ministro Michel Barnier.
Perspectivas para o real
Apesar das declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre possíveis medidas adicionais de contenção de gastos, analistas avaliam que o impacto no curto prazo será limitado.
Costa destaca que apenas um posicionamento mais firme do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em favor do ajuste fiscal poderia reduzir o estresse do mercado.
No mercado de juros futuros, a expectativa de alta na taxa Selic já está precificada, o que limita o efeito dessa estratégia na valorização do real.
Intervenção no câmbio: limites do Banco Central
O diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, reiterou a defesa do regime de câmbio flutuante. Segundo ele, intervenções no mercado ocorrerão apenas em situações de disfuncionalidade, como problemas de liquidez ou saídas atípicas de recursos.