Os desafios financeiros enfrentados pelos brasileiros apresentam um panorama complexo e preocupante. Uma recente pesquisa conduzida pela Serasa Experian revela que, em média, 70,5% da renda dos cidadãos está comprometida com diversos tipos de contas a pagar. Esses compromissos variam desde faturas de cartão de crédito até contas básicas como luz, gás e internet, além de outras dívidas.
Considerando esse cenário, sobra uma quantia média de R$ 968 por mês para cobrir outras despesas e necessidades. Este dado coloca em evidência a pressão financeira sobre a população, especialmente para aqueles que dependem de uma quantidade limitada de renda disponível.
Peso das despesas no orçamento familiar

O comprometimento elevado da renda com contas e dívidas reflete uma vulnerabilidade significativa das famílias brasileiras diante de situações imprevistas. O aumento de preços em itens essenciais, como alimentos e combustíveis, influencia diretamente essa equação, tornando o orçamento ainda mais apertado. Mesmo pequenas variações nos valores das contas mensais podem desequilibrar totalmente a estabilidade financeira de milhões de lares.
Para muitos brasileiros, o pagamento de contas recorrentes empurra a realização de sonhos ou projetos de vida para um futuro indefinido. A busca por alternativas costuma passar por cortes em lazer, cultura e educação, indicando impactos não apenas econômicos, mas também sociais. Esse cenário reforça a necessidade de políticas públicas que criem redes de apoio às famílias de renda mais baixa.
Outro ponto relevante é o crescimento do consumo de crédito, frequentemente utilizado para cobrir déficits mensais. O uso descontrolado pode transformar o crédito em uma armadilha, ampliando ainda mais o ciclo de endividamento e comprometendo o orçamento futuro.
Comprometimento da renda por faixa salarial
O impacto do peso das obrigações financeiras varia de acordo com a faixa salarial, sendo mais crítico entre quem recebe até um salário mínimo. Com 90,1% da renda comprometida, sobra pouco espaço para despesas básicas como alimentação e transporte. Aqueles com rendas um pouco mais elevadas, como dois ou três salários mínimos, também enfrentam desafios, embora a folga proporcional seja maior.
Esse quadro sugere que as melhorias na qualidade de vida ocorrem de maneira lenta e gradativa à medida que aumenta a renda familiar. No entanto, ainda existe uma grande disparidade, e a margem de segurança financeira é insuficiente mesmo para quem está acima da base da pirâmide de renda. Pequenas conquistas, como o acesso ao crédito consignado, podem trazer alívio temporário, mas não resolvem a raiz do problema.
O comprometimento excessivo também limita investimentos em qualificação profissional e bem-estar, perpetuando o ciclo de baixo poder aquisitivo. Dessa forma, iniciativas que ampliem a geração de renda e promovam inclusão social ganham importância estratégica no combate à desigualdade.
Evolução dos índices de endividamento
A análise dos dados da Serasa Experian mostra uma leve melhora no índice médio de comprometimento da renda entre 2022 e 2024, passando de 72,3% para 70,9%. Esse avanço, embora modesto, aponta para efeitos positivos de políticas de estímulo econômico e melhores condições no mercado de trabalho. Porém, não elimina a necessidade de vigilância constante diante de potenciais retrocessos.
Apesar do recuo leve no comprometimento percentual, a inadimplência cresceu de maneira relevante, atingindo 77,8 milhões de brasileiros em junho de 2025. Isso significa que, mesmo com pequena folga, muitas pessoas continuam sem conseguir honrar todas as suas obrigações em dia. A combinação de alta inadimplência com margem curta acende um alerta sobre a saúde financeira da população.
Os números revelam, ainda, que quatro em cada dez brasileiros estão inadimplentes, ampliando o risco de dificuldades crônicas e restrições ao acesso ao crédito. Estratégias para conter a inadimplência devem dialogar tanto com os sintomas quanto com as causas do endividamento.
Consequências sociais e psicológicas
O impacto do comprometimento excessivo da renda vai além do aspecto financeiro, levando ao aumento do estresse, ansiedade e até depressão em parte da população. A insegurança quanto ao pagamento de contas e à capacidade de manter o sustento básico agrava situações de vulnerabilidade social e comprometimento da saúde mental.
Famílias que vivem sob pressão tendem a deixar de lado planos de longo prazo e a adotar uma postura de sobrevivência, priorizando apenas o imediato. Sem uma base sólida, a possibilidade de ascensão social e de formação de patrimônio se torna distante para milhões de brasileiros.
Essas consequências mobilizam movimentos sociais e instituições a reforçarem a importância do combate ao superendividamento e à promoção de condições mais equitativas de vida, incluindo suporte psicológico para públicos mais atingidos.
Educação financeira como ferramenta preventiva
Investir em educação financeira desde cedo é fundamental para que os brasileiros desenvolvam hábitos conscientes de consumo e poupanca. Programas educativos em escolas e comunidades podem criar gerações mais preparadas para lidar com desafios econômicos, sabendo administrar a própria renda e evitando dívidas desnecessárias.
Organizações financeiras e o setor privado também têm papel relevante, ao oferecerem recursos e treinamentos acessíveis. Campanhas de conscientização sobre uso de crédito, renegociação e orçamento doméstico contribuem com a formação de uma cultura de planejamento.
Projetos de lei que tratam da obrigatoriedade da educação financeira nas escolas vêm sendo debatidos e, se implementados, podem provocar uma transformação a longo prazo na relação dos brasileiros com o dinheiro.
O papel das políticas públicas e iniciativas de apoio
Políticas eficientes de apoio ao endividado, como programas de renegociação e alívio de juros abusivos, são cruciais para resgatar o equilíbrio financeiro das famílias. Incentivos à geração de emprego e renda, além de acesso facilitado à informação, ajudam a modificar o cenário de restrição orçamentária.
Governos e instituições financeiras precisam trabalhar em conjunto para aumentar a transparência e simplificar processos burocráticos, facilitando o acesso a linhas de crédito mais saudáveis e reduzindo o risco de superendividamento. Fiscalizar práticas abusivas também é essencial para a proteção do consumidor.
O fortalecimento de uma rede de proteção social, aliado a políticas de valorização salarial e estímulo ao empreendedorismo, pode criar um ambiente mais favorável ao desenvolvimento econômico e social, reduzindo as disparidades e promovendo mais estabilidade às famílias brasileiras.