Nas primeiras semanas de 2025, o agronegócio brasileiro passou a enfrentar um cenário de grandes desafios financeiros, refletidos num aumento expressivo nos pedidos de recuperação judicial. Dados recentes demonstram uma elevação significativa dessas solicitações, o que evidencia as dificuldades vividas por produtores rurais em todo o país. Esse fenômeno chama a atenção de empresas do setor, instituições financeiras e órgãos reguladores para o ambiente de incerteza que se instaurou.
Segundo informações da Serasa Experian, o número de pedidos de recuperação judicial no setor agropecuário atingiu 389 entre janeiro e março deste ano. Esse dado revela um crescimento de 21,5% em relação ao trimestre anterior e um avanço ainda mais acentuado de 44,6% no comparativo com o mesmo período de 2024. O movimento de alta nas solicitações demonstra como as oscilações de mercado e a restrição de crédito têm pressionado o caixa dos produtores.
Quais fatores explicam o aumento dos pedidos de recuperação judicial no agronegócio?

Os motivos que impulsionam a procura por alternativas jurídicas para reestruturação de dívidas passam, principalmente, pelas variações nos preços das commodities, pela elevação dos custos de produção e pelo aperto nas condições de crédito. Muitos agricultores relatam que a exigência por garantias está mais rigorosa, enquanto os prazos para recebimento dos valores comercializados continuam extensos. Esse descompasso entre receita e despesa gera um impacto direto na liquidez das operações agrícolas.
Além disso, a dificuldade para renegociar ou transferir dívidas agrava a situação. O acesso ao financiamento se mostra mais restrito, com instituições cobrando taxas mais altas e condicionando liberação de recursos ao cumprimento de exigências mais severas. Estes fatores contribuem para a busca por proteção judicial, sobretudo entre os produtores que trabalham como pessoa física, segmento que liderou as solicitações de recuperação judicial no início de 2025.
Como os diferentes segmentos do agronegócio foram afetados?
O levantamento da Serasa Experian aponta que alguns setores específicos concentram a maior parte dos processos de recuperação judicial. O segmento da criação de bovinos registrou 42 pedidos, enquanto o cultivo de soja somou 59 solicitações. Essas duas atividades, essenciais para a balança comercial e para o abastecimento interno, sentiram diretamente os efeitos do cenário econômico adverso.
O cenário não se limita aos produtores individuais. Empresas do agronegócio que atuam nas áreas de produção, processamento e comercialização também apresentaram, ao longo de 2025, crescimento nas solicitações. Foram 81 pedidos apenas no primeiro trimestre, mostrando que empresas agrícolas de diferentes portes buscam na reestruturação judicial uma alternativa para manter as operações ativas e protegidas das execuções por credores.
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O que é recuperação judicial e como funciona para produtores rurais?
A recuperação judicial é um instrumento legal criado para viabilizar a superação de dificuldades financeiras sem a necessidade de interrupção das atividades. No caso do agro, ela permite que produtores rurais, sejam pessoas físicas ou jurídicas, apresentem um plano de pagamento negociado com os credores, buscando garantir a continuidade do seu negócio. O procedimento é solicitado ao Poder Judiciário, que supervisiona o processo e assegura que tanto credores quanto devedores tenham seus direitos respeitados.
- Pessoa física: Agricultores individuais têm sido os principais demandantes do mecanismo, superando inclusive o número de empresas.
- Pessoa jurídica: Empresas do setor agrícola também recorrem à recuperação para organizar passivos e recuperar fôlego financeiro.
- O produtor protocola o pedido na Justiça, demonstrando incapacidade temporária de cumprir obrigações financeiras.
- É elaborado um plano de pagamento das dívidas, que pode incluir renegociação de prazos, descontos e nova estruturação dos débitos.
- Credores analisam e votam o plano em assembleia, definindo se aceitam as novas condições apresentadas.
- Após aprovação, o produtor tem prazo para honrar os compromissos sob supervisão judicial.
Especialistas do setor avaliam que, apesar do aumento no número de recuperações judiciais neste início de 2025, a proporção ainda é pequena frente ao universo de mais de 1,4 milhão de produtores rurais que buscaram crédito nos últimos dois anos. Esse dado sugere que, embora o cenário seja desafiador, a grande maioria ainda consegue administrar seus compromissos sem recorrer ao Judiciário. No entanto, o aumento nas solicitações serve de alerta para a necessidade de mais atenção à gestão de risco, à negociação com fornecedores e parceiros financeiros e à busca por alternativas sustentáveis para o financiamento agrícola.