A nova rodada de tarifas impostas por Donald Trump sobre importações de 57 países entraram em vigor nesta quarta-feira (9). Os efeitos das novas alíquotas já começam a ser sentidos pelas famílias norte-americanas, que terão mais da metade da renda mensal média comprometida, em torno de US$ 6 mil.
Segundo projeções do Budget Lab, centro de estudos vinculado à Universidade Yale, os custos adicionais das tarifas podem somar até US$ 3.8 mil por família ao longo de 2025.
Os produtos mais afetados são itens de consumo diário, como roupas, alimentos, utensílios domésticos e eletrônicos. Especialistas alertam que os preços podem subir de 8% a 15% nesses segmentos.
Robert Shapiro, ex-conselheiro econômico do Departamento de Comércio dos EUA, explica que esta “é uma política que visa proteger a indústria local, mas transfere o custo para os consumidores, afetando principalmente as famílias de classe média”.
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Modelo de cálculo das tarifas de Trump
As alíquotas foram calculadas com base no déficit comercial dos EUA com cada país. A equipe econômica da Casa Branca explicou que o percentual foi obtido dividindo-se o valor do déficit pelas exportações do país aos EUA, e depois dividindo o resultado por dois.
A medida elevou a tensão global. Ao menos 70 países já procuraram o Departamento de Comércio dos EUA para renegociar os termos das tarifas, mas a Casa Branca condiciona possíveis exceções a acordos bilaterais com “práticas comerciais justas”.
Retaliações em cadeia dos parceiros comerciais
A China, maior parceiro comercial dos EUA, foi o país mais atingido pelas novas alíquotas americanas — com tarifas de até 104%. Em resposta, Pequim anunciou nesta manhã retaliações com tarifas médias de 84% sobre produtos norte-americanos, que já passam a valer a partir desta quinta-feira (10).
O pacote inclui itens agrícolas, industriais e eletrônicos, com impacto direto em estados americanos exportadores.
A China ainda recorreu à OMC e submeteu as tarifas de 50% dos EUA à análise da entidade. Além disso, o país adicionou seis empresas dos EUA à lista de entidades não confiáveis e adicionou 12 entidades dos EUA à lista de controles de exportação.
Na Europa, diplomatas afirmaram que “não há mais confiança” para negociar com a administração Trump. A União Europeia avalia contramedidas semelhantes, com foco em setores simbólicos da economia americana, como vinhos, motocicletas, softwares e insumos farmacêuticos.
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O Partido Democrata apresentou uma resolução na Câmara dos Representantes questionando a declaração de emergência nacional utilizada por Trump para impor as tarifas, buscando deter sua política comercial.
O Canadá também iniciou a cobrança de uma tarifa de 25% sobre veículos importados dos Estados Unidos.
O Japão, que recebeu tarifas de 24%, também estuda aumentar os tributos sobre veículos importados dos EUA e restringir a compra de equipamentos militares — um setor antes impulsionado por acordos bilaterais.
Segundo o think tank Peterson Institute for International Economics, pelo menos 12 países devem anunciar medidas semelhantes nas próximas semanas, o que pode desencadear uma guerra comercial de grandes proporções.
Análises do mercado sobre tarifas e a inflação
Robert Holzmann, do Banco Central Europeu (BCE) pontua que as tarifas e ameaças tornam quase impossível prever se a inflação nos 20 países da zona do euro continuará se aproximando da meta de 2%.
Ele afirma que uma pausa nos ajustes dos juros em abril é a melhor opção para as autoridades e preferível a uma ação precipitada.
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Neel Kashkari, do Federal Reserve (Fed) disse que é menos provável que o Banco Central reduza os juros diante das tarifas, dado seu impacto inflacionário, mesmo que a economia comece a se deteriorar.
Segundo ele, as tarifas de Trump são “muito mais altas e amplas do que o esperado”, devendo reduzir o investimento e o crescimento, além de aumentar a inflação “pelo menos no curto prazo”.
Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do FMI, alertou: “As tarifas são uma faca de dois gumes. Podem gerar ganhos de curto prazo em termos políticos, mas comprometem o crescimento global a médio prazo.”
Heather Boushey, do Council of Economic Advisers da Casa Branca, também ponderou os riscos: “O custo político pode ser alto. Aliados estratégicos dos EUA estão sendo prejudicados, o que pode gerar um realinhamento global.”
Setor automotivo em alerta
Um dos setores mais impactados pelas medidas tarifárias e pelas retaliações internacionais é o automotivo. Segundo a Alliance for Automotive Innovation, associação que representa montadoras nos EUA, os custos de produção já subiram entre 5% e 12%, devido ao encarecimento de peças importadas da China, Japão e México.
O impacto já se reflete nos preços finais dos veículos. Modelos populares como o Toyota Corolla, o Ford Escape e o Chevrolet Equinox devem ter reajustes de até US$ 2.000 nas próximas semanas, segundo levantamento da consultoria Cox Automotive.
Além disso, a retaliação chinesa inclui restrições à importação de carros de luxo fabricados nos EUA, como os modelos da Tesla, Lincoln e Cadillac, o que afeta diretamente as exportações e o faturamento das montadoras americanas.
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Tarifas de Trump elevam risco de recessão nos EUA
Economistas alertam para o impacto da medida no crescimento global. O banco JPMorgan elevou para 60% a probabilidade de recessão global até o fim de 2025.
Já o think tank Budget Lab, ligado à Universidade Yale, estima que as novas tarifas devem reduzir o PIB americano em 0,5 ponto percentual ainda neste ano. Se consideradas todas as medidas tarifárias do governo Trump, a retração pode chegar a 0,9 ponto percentual.
Para Alan Detmeister, economista-chefe da consultoria MacroPolicy Perspectives, “o impacto acumulado pode ser mais grave do que as estimativas indicam, sobretudo se houver retaliações prolongadas por parte dos países atingidos”.