Enquanto o Ibovespa batia recordes e terminava a semana acima dos 141 mil pontos pela primeira vez, um movimento interno da B3 (Bolsa do Brasil), passou quase despercebido: a tentativa de atualizar as regras do Novo Mercado — segmento que reúne empresas com os mais altos padrões de governança.
A proposta apresentada pela própria B3 visava modernizar regras de governança corporativa e aproximá-las dos padrões internacionais. Entre as mudanças sugeridas estavam:
- Maior independência dos conselhos de administração;
- Regras mais claras para auditorias externas;
- Criação de canais estruturados de denúncia para casos de abuso.
Segundo a Bolsa do Brasil, o objetivo era fortalecer mecanismos de proteção ao investidor e evitar escândalos corporativos que abalam a confiança do mercado.
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No episódio desta semana do podcast Ligando os Pontos, Marcos de Vasconcellos, CEO do Monitor do Mercado, analisa a decisão para entender o porquê empresas do Novo Mercado que rejeitaram a proposta. Confira:
Resistência das empresas contra reforma da B3
Das 190 companhias que tinham direito a voto, quase metade rejeitou completamente a proposta. O principal argumento foi o aumento de custos para implementação das mudanças.
Essa resistência ocorre em um contexto de recuperação do mercado acionário, após um longo período de juros altos e baixa liquidez, segundo Vasconcellos.
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Entretanto, a falta de avanços em governança pode dificultar a atração de investidores, especialmente os estrangeiros, que observam padrões internacionais de transparência e fiscalização como critérios essenciais.
Apesar da rejeição da maioria, grandes companhias manifestaram apoio à proposta da B3, como Vale (VALE3), Lojas Renner (LREN3), IRB Brasil (IRBR3), Westwing (WEST3). Essas empresas argumentam que investir em governança é uma forma de ganhar credibilidade no mercado e atrair mais capital.
Casos que reforçam a necessidade de fiscalização
A rejeição da proposta reacende o debate sobre os riscos da falta de governança no mercado brasileiro. Casos como Americanas, IRB Brasil e Oi evidenciaram falhas em mecanismos de controle e resultaram em perdas significativas para investidores.
Sem canais internos de denúncia e com baixa supervisão, problemas podem ser identificados tardiamente — quando o impacto para o acionista já é inevitável.
O papel do investidor pessoa física
Hoje, o investidor pessoa física já representa cerca de 12% do volume financeiro movimentado diariamente na B3, o equivalente a R$ 3,2 bilhões. Mesmo assim, muitos acionistas ainda se sentem pouco considerados nas decisões estratégicas das empresas.
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Para o CEO do Monitor do Mercado, sem avanços em governança, o mercado pode continuar afastando potenciais investidores e limitando novas ofertas públicas de ações (IPOs), que estão praticamente paradas desde 2021.