O Governo Federal está considerando mudanças no processo de obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) no Brasil. A proposta do Ministério dos Transportes sugere eliminar a obrigatoriedade das autoescolas, tornando o curso teórico e as aulas práticas opcionais.
Atualmente, para conseguir a CNH nas categorias A (motos e triciclos) ou B (carros de passeio), é necessário um curso teórico de 45 horas e ao menos 20 horas de aulas práticas, conforme regulamentado pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) e previsto pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
O processo tem um custo médio de R$ 3.200, dos quais cerca de R$ 2.500 são destinados à autoescola. Esse valor elevado é apontado como um dos principais obstáculos para muitos brasileiros em idade para dirigir, estimando-se que uma significativa parcela de motoristas trafega sem CNH. A proposta em análise é inspirada em modelos já adotados em países como os Estados Unidos e o Reino Unido, onde a formação de condutores é mais autônoma. Caso aprovada na forma proposta, a mudança visaria reduzir os custos em até 80%.
Quais as implicações de uma CNH sem autoescola?

Com a potencial mudança no processo de obtenção da CNH, o mercado pode experimentar uma reconfiguração significativa. A proposta permitiria que candidatos estudassem por conta própria ou optassem por contratar instrutores autônomos. Ainda assim, seria obrigatório o exame prático e teórico realizados pelo Detran, mantendo uma avaliação rigorosa para concessão do documento.
No atual sistema, os alunos completam um conjunto de aulas obrigatórias com uma autoescola antes de se submeterem aos exames regulamentares. Se a nova proposta seguir adiante, o curso poderá ser facultativo, cabendo ao candidato decidir a melhor forma de se preparar para as avaliações. Esse novo cenário poderá gerar aumento na procura por cursos online, apostilas digitais e novas plataformas de educação para motoristas.
Quais são os desafios e benefícios da proposta?
Entre os benefícios esperados com a proposta, estão a redução de custos e a agilização do processo, que hoje pode durar mais de três meses. Também existe a possibilidade de tornar o acesso à habilitação mais democrático, já que muitas pessoas deixam de tentar a CNH devido aos altos custos envolvidos.
No entanto, há também preocupações com a qualidade da formação dos motoristas, dado que o conhecimento teórico e prático pode ficar comprometido sem a estrutura oferecida pelas autoescolas. Críticos apontam para a necessidade de um debate mais amplo, considerando não apenas custos, mas também a segurança no trânsito e a eficácia das avaliações. Especialistas alertam que um processo de preparação mais livre pode aumentar o risco de acidentes caso os exames não sejam suficientes para garantir a capacitação dos novos condutores.
A experiência internacional e como pode influenciar o Brasil?
O modelo proposto pelo Ministério dos Transportes baseia-se em práticas adotadas com sucesso em países como Canadá, Uruguai e Inglaterra. Nessas nações, o foco está nas avaliações finais mais rigorosas, enquanto a formação pode ser conduzida de maneira mais livre e personalizada. Muitos jovens estrangeiros aprendem a dirigir com familiares antes de se submeterem a um exame formal exigente.
Contudo, as diferenças culturais e de infraestrutura entre esses países e o Brasil devem ser consideradas ao implementar um modelo similar, para garantir que os motoristas novos estejam adequadamente preparados para as condições de trânsito locais. O Brasil apresenta alto índice de acidentes viários e problemas de sinalização nas estradas, o que demanda atenção especial aos critérios de avaliação na nova proposta.
Impactos econômicos e no mercado de trabalho
A possível eliminação da obrigatoriedade das autoescolas poderá gerar impactos significativos no setor, com possível fechamento de empresas e necessidade de readequação dos profissionais do ramo. Instrutores de trânsito podem buscar novas oportunidades como autônomos, oferecendo pacotes personalizados a quem desejar um acompanhamento mais próximo.
Ao mesmo tempo, pode surgir um novo mercado voltado à formação independente de condutores, como aplicativos educacionais, videoaulas e materiais interativos. Os órgãos de trânsito terão o desafio de regulamentar e fiscalizar essas novas modalidades, garantindo padrões mínimos de qualidade para preservar a segurança pública e evitar fraudes no processo avaliativo.
Debate social e segurança no trânsito
A discussão sobre a flexibilização do processo de obtenção da CNH envolve não apenas aspectos econômicos, mas também sociais. Parte da sociedade teme que, sem a formação padronizada por autoescolas, o trânsito possa se tornar mais perigoso, especialmente nas regiões urbanas com alta concentração de veículos.
Por outro lado, muitos defendem que a simplificação pode expandir o acesso à CNH, promovendo inclusão social e autossuficiência para cidadãos de baixa renda. O desafio está em encontrar um equilíbrio, onde a democratização do acesso não comprometa a segurança de motoristas e pedestres nas vias públicas.
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Perspectivas para o futuro da CNH no Brasil
O tema já está em discussão no Congresso Nacional, com projetos tramitando paralelamente à proposta do governo. A decisão final ainda depende de aprovação e potencial reformulação por parte da Casa Civil, definindo como e quando as mudanças poderão ser implementadas. É possível que sejam criadas fases intermediárias para adaptação do mercado e dos órgãos fiscalizadores.
Independentemente da forma final que a reforma possa assumir, o impacto para os novos condutores e o mercado de formação de condutores poderia ser substancial. O Brasil pode estar à beira de uma modernização significativa em seu sistema de habilitação, que, se bem planejada, poderá aliar acessibilidade à segurança, garantindo motoristas preparados para enfrentar os desafios do trânsito nacional.