A Avenue, corretora especializada em investimentos internacionais, está apostando suas fichas na mudança do perfil dos donos do dinheiro no Brasil nos próximos 25 anos. As previsões se apoiam em um estudo do banco UBS, segundo o qual o mundo passará pela maior transferência de riqueza da história nesse periodo. E o Brasil será o segundo país mais afetado.
O relatório “Global Wealth Report 2025”, do UBS, divulgado recentemente, estima que aproximadamente US$ 9 trilhões mudem de mãos no país entre 2025 e 2050, com impacto direto sobre o comportamento do investidor brasileiro e o perfil das carteiras de investimento.
“É a maior transferência geracional no mundo e o Brasil é o segundo país com o maior volume, que é de US$ 9 trilhões”, afirmou Daniel Haddad, CIO da Avenue, em entrevista ao Monitor do Mercado durante o Avenue Connection, que acontece em São Paulo entre os dias 16 e 18 de julho.
Segundo Haddad, o investidor que vai receber esse patrimônio é muito mais globalizado. Ele já nasce conectado, viaja mais, vive fora com naturalidade. E quer investir de forma diferente dos pais.
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Transferência de riqueza de US$ 83 trilhões
O estudo do UBS aponta que mais de US$ 83 trilhões em patrimônio devem ser transferidos no mundo nos próximos 20 a 25 anos. Deste total:
- US$ 74 trilhões ocorrerão por via vertical (de pais para filhos ou netos)
- US$ 9 trilhões por via horizontal, principalmente entre cônjuges, um movimento influenciado pela maior expectativa de vida das mulheres.
Em volume absoluto, os Estados Unidos lideram com US$ 29 trilhões em heranças previstas. O Brasil aparece logo em seguida, à frente da China continental, que deve transferir cerca de US$ 5,6 trilhões.
Desigualdade e perfil da riqueza no Brasil
O Brasil encerrou 2024 com o maior Índice de Gini de riqueza entre os 56 países analisados: 0,82, indicando elevada concentração.
Enquanto o patrimônio médio por adulto nas Américas era de US$ 312 mil, na América Latina era de apenas US$ 34.694. Ainda assim, o Brasil teve crescimento real do patrimônio médio entre 23% e 26,5% de 2020 a 2024.
A composição da riqueza brasileira também difere de países desenvolvidos:
- Ativos financeiros representam apenas 30% do patrimônio bruto
- Ativos não financeiros, como imóveis, têm peso maior
- A dívida representa cerca de 10% do patrimônio, abaixo da média global
O país tem 433 mil milionários em dólares, o maior número da América Latina.
Haddad alerta que à medida que essa transferência ocorrer, devemos assistir também à criação de novos milionários, com a ressalva de que o Brasil é um dos países que mais perde milionários para o exterior. “Ao enriquecer, muitos saem do Brasil. Isso é um problema”, alerta.
Desafios na gestão do patrimônio
O UBS destacou que a herança pode ser um processo complexo para os beneficiários. Nos EUA 80% das mulheres milionárias que herdaram patrimônio enfrentaram dificuldades (desconhecimento de bens ou localização dos ativos).
Cerca de 74% das que ainda esperam herdar não se sentem preparadas para gerir os recursos; enquanto quase um terço não sabe onde estão os ativos dos pais ou como serão divididos e 40% herdaram sem qualquer plano sucessório ou testamento.
Esses dados funcionam como um alerta também para o Brasil, onde a cultura de planejamento patrimonial é incipiente.
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Transferência de riqueza deve transformar perfil do investidor
Segundo Haddad, a nova geração de herdeiros tem um comportamento de investimento diferente: “O investidor que vai receber esse patrimônio tem um estilo completamente diferente dos pais. Ele já nasce antenado, globalizado, acostumado com o mundo”.
Para esse investidor, morar ou investir fora é natural, não há mais aquela barreira da saudade. É Facetime, WhatsApp, redes sociais. Haddad também destaca que isso impacta o tipo de produto financeiro que esses investidores vão buscar.
“Essa geração já entende que parte do consumo dela é dolarizado. Se não se expuser ao dólar, vai perder poder de compra, que é o objetivo principal ao investir. Eles não vão viver da herança, mas lidar com ela de um jeito como nunca vimos.”
Para ele muitos dos novos investidores já nascem expostos ao dólar no consumo e entendem a importância de preservar poder de compra por meio da diversificação internacional.
Relembra ainda que, antigamente, investir fora era visto com desconfiança. Hoje, faz parte da lógica de proteção e prosperidade. “O Banco Central tem reservas em dólar pelo mesmo motivo”, afirmou.
Haddad também destacou que investir no exterior não representa fuga de capital. Pelo contrário, permite manter a liquidez em momentos de crise interna, como ocorre em outros países com populações mais internacionalizadas.
“Pensando em termos simples: o Banco Central tem reservas em dólar para se proteger de choques externos. O consumidor global precisa fazer o mesmo”, diz Haddad. Ele acrescenta que países prósperos têm cidadãos com patrimônio fora do país, o que ajuda a suavizar crises. “Mesmo com choques locais, a população mantém consumo e liquidez porque tem parte dos ativos no exterior.”
Avenue mira novo perfil de cliente
A Avenue tem focado em clientes com patrimônio de US$ 100 mil a US$ 500 mil investidos fora do Brasil. “Esse é um cliente que consegue se autosservir, mas também recebe assessoria de qualidade”, explicou Haddad.
Segundo ele, o crescimento do investimento internacional será puxado por um movimento geracional, do jovem que começa investindo em empresas como Nvidia, Tesla, Google ou Coinbase, não em Petrobras, mudando completamente a construção de portfólios.
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CEO da Avenue fala em “diáspora patrimonial brasileira”
O CEO da Avenue, Roberto Lee, também vê essa mudança como estrutural: “Estamos vivendo o início de uma grande diáspora patrimonial brasileira. Queremos liderar esse movimento, transformar o mercado e construir, finalmente, uma alocação estrutural no exterior. É algo que terá impacto por décadas.”
Segundo Lee, muitos investidores querem garantir uma educação internacional para os filhos, o que reforça a tendência de portfólios globalizados.
Para acompanhar esse movimento, a Avenue aposta no modelo fee-based de assessoria, no qual o assessor é remunerado por um percentual do volume investido, e não por comissões.
“Não sei se será no próximo ano ou em dois, mas o fee-based será dominante. Para nós, isso já é estratégico no dia a dia. Estamos construindo toda a infraestrutura para sermos o melhor parceiro de quem quer liderar essa mudança”, afirmou.
Hoje, quatro dos dez maiores parceiros da Avenue já operam nesse modelo. A expectativa é que, em um ano, três dos cinco maiores também adotem o fee-based.
