O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou na última sexta-feira (5), por unanimidade, a fusão entre BRF e Marfrig. A decisão ocorreu em sessão extraordinária e confirma o parecer prévio da Superintendência-Geral do órgão, que já havia liberado a operação sem restrições.
A transação, anunciada em 15 de maio, prevê que a Marfrig assumirá todas as ações da BRF. Em contrapartida, os acionistas da BRF receberão ações da Marfrig na proporção de 0,8521 ação da Marfrig por cada papel da BRF. A previsão é de que a operação seja concluída ainda em setembro.
O novo grupo passará a se chamar MBRF, com receita líquida estimada em R$ 152 bilhões ao ano e presença em 117 países, reunindo marcas como Sadia, Perdigão, Qualy, Banvit e Bassi.
O portfólio abrangerá carne bovina, suína e de aves, além de produtos industrializados, pratos prontos e ração animal (pet food).
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Concorrência após fusão da BRF e Marfrig
Segundo o Cade, a participação conjunta de Marfrig e BRF será inferior a 20% do mercado, abaixo do limite considerado como posição dominante.
Quando analisadas as operações complementares das companhias, a fatia de cada uma não ultrapassa 30%. Esse patamar reduz o risco de fechamento de mercado, ou seja, a limitação de acesso de concorrentes a insumos ou canais de distribuição.
Sinergias da BRF e Marfrig
As empresas estimam sinergias anuais de R$ 805 milhões, resultado da integração logística e comercial.
Entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões devem ser capturados já no primeiro ano, com o restante previsto para o médio e longo prazo.
Analistas apontam ainda que a decisão do Cade abre espaço para que a MBRF busque listar suas ações nos Estados Unidos, movimento semelhante ao realizado pela concorrente JBS em 2024.
Participação do Salic e mudança de voto
O aval unânime para a fusão da BRF e Marfrig foi possível após o conselheiro Gustavo Augusto, presidente do Cade, alterar seu voto. A mudança ocorreu depois que o Saudi Agricultural and Livestock Investment Company (Salic) vendeu sua posição acionária na BRF.
O Salic, fundo ligado ao governo da Arábia Saudita, informou em 2 de setembro que havia vendido sua fatia na BRF. No entanto, adquiriu derivativos que replicam a participação, mas sem direito a voto, eliminando influência direta na gestão.
A questão foi levantada no processo pela Minerva, concorrente da Marfrig, que apontou risco de conflito, já que o Salic também detém participação acionária em sua estrutura societária.
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Divergência no julgamento
No voto apresentado, o conselheiro Carlos Jacques destacou que a divergência entre os conselheiros era “mais simbólica que real”, já que todos concordaram com a aprovação sem restrições.
Segundo Jacques, temas relacionados a fundos de investimento são relevantes, mas deveriam ser tratados em processos próprios e informados aos interessados que não fizeram parte do caso.
Já Gustavo Augusto defendeu que a saída do Salic mudou o cenário: “Quando ela exercer essa posição é outra operação”, afirmou.