A inflação nos Estados Unidos segue pressionada pelo aumento de custos de insumos e tarifas, com possibilidade de intensificação nos próximos meses, segundo o Livro Bege, relatório do Federal Reserve (Fed).
Dez distritos caracterizaram o crescimento dos preços como moderado ou modesto, enquanto dois relataram forte alta nos custos de insumos, acima do ritmo observado nos preços finais ao consumidor.
O relatório destacou que praticamente todos os distritos observaram aumento de preços relacionados a tarifas, além de custos crescentes em seguros, serviços públicos e tecnologia.
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Apesar da pressão de custos, muitas empresas relatam dificuldade em repassar integralmente esses aumentos aos consumidores. O relatório apontou que fatores como sensibilidade do consumidor, falta de poder de precificação e receio de perder negócios limitam a capacidade de elevar preços.
Em alguns casos, a concorrência levou até a reduções de preços. Nos distritos de Cleveland e Minneapolis, empresas relataram que tiveram de cortar preços mesmo com a elevação dos custos de insumos.
O Livro Bege também registrou que a maioria das empresas espera que a pressão inflacionária continue nos próximos meses. Em três distritos, a projeção é de aceleração ainda maior nos aumentos de preços.
Análise de mercado
Para José Maria Silva, coordenador de Alocação e Inteligência da Avenue, o relatório reforça a leitura de uma economia americana ainda resiliente, mas que começa a dar sinais de arrefecimento.
Segundo ele, a atividade segue majoritariamente estável ou em queda em alguns distritos, enquanto o mercado de trabalho, embora com desemprego baixo, já mostra indícios de desaceleração — fenômeno potencializado pelo avanço da automação.
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A inflação continua sendo o ponto de maior atenção. A dificuldade das empresas em repassar os custos mais altos das tarifas pressiona margens no curto prazo e pode, em algum momento, resultar em repasse ao consumidor. Além disso, o crescimento dos salários ocorre em ritmo inferior ao da alta de preços, ampliando a vulnerabilidade do consumo.
Outro destaque é o papel da Inteligência Artificial como vetor de dinamismo industrial, principalmente por meio de investimentos em data centers, que elevam a demanda por energia e sustentam segmentos ligados à tecnologia.
Nesse contexto, afirma Silva, o Fed mantém seu dilema clássico: sustentar o mercado de trabalho e a atividade econômica sem perder o foco no combate à inflação. A postura de wait and see — aguardar para agir — reflete a defasagem natural da política monetária e dos efeitos das tarifas sobre a economia real.
O mercado, hoje, precifica com 95% de probabilidade um corte de 25 pontos-base na próxima reunião do Fed. Essa expectativa foi reforçada pelo discurso de Jerome Powell em Jackson Hole e dificilmente será revertida, a não ser por dados de emprego muito fora da curva.
A maior incerteza, no entanto, está na trajetória mais longa. Muitos agentes projetam cinco ou mais cortes de juros até 2026, movimento que Silva considera excessivo diante da persistência das pressões inflacionárias. Segundo ele, cortes nesse volume só fariam sentido em um cenário de recessão mais profunda — hipótese que os dados atuais ainda não confirmam.