Por Rodrigo Luz*
Durante muito tempo, acreditou-se que o sucesso profissional dependia quase exclusivamente das habilidades técnicas, o famoso “saber fazer”. Ter um diploma, dominar ferramentas e acumular certificações era o passaporte mais seguro para conquistar uma vaga de emprego.
Mas o cenário mudou. Cada vez mais, empresas de todos os setores reconhecem que as competências técnicas podem ser ensinadas, enquanto as atitudes e virtudes — como empatia, comunicação, resiliência e colaboração — são o que realmente diferencia um profissional.
Errar, ajustar, se abrir para aprender e se relacionar bem com as pessoas são, hoje, sinais de maturidade emocional e profissional.
O que as pesquisas dizem?
Várias pesquisas recentes comprovam essa mudança de foco. Um estudo da CareerBuilder revelou que 77% das empresas acreditam que as soft skills são tão importantes quanto as habilidades técnicas, e 16% consideram-nas ainda mais essenciais.
A Express Employment Professionals, em parceria com a Harris Poll, mostrou que as atitudes mais valorizadas pelos empregadores são disposição para aprender e confiabilidade (81%), comunicação e adaptabilidade (75%) e resolução de problemas (74%).
No Brasil, a Wadhwani Foundation descobriu que 52% dos empregadores consideram competências técnicas e sociais igualmente importantes, destacando comunicação (84%), resiliência (44%) e trabalho em equipe (40%) como as virtudes mais desejadas.
Um relatório da Wiley (Closing the Skills Gap 2023) aponta que as habilidades comportamentais mais demandadas são resolução de problemas, adaptabilidade, gestão de tempo e liderança.
Esses dados revelam um consenso global: o mercado quer pessoas com atitude. E por que as atitudes pesam mais?
- Habilidades técnicas mudam, virtudes permanecem. Ferramentas e tecnologias evoluem rapidamente. Um software que é essencial hoje pode estar obsoleto em poucos anos. Já atitudes como comprometimento, curiosidade e adaptabilidade acompanham o profissional por toda a vida.
- O comportamento sustenta a performance. Um profissional tecnicamente excelente, mas com dificuldade de trabalhar em equipe, pode comprometer resultados e clima organizacional. Por outro lado, quem se comunica bem e sabe lidar com desafios tende a impulsionar o grupo, mesmo que ainda esteja aprendendo tecnicamente.
- As empresas valorizam o aprendizado contínuo. Ser “ensinável” é uma das virtudes mais valorizadas. Pessoas com mentalidade de crescimento, aquelas que aprendem com os erros e buscam evoluir constantemente, tornam-se ativos estratégicos dentro de qualquer organização.
As virtudes mais valorizadas hoje
Com base nas pesquisas e nas práticas de Recursos Humanos (RH) contemporâneas, estas são algumas das virtudes e atitudes mais apreciadas:
- Comunicação eficaz: saber ouvir e expressar ideias com clareza.
- Adaptabilidade: lidar bem com mudanças e contextos incertos.
- Trabalho em equipe: colaborar, compartilhar e construir junto.
- Proatividade: agir antes de ser solicitado, propor soluções.
- Resiliência: aprender com os erros e manter o equilíbrio emocional.
- Ética e responsabilidade: cumprir compromissos e ser confiável.
- Capacidade de resolver problemas: analisar, decidir e agir com lógica e criatividade.
- Curiosidade e vontade de aprender: buscar evolução constante.
Essas virtudes compõem o que chamamos de maturidade comportamental, um atributo que diferencia quem somente executa de quem contribui de forma estratégica.
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O novo perfil profissional
Tudo isso nos mostra que o mercado não busca somente “funcionários”, mas pessoas com propósito, capazes de se conectar com a cultura da empresa, contribuir com ideias, respeitar diferenças e crescer junto com o time.
As atitudes certas fortalecem vínculos, aumentam a confiança e criam ambientes de trabalho mais colaborativos e produtivos. Em um mundo onde as competências técnicas se atualizam constantemente, o diferencial humano continua sendo o que nos move.
As empresas já entenderam: é mais fácil ensinar alguém a usar uma ferramenta do que ensinar empatia, ética ou disposição para aprender. Por isso, investir em autoconhecimento e desenvolvimento comportamental é tão importante quanto estudar novas técnicas.
No fim das contas, o profissional completo é aquele que une o saber técnico à inteligência emocional.
*Rodrigo Luz é Diretor Nacional de Expansão da Wiser Investimentos | BTG Pactual.