Na última semana, a Ambipar (AMBP3) entrou na Justiça com um pedido de proteção judicial contra seus credores para congelar quase R$ 3 bilhões. No mesmo dia, a companhia focada em soluções ambientais viu suas ações despencarem mais de 60%.
O movimento é classificado por analistas como mais um fator que adiciona insegurança aos investidores, somando-se a investigação de uma alta suspeita de 3.000% em 2024 pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a saída de executivos da Ambipar.
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Pedido de proteção judicial
A Ambipar conseguiu uma liminar judicial — decisão provisória de urgência concedida por juiz — para se proteger da cobrança de uma dívida que totaliza US$ 550 milhões (R$ 3 bilhões). Entre os credores está o Deutsche Bank, que passou a exigir garantias adicionais para os empréstimos concedidos à companhia.
A urgência da liminar se devia ao risco de que a ausência dessa proteção pudesse desencadear um efeito dominó, levando à antecipação de pagamentos por outros credores, gerando um rombo estimado em R$ 10 bilhões.
A notícia do pedido de proteção judicial teve um impacto direto no mercado, levando as ações da Ambipar a despencarem mais de 60% em apenas um dia.
Contradição nos balanços da Ambipar
O fator que mais gerou dúvidas e assustou os investidores foi a contradição aparente entre a necessidade de proteção e a situação financeira reportada.
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Em seus últimos balanços, a companhia declarava possuir mais de R$ 2,5 bilhões em caixa. Além disso, a companhia reportava cerca de R$ 2 bilhões aplicados em fundos com resgate disponível em até 30 ou 60 dias.
A presença de tal montante de recursos em caixa levantou a questão sobre o motivo da corrida dos credores e a necessidade de proteção judicial. No mercado financeiro, a credibilidade da empresa, muitas vezes, supera a importância dos números no papel.
Saída de executivos
A confiança na Ambipar já vinha sendo corroída antes da queda das ações, com a governança mostrando fragilidade com a saída de executivos. Em um curto período, o diretor jurídico, o diretor de relação com investidores e até mesmo o CFO (Chief Financial Officer), ou diretor financeiro, abandonaram a companhia.
Vasconcellos explica que, no mercado financeiro, a saída em massa de executivos raramente é vista como coincidência, sinalizando problemas sérios no horizonte.
Histórico polêmico: alta de 3.000% e o julgamento da CVM
Esta não é a primeira vez que a Ambipar se envolve em polêmicas. Entre junho e dezembro do ano passado, as ações da empresa subiram mais de 3.000%. Este crescimento foi considerado atípico para uma companhia de soluções ambientais, um setor frequentemente visto como estável.
Na época, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu uma investigação após suspeitas de que os preços das ações estivessem sendo artificialmente inflados.
O desfecho do julgamento da CVM foi marcado por controvérsia. Durante o processo, houve uma troca na presidência do órgão. O presidente anterior votou pela condenação, e o novo presidente votou pela absolvição.
Com o empate entre os demais votantes, o resultado foi decidido pelo Voto de Minerva, ou voto de desempate, que é prerrogativa do presidente. A decisão gerou debates sobre a validade do voto do presidente antigo ou do novo presidente, resultando em uma conclusão inconclusiva, pois não se comprovou que os fundos que inflaram o preço estavam agindo em conjunto com a empresa.
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O caso expõe preocupações sobre a confiança nas instituições regulatórias, especialmente quando decisões alteram o curso com a mudança de um presidente.
A mensagem percebida pelo mercado é que os números podem representar somente uma narrativa, e a linha entre solidez e fragilidade pode ser mais tênue do que parece.