O Responsible Commodities Facility (RCF), programa de financiamento de agricultores que promove a produção e o comércio responsáveis de soja livre de desmatamento, concluiu sua quarta rodada de captação do CRA Verde e levantou US$ 60 milhões em empréstimos para financiar produtores de soja no cerrado brasileiro na safra 2025/26.
O financiamento é realizado por meio de uma estrutura de blended finance, que combina recursos privados e de impacto socioambiental, atraindo novos parceiros e ampliando o alcance da iniciativa.
O cerrado é um dos biomas mais biodiversos do Brasil, mas ainda possui proteção legal inferior à da Amazônia e é vulnerável à conversão ilegal para uso agrícola.
O programa RCF atua para mudar esse cenário, oferecendo crédito a produtores que se comprometem com o desmatamento zero, inclusive abrindo mão do direito legal de conversão.
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Estrutura do financiamento para a safra de soja
O programa é financiado por Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) emitidos pela Opea (hub de soluções de crédito), listados na B3 e na Bolsa de Viena. Os CRAs Senior receberam rating “brAA (sf)” da S&P Global, equivalente a B+ na escala global.
O programa também recebeu certificações ambientais, aderindo aos Green Bond Principles e Green Loan Principles, com parecer independente (Second Party Opinion) emitido pela consultoria ambiental ERM-NINT.
A emissão dos CRAs foi coordenada pela Sustainable Investment Management (SIM), em parceria com a Opea Securitizadora, a Traive (consultoria especializada em crédito para o agronegócio) e com assessoria jurídica do Pinheiro Neto Associados.
Para Renato Barros Frascino, Head de Agronegócio da Opea, “A evolução do CRA RCF mostra o aumento de interesse dos investidores estrangeiros no financiamento do agronegócio sustentável no Brasil, ao mesmo tempo em que estruturas de securitização como o CRA se mostram um caminho para que os produtores preocupados com uma produção sustentável tenham acesso a recursos de fora do país.”
Frascino ressalta o papel da Opea como hub de soluções para crédito estruturado para facilitar a entrada de recursos de investidores estrangeiros por meio dos CRAs listados na Bolsa de Viena, além de evoluir com uma estrutura de securitização no exterior para atender a demanda de recursos.
Investidores e novos parceiros do programa
Entre os investidores do RCF estão redes de supermercados britânicas como Tesco, Sainsbury’s e Waitrose, além do Rabobank e do fundo AGRI3.
Nesta rodada, juntam-se ao programa o Mobilising Finance for Forests (MFF), gerido pelo FMO (banco de desenvolvimento holandês) e financiado pelos governos do Reino Unido e da Holanda, e também o IDB Invest.
Mauricio de Moura Costa, fundador e COO da SIM, ressalta a importância do apoio do Rabobank na diversificação da carteira, distribuição dos empréstimos e estruturação do capital em diferentes tranches, reduzindo os riscos, o que acabou garantiu o rating ‘brAA’.
No lado do Rabobank, Mário Ferreira, Head de Wholesale no Brasil, diz que ao apoiar financeiramente produtores que escolhem conservar suas reservas legais no cerrado, a instituição está investindo em um modelo de agricultura que respeita os limites do planeta e valoriza quem produz com responsabilidade.
O executivo também chama atenção para o fato de o Rabobank, ser o único banco investidor e parceiro estratégico nessa iniciativa, com originação de 75% dos produtores participantes.
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Impacto esperado na produção de soja na safra 2025/26
Com os recursos desta rodada, o programa deve beneficiar cerca de 280 propriedades rurais, com expectativa de produzir mais de 240 mil toneladas de soja livre de desmatamento e conversão de vegetação nativa.
O projeto prevê a conservação de 90 mil hectares de vegetação nativa, sendo 29 mil hectares além do exigido por lei, equivalente a mais de 22 milhões de toneladas de carbono estocadas que deixarão de ser emitidas.
Perspectivas para próximas safras de soja
Desde o seu lançamento em 2022, com investimento inicial de supermercados britânicos, o RCF tem apresentado crescimento consistente. Para a safra 2026/27, a expectativa é que o fundo ultrapasse US$ 200 milhões.
Os recursos são destinados a produtores que atendem aos critérios do programa, oferecendo empréstimos com taxas competitivas ou incentivadas, mediante o compromisso de não desmatar áreas nativas e de conservar áreas com vegetação acima da exigência legal, contribuindo para a mitigação de eventos climáticos extremos e preservação da biodiversidade.
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Governança e supervisão ambiental
A governança ambiental do programa é realizada por um Conselho Consultivo formado por especialistas de instituições como o The Nature Conservancy, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Conservation International, Proforest, IPAM, e BVRio, além de consultores independentes em finanças sustentáveis.
O conselho atua na definição de critérios de elegibilidade, acompanhamento dos resultados ambientais e avaliação das práticas sustentáveis dos produtores participantes.
Para Huib-Jan de Ruijter, Co-Chief Investment Officer do FMO, “a proposta de vincular financiamento a compromissos reais de desmatamento zero representa uma estratégia eficaz para atrair recursos e proteger ecossistemas valiosos.”