O cenário atual dos benefícios por incapacidade temporária no Brasil ganhou um novo capítulo com o debate em torno do uso ampliado do Atestmed pelo INSS. Esse sistema digital foi concebido para facilitar a análise de pedidos de auxílio-doença, permitindo que segurados enviem atestados médicos de forma online. Desde sua implantação, Atestmed tem sido visto como uma ferramenta de modernização dos processos da Previdência Social, visando agilizar o acesso a direitos por parte dos trabalhadores brasileiros.
Entretanto, a possível alteração nas regras para a concessão de afastamentos gerou uma série de discussões entre entidades médicas, setores do governo e especialistas em políticas públicas. A proposta envolve permitir que o INSS defina o período de afastamento de um trabalhador exclusivamente com base no atestado digital, sem a necessidade de uma perícia presencial, o que representa uma mudança significativa na rotina de avaliação dos benefícios.
Como funciona atualmente o sistema Atestmed?

Atestmed surgiu durante a pandemia de COVID-19, em 2020, como resposta à necessidade de distanciamento social. O objetivo principal era reduzir o tempo de espera e limitar as aglomerações nas agências do INSS. Por meio desse sistema, o segurado encaminha digitalmente seu atestado, que deve conter informações completas do médico, diagnóstico detalhado, prazo para afastamento, data de emissão e assinatura, que pode ser eletrônica.
Após o envio, se todos os requisitos forem atendidos, o benefício por incapacidade temporária pode ser liberado de maneira automática, sem a necessidade de exame presencial pelo perito médico federal. No entanto, casos com inconsistências documentais ou dúvidas quanto à autenticidade ainda exigem a avaliação presencial.
Quais são os principais pontos de discórdia sobre a proposta de mudança no Atestmed?
O debate principal gira em torno de dois aspectos críticos: a agilidade no atendimento e a segurança dos processos. Para defensores da mudança, a flexibilização representa modernização e acesso facilitado aos benefícios, reduzindo filas e acelerando a tramitação dos pedidos. Por outro lado, entidades médicas e representantes da categoria dos peritos federais alertam para o risco de fragilizar a análise técnica, abrindo brechas para concessões inadequadas e possíveis fraudes.
- Ética médica: A avaliação à distância, sem contato direto com o paciente, é vista com preocupação por profissionais de saúde, que consideram esse processo insuficiente para determinar o período adequado de afastamento laboral.
- Impacto financeiro: O Ministério da Fazenda manifestou inquietação acerca do aumento nos gastos públicos, uma vez que o controle sobre os benefícios seria menos rigoroso.
- Credibilidade do sistema: Eventuais erros ou liberações indevidas podem afetar a confiança do público na Previdência Social.
Atestmed pode acelerar benefícios, mas há riscos?
A promessa de mais celeridade no acesso ao auxílio-doença é inegável com o uso do sistema digital. Contudo, especialistas apontam que a digitalização total também exige salvaguardas robustas para garantir responsabilidade e qualidade nas decisões. Sem avaliações presenciais, a decisão sobre o tempo de afastamento recairia unicamente sobre documentações, que, mesmo contendo dados técnicos, não substituem o exame direto do trabalhador.
Além disso, órgãos oficiais vêm ajustando frequentemente o período máximo para afastamentos concedidos via Atestmed. De 180 dias, a limitação passou a 60 dias por força de medida provisória, mas voltou a 120 dias, ilustrando a instabilidade e a falta de consenso sobre o tema.
Quais medidas podem ser adotadas para mitigar os problemas?
Para conciliar inovação com segurança, algumas ações podem ser consideradas pelas autoridades:
- Implementar revisões periódicas dos afastamentos concedidos digitalmente.
- Aumentar o controle e a verificação de autenticidade dos documentos médicos recebidos.
- Estabelecer faixas de duração máxima para afastamento sem perícia presencial, priorizando casos simples e traçando critérios claros para a convocação da avaliação presencial.
- Ampliar o diálogo entre Ministérios da Previdência, Fazenda e entidades médicas para construção de diretrizes transparentes e sustentáveis.
A modernização dos serviços previdenciários, por meio de soluções tecnológicas como Atestmed, representa avanço significativo no contexto da administração pública. No entanto, o equilíbrio entre agilidade, segurança e respeito às normas médicas é essencial para não comprometer a integridade do sistema, a saúde financeira da Previdência e o atendimento de qualidade ao trabalhador brasileiro. O desafio está em inovar sem abrir mão dos controles e da análise criteriosa, pilares essenciais para a confiança e eficiência das políticas públicas voltadas à proteção social.
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O futuro do Atestmed e suas perspectivas no Brasil
Considerando o avanço tecnológico e a demanda por agilidade nos processos administrativos, o Atestmed pode se consolidar como uma ferramenta essencial para a Previdência Social Brasileira. No entanto, é crucial que as autoridades se comprometam com constantes atualizações no sistema para acompanhar as evoluções tecnológicas e as exigências de segurança dos dados.
Tais aprimoramentos podem incluir a introdução de inteligência artificial para analisar padrões de afastamento e identificar possíveis fraudes, bem como o fortalecimento das parcerias com instituições médicas para garantir que os atestados digitais atendam a padrões rigorosos de validade e autenticidade. Dessa forma, o Atestmed não apenas aceleraria processos, mas também se tornaria um modelo de eficiência e confiança no atendimento ao cidadão.