Por Cássio J. Krupinsk*
Desde que comecei a empreender no mundo dos tokens RWA — mercado que transforma objetos reais e palpáveis em ativos digitais —, percebi que a regulação tem sido o fator decisivo para escalar esse mercado.
Nos EUA, por exemplo, o avanço do GENIUS Act, que estabelece um marco regulatório claro para stablecoins e tokenização, tem sido um divisor de águas.
Esse marco trouxe clareza suficiente para o mercado e o crescimento do setor de RWAs nos EUA disparou 260% em 2025, ultrapassando US$ 23 bilhões e com private credit respondendo por 58% desse volume, seguido por títulos do Tesouro com 34%.
Na Europa, a regulação MiCA (Markets in Crypto‑Assets Regulation) entrou em vigor plena em dezembro de 2024, proporcionando um ambiente jurídico claro para emissores e prestadores de serviços de ativos cripto, incluindo security tokens e stablecoins. Isso permite uma padronização e harmonização entre os países-membros da UE.
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Enquanto isso, em Hong Kong, autoridades lançaram recentemente uma política de apoio à expansão da tokenização, integrando-a ao regime de licenciamento de criptoativos, abrindo caminho para tokenização de imóveis, crédito e outros ativos tradicionais.
No Brasil, embora ainda estejamos ansiosos por um arcabouço regulatório robusto, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já engrada parte do setor na Resolução 88 e na 135, enquanto o Banco Central já sinalizou a intenção de começar a regular stablecoins e tokenização de ativos que podem ter ligação com o DREX. Essa perspectiva regulatória sinaliza que em breve poderemos ver desenvolvimentos mais concretos por aqui.
Além disso, para o setor de RWA crescer de forma institucionalizada, a regulação das VASPs (Virtual Asset Service Providers) — prestadoras de serviços de ativos virtuais — é um alicerce central.
Globalmente, as diretrizes do Grupo de Ação Financeira (FATF), como a exigência do Travel Rule, impõem que provedores de serviços de ativos digitais compartilhem dados de remetentes e beneficiários, exigem KYC (conheça seu consumidor, na sigla em inglês) rigoroso, diligência contínua e monitoramento de transações suspeitas. Atualmente, cerca de 98 jurisdições já adotaram essas regras — entre elas EUA, Hong Kong, Japão e Europa.
No Brasil, a Lei nº 14.478/2022 (BVAL) entrou em vigor em junho de 2023 e estabeleceu a definição de VASP, além de obrigar registro junto ao COAF, aplicação de KYC/AML e relatório de transações.
O Banco Central do Brasil (BCB), com base no Decreto 11.563/2023, foi autorizado a regular, autorizar e supervisionar VASPs desde intermediários até custodians, e já realizou consultas públicas em novembro de 2024 sobre aspectos como critérios de autorização, operação e custódia até em jurisdições estrangeiras que têm acordos formais com o BCB.
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Esse avanço regulatório é vital para garantir que os emissores de tokens RWA operem com segurança — assegurando transparência na custódia dos ativos (como imóveis, crédito ou energia), garantindo que os emissores sejam identificados, classificados e reportem riscos financeiros. É esse ambiente robusto de compliance que viabiliza a integração dos tokens RWA ao sistema financeiro tradicional — e que permite o crescimento dimensionado e sustentável do setor.
Passando da regulação para o mercado real dos ativos tokenizados, observo uma diversificação crescente. Os segmentos imobiliário, agro e energia têm se consolidado. No mercado imobiliário, plataformas têm tokenizado centenas de milhões em fundos imobiliários e créditos imobiliários, reforçando compliance e identidade verificada dos usuários.
No setor agro, diversas iniciativas demonstram como commodities agrícolas podem ser tokenizadas para democratizar o acesso global ao investimento em safras e commodities. Já no nicho de energia, embora os dados específicos sejam mais restritos, iniciativas de tokenização de créditos de carbono e ativos verdes estão ganhando força como parte da infraestrutura ESG on‑chain, conforme mapeado no ecossistema global.
Quanto aos números, plataformas como RWA.xyz mostram que o valor total de RWAs em circulação on‑chain supera US$ 25 bilhões, com crescimento de quase 2,5% nos últimos 30 dias, e contando com mais de 333 mil holders e 257 emissores ativos.
Além disso, dados do CoinGecko indicam que o mercado total de tokens ligados a RWAs somava quase US$ 230 bilhões, com stablecoins dominando (US$ 224,9 bilhões), tesouros tokenizados (US$ 5,5 bilhões), commodities (US$ 1,9 bilhão) e crédito privado (US$ 558 milhões).
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Também noto uma corrida por infraestrutura e interoperabilidade. Protocolos como Ethereum dominam (aproximadamente 60% de market cap em RWA), mas L2s como zkSync Era e L1s como aptos ganham força, crescendo com rapidez e oferecendo escalabilidade e eficiência.
Desse modo, posso cravar que o setor RWA está em plena maturação: a regulamentação está evoluindo nos principais mercados globais (EUA, UE, Ásia), e o Brasil se prepara para acompanhar.
Os ativos tokenizados avançam em setores como crédito privado, imóveis, commodities agrícolas e energia, com plataformas e serviços robustos — como securitize — ganhando destaque global: esta empresa já gerenciou US$ 2,8 bi em títulos do Tesouro tokenizados para BlackRock e mantém mais de 70% do market share em tokens de fundos e renda fixa tokenizada.
*Cássio J. Krupinsk é CEO da BlockBR, fintech especializada na construção de infraestrutura que permite uma migração simplificada para a tokenização