Depois de suas ações subirem praticamente 70% em menos de dois meses, enquanto a Bolsa caiu 6,7%, a Teka Tecelagem é palco de uma queda de braço entre acionistas minoritários e a direção da empresa.
A empresa de roupa de cama, mesa e banho é acusada de esconder informações relevantes, com o poder de mudar o preço das ações. A direção nega qualquer omissão e diz que a acusação “causa espécie” — juridiquês para causar espanto.
Uma troca de correspondência entre investidores e a direção da empresa, à qual o Monitor do Mercado teve acesso, mostra uma disputa ganhando corpo na companhia.
A empresa está em recuperação judicial há praticamente dez anos, tendo sua atual gestão sido nomeada pela Justiça, após ser determinado o afastamento da antiga gestão, tocada pela família que fundou a companhia.
Nos últimos dois meses, as ações (TEKA4) chegaram a subir 46% em 10 dias e cair 25% na semana seguinte.
A forte alta recente fez o papel chegar à cotação de R$ 14,77 neste mês, marca que não atingia desde setembro do ano passado.
Questionada duas vezes pela Bolsa sobre os motivos para as recentes altas, a Teka respondeu — em 8 de julho e 13 de maio — que não tinha “conhecimento de qualquer fato que justifique as oscilações” das ações.
O período, no entanto, coincide com uma movimentação no processo de recuperação judicial da empresa que chamou a atenção de investidores. A empresa Bretton Participações fez uma oferta para comprar parte da empresa e reestruturá-la.
O valor da proposta chamou a atenção de acionistas. Foram oferecidos R$ 180 milhões por uma fatia de 35% da empresa. Atualmente, o valor de mercado da companhia inteira é de praticamente R$ 9 milhões.
A oferta foi feita no processo judicial que trata da recuperação da Teka e, após ser contestado pela empresa, caiu por terra.
Acontece que os acionistas minoritários só foram informados sobre a possível venda de parte da empresa — e sobre sua contestação — através da imprensa. E agora reclamam que a companhia deveria tê-los mantido a par do caso e de outras situações.
Ações bloqueadas
Em notificação extrajudicial enviada à Teka, os investidores, representados pelo advogado Stéfano Soares Faria, lembram que a atual presidente da empresa, Fabiane Paula Esvicero, é também a diretora de Relações com Investidores. Com isso, caberia a ela divulgar “qualquer decisão ou qualquer outro ato ou fato ocorrido ou relacionado aos negócios da companhia que possa influir de modo ponderável na cotação”.
Os minoritários apontam ainda que o administrador responde civilmente “pelos prejuízos que vier a causar quando: dentro de suas atribuições ou poderes; agir com culpa ou dolo; com violação da lei ou do estatuto”.
Procurada pelo Monitor do Mercado, a Teka falou, através de seu advogado, Alexandre Gomes, que a proposta foi feita pela Bretton no processo judicial e, por isso, foi discutida somente na Justiça. Segundo ele, haveria dados sigilosos na oferta e que foram mantidos em sigilo até a divulgação da decisão judicial pela qual a oferta foi rejeitada, em 13 de junho.
A decisão judicial que permitiu à empresa rejeitar a oferta aponta que as ações que a Bretton queria comprar da família fundadora da empresa estão bloqueadas, por conta de outra sentença judicial.
Em carta aos minoritários, à qual o site também teve acesso, a Teka diz que nenhum fato foi omitido pela direção da companhia. A opção por tratar da oferta da Bretton apenas no Judiciário seria uma “forma de evitar eventuais especulações”.
Além do caso Bretton
Além da oferta de compra pela Bretton, os acionistas exigiram que a companhia os informasse sobre possíveis movimentações de imóveis da Teka; licenciamento da marca para e-commerce de terceiros; renegociação de dívidas de credores.
No caso da exploração do e-commerce, apesar de o site CompreTeka.com.br ser registrado em nome de terceiros e usar a marca Teka, fazendo promoções como “Outlet até 70% off”, a empresa garante que não é um contrato de licenciamento, mas apenas de uso de fornecimento de produtos a preço de venda.
Já em relação às renegociação de dívidas, a empresa rebate o questionamento, dizendo que foram feitas algumas renegociações, sim, mas com base na cláusula de aceleração prevista no plano de recuperação judicial.
As indagações dos minoritários sobre a negociação de imóveis da empresa, por sua vez, foram completamente refutadas pela companhia.
Agora, os acionistas minoritários buscam colocar representantes seus no Conselho da empresa, por meio da formação de um Conselho Fiscal. A empresa, no entanto, afirma que isso só será feito mediante autorização judicial.
Em fortes oscilações, as ações TEKA4, às 15h desta segunda-feira (11), acumulavam uma alta de 39% no ano e uma queda de 25% nos últimos 12 meses.
*Imagem: Divulgação