Por André Charone*
O início de 2025 trouxe uma aparente boa notícia para a economia brasileira: o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de apenas 0,16% em janeiro, a menor para o mês desde 1994. Contudo, um olhar mais atento revela que essa desaceleração da inflação pode não ser tão positiva quanto parece. A queda foi fortemente influenciada pela redução na tarifa de energia elétrica, um fator pontual que esconde o real cenário de pressões inflacionárias persistentes.
Embora os resultados animem, os problemas estruturais da economia brasileira não foram resolvidos, e a política monetária do governo segue sendo errática. Os números de janeiro são celebrados pelo governo, mas isso não se traduz em alívio real para a população. Estamos vendo uma pressão inflacionária persistente nos setores essenciais, como alimentos e transportes.
Em janeiro, o grupo Alimentação e Bebidas subiu 0,96%, com aumentos expressivos em produtos básicos como cenoura (36,14%) e tomate (20,27%). O transporte também teve uma alta preocupante de 1,30%, impulsionada pelo reajuste das tarifas de ônibus urbano e pelo aumento das passagens aéreas. Esses são indicadores que afetam diretamente o bolso do trabalhador e dos empresários, corroendo o poder de compra e aumentando os custos operacionais das empresas.
A condução da política fiscal e monetária do governo não tem conseguido equilibrar crescimento econômico e controle da inflação, visto que estamos em um cenário onde o governo tenta intervir artificialmente nos preços para conter a inflação de curto prazo, enquanto a economia real segue desorganizada.
O mercado já projeta uma inflação acima da meta para 2025, e o Banco Central foi forçado a elevar a taxa Selic para 14,25% ao ano, comprometendo o crescimento e o acesso ao crédito.
O resultado dessas políticas contraditórias é um ambiente de incerteza para investidores e empresários, que precisam lidar com um cenário de juros elevados e uma economia que não consegue deslanchar.
Outro fator preocupante é o impacto da inflação nos investimentos estrangeiros e na confiança do mercado. A percepção de um governo incapaz de implementar reformas estruturais coerentes desestimula a entrada de capital estrangeiro, essencial para impulsionar setores como infraestrutura, inovação e tecnologia. Sem esses investimentos, o Brasil corre o risco de estagnar ainda mais seu crescimento econômico e perder competitividade no cenário global.
Além disso, o aumento do custo de vida pressiona os trabalhadores e reduz o consumo interno, fator crucial para a recuperação da economia. Caso o governo insista em medidas paliativas e sem planejamento de longo prazo, veremos uma desaceleração ainda mais severa nos próximos trimestres. Precisamos de políticas sérias, que ataquem a raiz do problema e promovam um ambiente econômico estável e sustentável.
Para evitar um cenário de estagnação prolongada, é fundamental que o governo abandone a estratégia de soluções temporárias e passe a implementar reformas estruturais urgentes. A prioridade deve ser a redução do déficit fiscal, a promoção de um ambiente favorável para investimentos e o estímulo ao setor produtivo, pois sem essas ações, o Brasil continuará refém de ciclos inflacionários, comprometendo o crescimento econômico e a qualidade de vida da população.
O tempo para ajustes está se esgotando, e o país precisa decidir se seguirá pelo caminho da responsabilidade fiscal ou se afundará ainda mais em um cenário de instabilidade.
*André Charone é contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais pela Must University (Flórida-EUA), possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV (São Paulo – Brasil) e certificação internacional pela Universidade de Harvard (Massachusetts-EUA) e Disney Institute (Flórida-EUA). Atualmente é sócio do escritório Belconta – Belém Contabilidade e do Portal Neo Ensino.