Desde 2019, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), destinado a idosos e pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade, vem atraindo destaque não apenas pelo seu alcance social, mas também pela quantidade de irregularidades reveladas em auditorias e fiscalizações recentes. Entre janeiro de 2019 e junho de 2025, verificou-se que milhões de reais foram pagos de maneira indevida devido a falhas em processos de concessão, manutenção e monitoramento. O valor dos pagamentos irregulares registrados nesse período ultrapassa a casa dos bilhões, evidenciando fragilidades sistêmicas e ausência de respostas céleres no combate às distorções.
A gestão do BPC envolve diferentes órgãos federais: enquanto a Secretaria Nacional de Assistência Social estabelece diretrizes e monitora as políticas, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) executa as avaliações, concessões e pagamentos dos benefícios. No entanto, a existência de falhas cadastrais, acúmulo irregular de benefícios e pagamentos a pessoas que não atendem mais aos critérios legais têm sido identificados por auditorias do Tribunal de Contas da União, apontando limites nos controles internos e a necessidade de aprimoramento constante.
Como é estabelecido o direito ao Benefício de Prestação Continuada?

Para fazer jus ao BPC, é necessário que o candidato comprove possuir mais de 65 anos ou se enquadrar no critério de deficiência, além de apresentar renda familiar por pessoa não superior a um quarto do salário mínimo vigente. No caso das pessoas com deficiência, são realizadas avaliações sociais e médicas para averiguar se há limitações efetivas que justifiquem o benefício. Todo o processo é normatizado, mas depende de registros atualizados e acompanhamento permanente das condições dos beneficiários.
Eventuais revisões são essenciais para garantir a atualização das informações e evitar que pessoas que já não se encaixam nos requisitos continuem recebendo o auxílio. Contudo, a alta rotatividade de cadastros, aliada a questões operacionais, pode criar dificuldades para que todas as mudanças de situação familiar e social sejam corretamente identificadas.
Quais problemas foram constatados nas auditorias sobre o BPC?
Auditorias periódicas revelam que parte significativa dos pagamentos indevidos está relacionada a informações desatualizadas, falecimento de beneficiários sem comunicação formal ou incompatibilidade de renda familiar. Os registros apontam, por exemplo:
- Inconsistências em cadastros, como CPFs irregulares e dados familiares incompletos;
- Pagamentos realizados a titulares já falecidos ou com vínculos empregatícios não informados;
- Casos em que o BPC foi acumulado com outros benefícios previdenciários simultaneamente;
- Atraso nas suspensões após a identificação de acúmulo indevido ou superação do limite de renda legal.
Essas situações elevaram a demanda por reavaliação e ajustes nos mecanismos de controle automatizados, mas também destacaram os desafios na restituição dos valores pagos fora das regras e no fortalecimento do acompanhamento de cada caso.
O que tem sido feito para aumentar a integridade no pagamento do BPC?
O governo intensificou ações sistemáticas de conferência, com destaque para a atualização frequente dos dados em sistemas integrados e a qualificação dos registros do Cadastro Único para Programas Sociais. Tais medidas visam identificar rapidamente indícios de fraudes, situações de acúmulo de benefícios e inconsistências cadastrais, possibilitando a suspensão preventiva de valores suspeitos antes de sua liberação.
- Adoção de cruzamento eletrônico de informações em tempo real;
- Ampliação da integração entre bases de dados federais e estaduais;
- Revisão periódica de critérios de elegibilidade;
- Treinamento de servidores em detecção de irregularidades;
- Reestruturação das áreas responsáveis por benefícios assistenciais.
Com a chegada de novas tecnologias e melhorias nos sistemas de informação, a expectativa é reduzir o número de pagamentos indevidos e assegurar que o BPC atenda seu objetivo central: promover proteção social a quem realmente necessita do suporte financeiro do Estado brasileiro.
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Qual o impacto das irregularidades e os caminhos para o futuro do BPC?
O alto volume de pagamentos fora das regras representa perdas para o orçamento público e pode prejudicar a efetividade das políticas de assistência social. Esse cenário exige vigilância constante e colaboração entre os órgãos envolvidos, além de transparência nas ações de prevenção e auditoria. Ao reforçar as ferramentas de monitoramento e investir na qualificação dos processos, abre-se caminho para garantir maior confiança da sociedade no BPC e proteção a grupos historicamente mais vulneráveis da população.
Ainda que os avanços tecnológicos e institucionais tragam resultados positivos, o enfrentamento às irregularidades é um desafio permanente que depende da atuação coordenada de toda a rede de proteção social. O acompanhamento atento e o aprimoramento das políticas são fundamentais para consolidar o papel do BPC enquanto instrumento de justiça social no Brasil contemporâneo.