Diante de um cenário ainda de pressão inflacionária e de crescimento tímido do PIB, as empresas brasileiras têm enfrentado atrasos no pagamento por parte de clientes e tendo de renegociar dívidas.
A questão, no entanto, é que essa não é, necessariamente, uma situação ruim, como mostra a segunda edição do Relatório sobre Pagamentos no Brasil realizado pela Intrum, empresa europeia líder no mercado de cobrança, e gestão de créditos e ativos.
O estudo mostrou que 77% das empresas receberam pedidos para renegociar os prazos de pagamento para períodos maiores do que se sentem confortáveis nos últimos 12 meses e 70% concordaram com esses pedidos.
Esse seria, a princípio, um cenário negativo, mas o fato é que a renegociação acabou evitando uma situação ainda pior, como observa Ulisses Rodrigues, CEO da Intrum Brasil. “Foi o que impediu que a inadimplência explodisse. O mercado soube se acomodar.”
Ele lembra que, quando ocorre a renegociação, o valor correspondente à inadimplência é transferido, em termos contábeis, dessa carteira para uma carteira regular, não havendo a necessidade de provisionamento, o que acaba sendo mais saudável para as finanças.
O relatório considerou um total de 700 empresas, entre as que atuam com B2B e as do B2C — por exemplo, distribuidoras de energia e companhias da área de telefonia fixa e móvel. Nesse último caso, Ulisses destaca que, como o mercado é competitivo, as empresas, em geral, partem para a renegociação antes que o cliente decida migrar para um concorrente.
Entre as empresas B2B o atraso nos pagamentos cresceu de uma média de 11 dias para 16 dias.
O relatório mostrou, ainda, que mesmo diante do fato de o Brasil ter um histórico de décadas de altas nos preços, o fator inflação ainda assusta as empresas: 68% delas disseram “não ter expertise” para lidar com o fenômeno.
Por fim, foi colocada, na pesquisa, uma questão sobre como as empresas enxergam a necessidade de adoção dos critérios ESG. Mais da metade delas, 51% respondeu que pode perder clientes, caso o assunto não seja encarado de maneira séria.
Voltando aos desafios da inadimplência, Ulisses explica que a gestão eficiente de contas a receber é uma premissa básica que deve ser adotada, seja em períodos de crise ou de maior bonança econômica. “Muitas empresas só estão dando atenção ao assunto agora ou começaram a fazê-lo durante a pandemia.”
A gestão da inadimplência, segundo ele, é um ponto que deve ser atacado a partir de um acompanhamento acurado do risco de crédito. “É esse acompanhamento que permitirá prever as eventuais ondas de inadimplência e se preparar para elas.”
*Imagem: Piqsels.com