O aumento expressivo dos pedidos de recuperação judicial no agronegócio brasileiro mostra que o instrumento deixou de ser apenas uma medida emergencial e passou a fazer parte do planejamento financeiro de produtores rurais e empresas do setor.
Dados do primeiro trimestre de 2025 mostram um salto de 44,6% nos pedidos na comparação anual, com 389 casos registrados.
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Segundo especialistas, a mudança reflete uma adaptação do setor a um ambiente de crédito mais restrito, custos operacionais mais altos e juros elevados, em que a judicialização se tornou um caminho para manter as operações ativas.
Pessoa física lidera pedidos no campo
Os produtores rurais (pessoa física) foram responsáveis por 195 pedidos de recuperação judicial no trimestre, alta de 39,2% em relação ao trimestre anterior e de 83,9% frente ao mesmo período de 2024.
O perfil predominante é de arrendatários e produtores sem posse formal da terra, que enfrentam maior dificuldade de acesso a crédito e margens menores.
Entre produtores pessoa jurídica, foram registradas 113 solicitações no primeiro trimestre, contra 110 no trimestre anterior e 86 um ano antes — avanço anual de 31%.
Já as empresas da cadeia agroindustrial protocolaram 81 pedidos entre janeiro e março, alta de 15,7% na comparação trimestral e de 5,1% em relação a 2024.
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Além disso, as ações revisionais e execuções contra produtores cresceram mais de 20% no último ano, indicando que o uso do Judiciário vai além da recuperação judicial e inclui renegociações e busca por fôlego financeiro.
Recuperação judicial como ferramenta de adaptação financeira
Para Matheus Matos, sócio da MA7 Negócios, a mudança de perfil no uso da recuperação judicial mostra um movimento de adaptação: “Estamos vendo produtores recorrerem ao Judiciário como ferramenta para ganhar tempo e preservar a operação. Isso não é sinal de fragilidade apenas, mas de adaptação a um sistema de crédito que deixou de atender à realidade do campo”, afirma.
Outro fator que vem ganhando relevância é a monetização de ativos judiciais. Créditos tributários, indenizações e processos passaram a ser convertidos em capital, permitindo o pagamento de fornecedores, investimentos em tecnologia e manutenção da atividade.
O mercado de créditos judiciais, que movimenta bilhões no Brasil, já se tornou alternativa concreta para financiar o setor.
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Novo ciclo de financiamento no agro
Com o agronegócio respondendo por cerca de 30% do PIB brasileiro, o avanço da judicialização, aliado ao crescimento de instrumentos como crédito estruturado e securitização, pode redesenhar a dinâmica do financiamento rural.
Segundo Matos, o setor está passando por um processo de aprendizado. “O agro está mostrando que consegue se reinventar mesmo sob pressão. O que antes era visto como último recurso agora passa a ser ferramenta estratégica de reequilíbrio financeiro”, diz.
O desafio, agora, é transformar soluções emergenciais em estratégias permanentes, dando mais previsibilidade ao setor e fortalecendo a base de financiamento de um dos principais pilares da economia brasileira.