As ações do TC, antigo Traders Club (TRAD3), estão em uma espécie de queda livre nos últimos dias, chegando a derreter 27% na última quinta-feira (30).
Em um ano, enquanto o Ibovespa, principal indicador do nosso mercado de ações, caiu quase 21%, os papéis da plataforma de informações para investidores registraram a vertiginosa queda de 62%.
O movimento se acentuou nos últimos dias com a circulação de um vídeo no WhatsApp que acusa a companhia de estar sendo investigada por, dentre outras coisas, manipulação de mercado.
O TC rebateu na mesma moeda: diz ser alvo, ela mesma, de manipulação de mercado, no que seria uma estratégia de “trash & cash”. Em outras palavras: investidores estariam difamando a empresa para lucrar com a queda de suas ações.
Essa sugerida campanha de desinformação serviria para gerar “FUD”, sigla para “fear, uncertainty e doubt”, em português “medo, incerteza e dúvida”, afetando a cotação de seus papéis.
“A companhia alerta que a divulgação desse tipo de informações, de autoria não identificada, sobre emissores de valores mobiliários pode ser uma forma de manipulação de mercado através da disseminação de notícias falsas em prejuízo do regular funcionamento do mercado de capitais e do público investidor”, afirmou a companhia, em Fato Relevante.
Nesta terça-feira (5), o CEO da TC, Pedro Albuquerque, se insurgiu contra quem está repassando o vídeo em questão: “Continuem legitimando um vídeo criminoso contra a única empresa que fez algo de diferente nesse mercado nos últimos anos”, reclamou, em sua conta no Twitter.
Acusação
O vídeo que gerou tanto desconforto à empresa circula no aplicativo de mensagens WhatsApp. Quem faz as acusações é uma mulher com o rosto pintado de palhaço.
Ela diz que o TC é investigado por diversas irregularidades, que vão desde manipular resultados, se aproveitar de informações privilegiadas, praticar “front running” e cita, ainda, casos de assédio dentro da própria companhia.
“Front running”, ou correr pela frente, é o termo utilizado pelo mercado para quando influenciadores compartilham sua escolha de ativos com seus seguidores, fazendo com que eles fiquem tentados a comprar os ativos compartilhados, o que resulta em uma alavancagem nos papéis devido ao efeito manada – e quem lucra com isso é o próprio influenciador.
Briga com a Empiricus
Em outubro do ano passado, um relatório assinado por três analistas, entre eles, Felipe Miranda (estrategista-chefe da Empiricus), dizia que os papéis do TradersClub (TRAD3) não valiam metade do valor pelo qual eram negociadas (R$ 6,10).
O relatório da Empiricus aterrissou como um coquetel molotov nas ações do TradersClub. Do início do pregão na terça (o relatório foi publicado às 9h20) até o meio da tarde de quarta (27), os papéis despencaram mais de 19%. Depois, começaram a se recuperar e, no fim de quinta-feira (28), voltaram a valer praticamente o mesmo de antes do relatório.
Entre outras coisas, a análise da Empiricus afirma que, para atingir a receita esperada pelo mercado, de R$ 1 bilhão ao ano em 2025, o TC teria que usar mais dinheiro do que tem em caixa para comprar outras empresas da área, criando outras fontes de receita. E lembra que a companhia faturou R$ 40 milhões em 2020 — ou seja, vai ter que multiplicar isso por 25.
Além disso, o relatório lança dúvidas sobre a governança envolvendo dois sócios, do grupo controlador do TradersClub, e aponta a dificuldade que outras plataformas de informação têm para monetizar a produção de conteúdo.
Dois dias depois de levar a pancada, foi a vez de o TC responder. Em um longo documento, Felipe Pontes, sócio da empresa, acusa os analistas da Empiricus de não conseguirem entender o negócio do TradersClub, em meio a uma chuva de alfinetadas sobre o trabalho da casa de análise.
“Quando os analistas falam que a receita é baseada em infoprodutos para pessoas físicas e compara com a própria Empiricus (de novo, não entendo o porquê das escolhas dos pares que não fazem sentido), o sinal que eu recebo é que os analistas de fato não entenderam o nosso modelo de negócios. O TC não vende um pdf, o TC dá acesso a informações, dados, inteligência de mercado, relatórios de recomendações, chats, cursos etc.”, afirma.
Às 16h desta quarta-feira (6), os papéis TRAD3 eram negociados por R$ 4,78.
Imagem: divulgação