“A única trajetória viável de se constituir um patrimônio é investindo na geração de riqueza através da compra de ações a médio e longo prazo, de empresas que paguem bons dividendos”. Esse foi o principal conselho do maior investidor individual da Bolsa de Valores brasileira, Luiz Barsi Filho, já apelidado de “Rei da Bolsa” e “Rei dos Dividendos”.
O mega investidor foi a atração mais esperada do AGF DAY, evento exclusivo para investidores pessoa física, realizado em São Paulo nesta quinta-feira (18).
Durante o evento, Barsi detalhou sua visão sobre o mercado acionário, comentou sobre a tributação sobre dividendos, revelou ajustes recentes em sua carteira e critérios para obter renda por meio de dividendos. O principal é, claro, ter um bom volume de ações na carteira.
“Se não puder comprar mil ações de uma vez, como eu fiz, compre menos ações, mas compre. Compre dentro das suas possibilidades, mas ininterruptamente. Ações garantem um lote do futuro”, disse.
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Como Barsi escolhe empresas para sua carteira
Barsi destacou que o histórico de uma companhia pode estimular a compra de ações, mas que também é necessário avaliar o setor em que ela atua. Segundo ele, há setores perenes, essenciais à economia, e outros que não têm potencial de prosperar.
O investidor afirmou que analisa o histórico de gestão, os resultados passados e se a companhia mantém compromisso com seus acionistas.
Ele explica que o pagamento trimestral de dividendos é um indicador de segurança para distribuir recursos regularmente.
O que tem na carteira de Luiz Barsi
O megainvestidor revelou parte de sua carteira, que inclui Klabin (KLBN11), Santander (SANB11), Banrisul (BRSR6), Banco BMG (BMGB4) e Auren (AURE3). Segundo Barsi, essas empresas se destacam por atuarem em setores estáveis e essenciais, evitando o que ele chama de “voo de galinha”.
Ele explicou que é muito raro vender ações de sua carteira, mas quando vende, já tem algo programado para substituir. Ele revelou que está vendendo ações da Eletrobras (ELET3; ELET6) para comprar papéis da Auren (AURE3). Os papeis da Eletrobras acumularam alta de 40% em 2025, sendo negociados na casa dos R$ 53.
Ele explicou a lógica da operação: “Estou vendendo Eletrobras, a maior geradora do país, e comprando Auren, a terceira maior, que custa menos de R$ 11. Mesmo que a Auren pague menos por papel, no total eu receberei mais dividendos, porque terei maior quantidade de ações”.
A Auren foi criada em 2021 a partir da união da Votorantim Energia e do fundo canadense CPP Investments. Recentemente, adquiriu a AES Brasil por R$ 7 bilhões, o que pode reduzir o ritmo de pagamento de dividendos no curto prazo. Barsi destacou: “A companhia já mostrou consistência na remuneração ao acionista. Por isso, vejo vantagem em manter ações da Auren a um preço atrativo”.
Questionado sobre ter o Banco do Brasil (BBAS3) na carteira e a má-fase do banco, Barsi disse que também mantém investimentos em outros bancos como Banrisul e Santander, além do Banco BMG, que pagam dividendos trimestrais, o que não acontece com os investimentos do Banco do Brasil.
“Hoje o valor patrimonial do Banco do Brasil é de R$ 30, mas ele é cotado a R$ 21. Houve perda de valor por causa do resultado, mas não acredito que vá permanecer nesse patamar. Na minha visão, em dois ou três trimestres ele deve voltar a dar bons resultados”, conclui.
Dolarização do patrimônio
Questionado sobre a dolarização do patrimônio, Barsi afirmou que não investe em dólar, pois a moeda tem uma trajetória que não depende exclusivamente do Brasil, mas de muitos outros fatores, inclusive entrada e saída de recursos do país.
“É uma moeda fácil de ser controlada por quem a emite, ou seja, os Estados Unidos. Nos EUA, dólar é moeda, mas fora dos EUA, é título de crédito. Eu não investiria em dólar. Investiria, como invisto, em ações de empresas que paguem bons dividendos”.
Tributação de dividendos
Sobre a possível tributação de dividendos no Brasil, Barsi lembrou que já foram tributados no país e que atualmente a constituição proíbe um valor ser bi-tributado. Segundo ele, “é uma coisa que está se discutindo há três anos”.
Ele complementou: “Para mim [mesmo se o dividendo for tributado], não vai afetar nada. A maior parte das empresas não paga mais dividendo, paga juros sobre capital próprio (JCP), que são tributados em 15%. Quando o dividendo era tributado, muitas empresas recompravam ações e distribuíam. Se o dividendo voltar a ser tributado, acho que isso vai voltar a acontecer.”
E finaliza dizendo que “a tributação de dividendo vai inibir o investimento. “Esses argumentos pesam bastante, e têm pesado no sentido de não se aprovar a tributação do dividendos. Agora, se for tributado, você vai ter uma perda de 10%”.
Como o “Rei da Bolsa” lida com oscilações do mercado
Barsi comentou como lida com oscilações: “O mercado me ensinou muitas coisas. Me ensinou que dividendo você ganha em função de quantidade de ações possuídas, não por valor aplicado. Se tem uma empresa que paga dividendo de R$ 0,10 e você tiver uma ação, vai ganhar R$ 0,10. Se tiver um milhão de ações, vai ganhar um milhão de vezes R$ 0,10”.
Ele disse ainda que o patrimônio deve ser encarado com racionalidade: “É uma coisa que tem que ser exorcizada: o patrimônio massageia o ego, enquanto o dividendo engorda a conta bancária”.
“As pessoas se aterrorizam quando uma ação perde determinado valor, mas pode variar para baixo, como seguramente vai variar para cima também. Quem compra ações tem que fazer como eu: não me preocupo com patrimônio. Se tem desvalorização, quer dizer que vai poder comprar ações a preços melhores. É o que eu faço”.
Barsi também afirmou que sempre deu preferência para ações de empresas que tenham resultados consistentes e crescentes. “Tem muitas ações que subiram muito, mas que eu nunca teria comprado e não me arrependo. O que eu posso dizer é que eu já tive ações que eu perdi. Mas perdi um dedo, mas não perdi a mão, porque tenho uma carteira de 12 ou 13 empresas”.
Poder aquisitivo impede novos investimentos
O investidor destacou que a maior dificuldade de novos investidores é a perda de poder aquisitivo: “O poder aquisitivo que a gente tinha em 1970 para comprar 40 centavos, hoje provavelmente ele não tem para comprar 10, 20 centavos”. Por isso é que eu sugiro sempre que o cidadão, se ele não tiver condições de fazer como eu, ao comprar mil ações por mês, que ele compre menos, mas compre. “O segredo é ser um pequeno dono de um grande negócio”, diz Barsi.
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Conselhos para investidores iniciantes
Barsi ressaltou a importância do conhecimento da empresa para um investidor que está começando na Bolsa de Valores “Um dos principais fundamentos, quando você vai comprar uma ação é conhecer o estatuto da empresa, porque o estatuto é a máquina da empresa. Existem empresas que têm um cláusula estatutária que determina que seja 25% dos lucros distribuídos. Então, se a empresa tem esse dispositivo estatutário, não tem como ela não distribuir, porque ela vai distribuir. Por outro lado, tem empresas que distribuem dividendos de R$ 0,01”.