A Ambipar (AMBP3) obteve, nesta quinta-feira (25), uma medida cautelar (decisão provisória) da Justiça que impede bancos e credores de cobrar imediatamente as dívidas da companhia — mais de R$ 10 bilhões acumulados, devido a uma série de aquisições realizadas antes do ciclo de alta de juros.
Na prática, o despacho da 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, assinada pelo juiz Leonardo de Castro Gomes, funciona como um congelamento temporário de 30 dias, que pode ser prorrogado por mais 30 dias, para a empresa organizar suas finanças e evitar que fique sem caixa de uma hora para outra.
O mercado interpreta a decisão como uma espécie de pré-recuperação judicial, segundo fontes do Broadcast. Como resultado, as ações despencam mais de 58%, cotadas a R$ 4,08, às 12h20.
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A necessidade do pedido cautelar foi acelerada por eventos recentes, que aumentaram o risco de insolvência imediata. Contratos recentes de financiamento possuem cláusulas de vencimento cruzado — mecanismo que prevê a cobrança automática e imediata de dívidas caso outra seja considerada em atraso.
Um empréstimo feito com o Deutsche Bank no exterior começou a drenar o caixa da companhia. Desde a última segunda-feira (22), a empresa registrou uma saída de mais de R$ 200 milhões.
Ambipar é investigada pela CVM
A Ambipar também passa por um processo administrativo sancionador da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em sua investigação, a autarquia apura possíveis irregularidades ligadas a programas de recompra de ações.
A suspeita é que as recompras possam ter ultrapassado o limite de 10% do free float — percentual de ações em livre circulação, disponível para negociação pelos investidores em bolsa.
Desde maio do ano passado, as ações passaram por uma escalada expressiva, impulsionada por aquisições realizadas pelo controlador e por um programa de recompra da própria companhia.
Esse movimento ocorreu em paralelo a um desdobramento de ações aprovado em agosto, na proporção de 1 para 10, para ampliar a liquidez dos ativos. Desde a sessão de 5 de agosto, os papéis passaram de mais de R$ 100 para cerca de R$ 17, de acordo com informações do site E-Investidor.
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Um relatório técnico da CVM indica que parte dessas ações foi utilizada para quitar obrigações, resultando em ganhos de aproximadamente R$ 260 milhões.
O movimento de alta foi intensificado pela entrada de fundos ligados ao Banco Master e ao empresário Nelson Tanure. Este cenário desencadeou um short squeeze — valorização rápida, com investidores que haviam apostado na queda comprando ações rapidamente para cobrir suas perdas. Em dezembro de 2024, as ações chegaram a R$ 268.
Diante da intensa valorização, a área técnica da CVM levantou a hipótese de manipulação de preços e chegou a sugerir que o controlador da empresa deveria realizar uma Oferta Pública de Aquisição (OPA).
No entanto, a decisão final do colegiado da CVM, após análise e votação, dispensou a realização da OPA, contrariando a recomendação inicial da área técnica. A decisão gerou críticas no mercado.
Mudança no alto escalão
Na última terça-feira (23), as ações também caíram fortemente, após o anúncio da saída de João Daniel Piran de Arruda, diretor financeiro (CFO) da companhia.
A entrada de Arruda na Ambipar, em 2024, havia sido vista positivamente pelo mercado, conforme mostrou reportagem do site MoneyTimes. A companhia, na época, enfrentava pressão por maior clareza na comunicação com investidores.
Ricardo Rosanova Garcia foi o escolhido para assumir o cargo de CFO. Garcia já exercia a função de diretor de Relações com Investidores (DRI) e agora acumulará ambas as áreas.
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A saída de Arruda não foi a única movimentação recente no alto escalão. Na semana anterior, Pedro Borges Petersen deixou o cargo de DRI para atuar como senior advisor de operações. Ele também se desligou da função de relações com investidores da Environmental ESG Participações, empresa do grupo.